domingo, 30 de setembro de 2012

Bicho-da-seda Transgênico Produz "Teia do Homem-Aranha".


Genética da seda

Uma equipe internacional de pesquisadores criou bichos-da-seda geneticamente modificados para produzir fios com uma resistência similar aos fios das teias de aranha. Segundo os cientistas da Universidade de Wyoming, os resultados do experimento podem levar ao desenvolvimento de materiais revolucionários para a medicina e engenharia, já que a seda produzida pelas aranhas é mais resistente que o aço. Tentativas anteriores de criar aranhas para a produção comercial de sua seda fracassaram porque os aracnídeos não produzem quantidades suficientes e têm tendência a comer uns aos outros. Bichos-da-seda, por seu lado, podem ser criados em cativeiro facilmente e produzem grandes quantidades de seda, mas o material é mais frágil. A solução foi unir o melhor de cada um dos animais por meio da engenharia genética.

 Teia em volume industrial

Pesquisadores vêm tentando há anos chegar à produção de seda super-resistente em quantidades industriais, através da inserção de genes das aranhas nos bichos-da-seda, mas os animais geneticamente modificados não haviam produzido seda suficiente até agora. O estudo da equipe liderada por Don Jarvis gera um composto de seda de aranha e de bicho-da-seda - tão forte como as teias dos aracnídeos - em vastas quantidades. Os primeiros resultados da pesquisa surgiram em 2010, quando a equipe conseguiu criar os primeiros bichos-da-seda transgênicos capazes de produzir teia de aranha artificial.
Agora eles conseguiram ampliar essa produção a um nível passível de exploração comercial. 

Medicina e plásticos

Para o professor Christopher Holland, da Universidade de Oxford, a pesquisa pode tornar mais viável a produção de seda fortalecida em escala comercial. "Essencialmente, o que este estudo mostra é que os cientistas foram capazes de usar um componente da seda de aranha e fazer com que bichos-da-seda o transformassem em uma fibra juntamente com sua própria seda. Eles também provaram que este composto, que contém partes da seda de aranha e da seda do próprio bicho-da-seda, tem propriedades mecânicas melhoradas", explicou ele. Na área médica, o novo material poderia ser usado para criar suturas, implantes e ligamentos mais fortes. A seda de aranha geneticamente modificada também poderia ser usada como um substituto mais sustentável para os plásticos duros, que usam muita energia em sua produção. 

Agradecimento: Bióloga Carliane Ribeiro

Bibliografia:
 Silkworms transformed with chimeric silkworm/spider silk genes spin composite silk fibers with improved mechanical properties Florence Teulé, Yun-Gen Miao, Bong-Hee Sohn, Young-Soo Kim, J. Joe Hull, Malcolm J. Fraser, Jr, Randolph V. Lewis, Donald L. Jarvis Proceedings of the National Academy of Sciences January 3, 2012 Vol.: Published ahead of print DOI: 10.1073/pnas.1109420109

Ligação Avançada: Cabo de Fibra Ótica Ligará Fortaleza a Luanda.


Técnicos da Telebrás e da Angola Cable concluem em duas semanas os estudos do cabo submarino de fibra óptica de seis mil quilômetros que ligará Fortaleza e Luanda.

Em muitos países, a disseminação da fibra óptica nas redes de telecomunicações é fator estratégico para o desenvolvimento econômico e social. O Brasil já conta com mais de 350 mil km de fibra, principalmente nos backbones, a espinha dorsal das redes das operadoras. Mas, sem uma política pública definida e longe de dispor de uma meta para opticalização de sua infraestrutura de telecomunicações, o país precisa correr para alcançar os resultados de nações como Japão e Coreia, que em 2010 atingiram a meta de cobertura de fibra óptica em 95% dos domicílios.

A Comissão Europeia estabeleceu a "Agenda Digital para a Europa" com as metas de que, até 2020, todos os europeus tenham acesso à internet com velocidades acima de 30 Mbps e que pelo menos 50% dos lares sejam atendidos com velocidades acima de 100 Mbps.

Segundo dados do FTTX Council, havia 74,7 milhões de acessos residenciais (FTTH/B) no mundo em 2011, sendo 54,3 milhões na Ásia, 9,7 milhões nos Estados Unidos/Canadá, 5,7 milhões na Rússia e países vizinhos, 4,5 milhões na Europa e 0,52 milhões no Oriente Médio.

"Ainda temos o desafio da opticalização. Nosso objetivo é expandir os grandes backbones nacionais, que hoje atingem apenas duas mil cidades, para 95% dos municípios até 2022, dentro do que o ministro Paulo Bernardo vem chamando de PNBL 2.0. Mas, no caso do acesso, ainda não chegamos a um desenho nem a uma meta", explica Artur Coimbra Oliveira, diretor do departamento de banda larga do Ministério das Comunicações.

Criado em 2010, o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) tem por objetivo ampliar a infraestrutura e os serviços de telecomunicações, promovendo o acesso com melhores condições de preço, cobertura e qualidade. Mas a meta sempre foi acanhada: permitir o acesso à banda larga a 40 milhões de domicílios brasileiros até 2014 à velocidade de, no mínimo, 1 Mbps.

"O objetivo do PNBL 1 foi massificar o acesso, e isso está sendo feito por meio da redução de custo e do aumento da competição. No PNBL 2.0, vamos focar o aumento da velocidade com a meta de acesso mínimo de 5 Mbps, podendo chegar a 100 Mbps até 2022", assegura Oliveira. Para Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa, a fibra óptica vai avançar no País quando houver um benefício econômico para as operadoras. "Sem isso, vamos levar 30 anos para ter o País coberto por fibra", afirma.

O mercado aguardava com expectativa a Lei 12.715 que cria o Regime Especial de Tributação do Programa Nacional de Banda Larga para Implantação de Redes de Telecomunicações. Mas o artigo 34, que previa a possibilidade de projetos estratégicos gerarem créditos no Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), foi vetado pela presidente Dilma Rousseff. "Mas o regime especial prevê incentivos fiscais de PIS e Cofins para expansão e modernização de redes, desde que os projetos sejam executados com tecnologia nacional", diz Oliveira.

Para Eduardo Levy, diretor-executivo da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), qualquer desoneração é bem-vinda, mas ele adverte que as operadoras terão de submeter projetos e é possível que a contrapartida de investimentos obrigatórios seja maior do que os benefícios tributários que vão receber.

Os projetos não se restringem ao território nacional. Empresas brasileiras e estrangeiras já firmaram contratos para investir na instalação de cabos submarinos que vão ampliar a conexão do Brasil com outros países.

A fibra óptica é um filamento de vidro ou materiais poliméricos. A partir de equipamentos emissores a LED ou a laser, os sinais elétricos de dados e imagens são convertidos em pulsos de luz, que são transmitidos pela fibra. Na ponta, ficam os equipamentos eletrônicos de tecnologia WDM/DWDM (Wavelength-Division Multiplexing / Dense Wavelength Division Multiplexing), que transformam as informações de vários comprimentos de onda em um único pulso de luz, chegando a taxas de transmissão de 1,6 Terabits/s em um único par de fibras.

Desde a privatização, as operadoras brasileiras avançaram na opticalização de suas redes de transporte e praticamente todos os grandes backbones já são de fibra. O passo seguinte é a implementação de fibra no backhaul, redes metropolitanas que vão do backbone até os pontos de distribuição do tráfego. Praticamente todas as grandes cidades já têm redes metropolitanas em fibra. A última fronteira é levar o meio óptico ao acesso, correspondente à última milha da rede, que vai da central até os domicílios.

Cabos submarinos - Técnicos da Telebrás e da Angola Cable concluem em duas semanas os estudos do cabo submarino de fibra óptica de seis mil quilômetros que ligará Fortaleza e Luanda. A previsão é que as obras comecem em dois meses e estejam prontas até 2014. A capacidade e custo do projeto serão definidos no edital de licitação internacional para a realização do empreendimento.

A parceria é parte da estratégia da Telebrás de ter uma rede de cabos submarinos ligando o Brasil à África, Europa e Estados Unidos. A empresa trabalha para lançar cinco cabos submarinos - quatro internacionais e um em território brasileiro. Serão 24 mil quilômetros de rede a um custo estimado de R$ 1,8 bilhão.

"Muitos desses projetos visam a Copa do Mundo. Se não forem viabilizados, será preciso sobrecarregar a rede que já existe. Se acontecerem, folga para todo mundo", diz Sebastião Nascimento, gerente de projetos especiais da Telebrás.

A Claro, subsidiária do grupo mexicano América Móvil, constrói com a Embratel um cabo submarino com 17.500 quilômetros que vai ligar o Brasil e os Estados Unidos. A Oi também tem plano de lançar novas redes internacionais de fibra óptica além da extensão até a Colômbia do GlobeNet que liga Tuckerton, em Nova Jersey, e Boca Raton, na Flórida, a Fortaleza e Rio de Janeiro, no Brasil, St. David, nas Bermudas, e Maiquetía, na Venezuela. Outros grupos, como Seaborn Networks, EFive e Wasace Cable Company também têm projetos de novos cabos submarinos com passagem pelo Brasil. "A necessidade de banda para conexão à internet praticamente dobra a cada ano", diz Eduardo Tude, presidente da Teleco, empresa de consultoria em telecomunicações.

O projeto da Telebrás é estratégico para garantir ao país autonomia na comunicação internacional por meio de uma conexão de alta velocidade e qualidade. Hoje, 46% do tráfego de internet do Brasil vem de fora do País e 90% faz escala nos Estados Unidos. As novas rotas diretas também permitirão o barateamento dos custos de internet.

Hoje, o tráfego entre a Europa e a América Latina é 600 vezes menor do que com a América do Norte por falta de infraestrutura. A rede de novos cabos submarinos aumentará a capacidade do tráfego de informações do País, que hoje é de 1,8 Terabytes por segundo, para 32 Tbps. Apenas 500 Gigabytes por segundo são acessados via redes internacionais pelos cabos submarinos existentes.

A Telebrás também já firmou acordo com espanhola IslaLink para a execução de ações conjuntas que viabilizem a construção do cabo submarino entre América do Sul e Europa com passagem por Cabo Verde, na África. O cabo com saída para os Estados Unidos e chegada em Miami, Jacksonville ou Virgínia, passará pelo Caribe e conectará o Brasil à Colômbia e Venezuela. O projeto para o Cone Sul fará a ligação do Brasil com Argentina e Uruguai.

O investimento da Claro no cabo submarino AMX, com capacidade de 500 Gbps, será de US$ 1 bilhão. O traçado sai de Salvador, passa pelo Rio de Janeiro e Fortaleza até chegar a Miami. A previsão da operadora é concluir o projeto no primeiro trimestre do ano que vem. O grupo América Móvil integra um consórcio com operadores internacionais que já controla dois cabos submarinos: o Atlantis-II e o Americas-II, que ligam o Brasil aos Estados Unidos. "Este cabo submarino permitirá suportar o crescimento de tráfego previsto para os próximos anos", diz a operadora no Plano de Melhoria dos Serviços entregue à Anatel em agosto.

A Seaborn Networks planeja o Seabras-I, entre Nova York e São Paulo. O grupo sulafricano EFive já anunciou a construção do South Atlantic Express (SAEx), para ligar a África do Sul ao Brasil e aos Estados Unidos. A Wasace Cable Company está desenvolvendo uma série de três sistemas, dois dos quais se conectam à América Latina: o Wasace Américas e o Wasace África, integrando África do Sul, Angola, Brasil e Estados Unidos. Grupos de investimento sulafricanos também já propuseram um cabo chamado BRICs desde Vladivostok, na Rússia, a Fortaleza, no Brasil, com passagem por China, Índia, Ilhas Maurício, África do Sul e Cingapura.

O primeiro cabo submarino do Brasil, parte da primeira linha telegráfica do país, foi inaugurado em 1857, tinha 50 quilômetros, 15 debaixo d'água, e ia da Praia da Saúde, no Rio de Janeiro, a Petrópolis. Hoje, sete sistemas fazem a conexão internacional do país. Eles somam quase 100 mil quilômetros. O Americas-II, que entrou em operação em 2000, liga o Brasil de Fortaleza à Guiana Francesa, Trinidad e Tobago, Venezuela, Curaçao, Martinica, Porto Rico e Estados Unidos. Tem 9 mil quilômetros de extensão, quatro pares de fibras óticas e capacidade de transmissão de 80 Gbps. O Americas-I, que segue o mesmo traçado, foi inaugurado em 1994.

O Atlantis-II tem 12 mil quilômetros. Liga o Brasil à América do Sul, EUA, Europa e África. Pertence a um consórcio internacional formado por 25 empresas, entre elas a Embratel, custou US$ 370 milhões e tem capacidade de 20 Gbps com previsão para atingir 40 Gbps. Pelo Atlantis-II o Brasil integra uma rede digital que conecta os cinco continentes e é composta por 73 sistemas de cabos de fibras ópticas com 385 mil Km de extensão.
(Valor Econômico)

sábado, 29 de setembro de 2012

Ciência e desenvolvimento: Passo para o Futuro, Artigo de Eloi Garcia


Eloi S. Garcia é pesquisador é pesquisador e ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro da Academia Brasileira de Ciência. Artigo enviado ao JC Email pelo autor.



A crise econômica mundial emite sinais negativos a população levando-a a desesperança, descrédito e ao receio do futuro. Mas temos que ser otimistas e acreditar nos dias que virão. Devemos pensar que graças ao vigor científico e tecnológico de nosso país, podemos pensar e resolver as dificuldades juntos e acreditar que o processo de desenvolvimento está de acordo com a política nacional e se relacionando com a mundial.


O Brasil está se tornando uma referência de política, cultura e criatividade com o estabelecimento de uma democracia moderna e desenvolvimento de um modelo social que coloca a dignidade humana como ponto de referência. Além disto, temos um processo ativo de integração com a América Latina que é inquestionável e garante paz e prosperidade para a região.

Não podemos confundir que o crescimento econômico que estamos vivendo seja negativo para o bem estar da população mundial e elemento positivo para o crescimento. O nosso país está avançando, às vezes até pressionado pela crise, com realismo e decisões, e buscando com tranquilidade as soluções dos problemas. As mudanças têm que vir com o enfrentamento das necessidades para enfrentar as crises e nosso país tem importância crucial para o mundo.

Temos que aumentar, cada vez mais, nossa capacidade de educar, fazer ciência e inovar nas empresas e institutos. Devemos permanentemente estar apoiando a ciência, tecnologia e desenvolvimento, pois são de importância estratégica para o desenvolvimento do País.

A qualidade da educação, pesquisa e inovação constitui o principal fator para o crescimento a curto e médio prazo. O conhecimento e as novas ideias e hipóteses são importantes para o nosso futuro. Manter estas vantagens é dever dos pesquisadores, professores e instituições, pois elas concretizam a economia real de nosso crescimento econômico e industrial.

Não podemos diminuir os orçamentos e gastos nestas áreas, pois são investimentos básicos para continuar o desenvolvimento científico e tecnológico. Devemos aumentar a cooperação entre Universidades, Institutos de Pesquisas e Indústrias, garantir uma comunicação mais eficiente entre os cientistas e favorecer de forma mais efetiva o acesso a dados e outras estruturas de pesquisa existentes.

Atingir o inalcançável é o que queremos. O futuro é o nosso objetivo e prioridade.

Bactérias Limpam Obras de Arte

Bactérias nos quadros

Pegue uma obra de arte famosa, daquelas guardadas em museus ou igrejas há séculos, e infeste-a de bactérias.O que à primeira vez mais se parece com uma receita de vandalismo, está-se mostrando altamente eficaz para limpar pinturas famosas. Os testes estão sendo conduzidos em pinturas da Igreja de São João, em Valência, na Espanha, e nos murais do Campo Santo, de Pisa, na Itália, por um grupo de cientistas de três instituições espanholas.A aplicação das bactérias começou em meados do ano passado, em afrescos do pintor Antonio Palomino, do século 17. As primeiras avaliações mostram que o tipo adequado de microrganismo é capaz de limpar as obras de arte muito rapidamente e sem causar qualquer dano à pintura - e nem ao meio ambiente ou às pessoas.

Eflorescências salinas

 O projeto surgiu quando os pesquisadores foram encarregados de restaurar os murais da Igreja de São João, que foram praticamente destruídos em um incêndio em 1936, e indevidamente restaurados na década de 1960. Pesquisadores italianos já haviam testado o uso de bactérias para remover cola endurecida nas obras de arte. A equipe espanhola aperfeiçoou a técnica e identificou a cepa da bactéria Pseudomonas mais adequada para literalmente comer as eflorescências salinas que se desenvolveram sobre os afrescos. "Pela ação da gravidade e da evaporação, os sais de matéria orgânica em decomposição migram para as pinturas e geram uma crosta branca, escondendo a arte," explica Pilar Bosch, coordenadora da equipe.

Bactérias faxineiras

 Como os produtos químicos tradicionalmente utilizados na restauração de obras de arte têm seus próprios efeitos colaterais, o jeito é chamar as bactérias. As bactérias são incorporadas em um gel, que é aplicado sobre a pintura. Isso evita que a umidade penetre na pintura, causando novos problemas. "Depois de uma hora e meia, nós removemos o gel com as bactérias. A superfície é então limpa e seca," diz a pesquisadora. Sem o ambiente adequado do gel, as bactérias restantes morrem. E o quadro fica limpo. "Com os bons resultados dos testes, nós vamos continuar com os estudos e melhorar a técnica, com o objetivo de passá-la para outras superfícies. Como na natureza nós encontramos bactérias que comem praticamente tudo, estamos certos que poderemos eliminar outras substâncias, de diferentes tipos de materiais," conclui a pesquisadora.

Agradecimento: Bióloga Carliane Ribeiro  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Estudo levará a nova terapia do câncer de mama


 
Pesquisa, que integra amplo projeto do governo americano, identificou pelo menos 40 alterações genéticas que podem ser atacadas por medicamentos.
Um estudo publicado no site da revista Nature reclassifica o câncer de mama em quatro classes principais. Na nova classificação, os pesquisadores encontraram mutações genéticas que podem aproximar a doença de outros tipos de câncer, como o de ovário. A descoberta deverá levar a novos tratamentos com drogas já aprovadas para tumores em outras partes do corpo.
 
Um estudo publicado ontem no site da revista Nature reclassifica o câncer de mama em quatro classes principais. Dentro da nova classificação, os pesquisadores encontraram mutações genéticas que podem aproximar o câncer de mama com outros tipos de câncer, como o de ovário. O achado revela uma nova maneira de ver o câncer, que pode passar a ser definido não apenas pelo órgão que ele afeta.
 
Essas descobertas deverão levar a novos tratamentos com drogas já aprovadas para os casos de câncer em outras partes do corpo, além de novos tratamentos mais precisos no combate a anomalias genéticas que hoje não têm tratamento.
 
O estudo é a primeira análise genética ampla do câncer de mama, que mata 35 mil mulheres ao ano nos Estados Unidos e cerca de 12 mil no Brasil. "É a indicação do caminho para uma cura do câncer no futuro", disse Matthew Ellis, da Universidade de Washington, um dos envolvidos na pesquisa.
 
A pesquisa é parte de um amplo projeto federal americano, o Atlas do Genoma do Câncer, destinado a criar mapas de mudanças genéticas em cânceres comuns. O levantamento sobre o câncer de mama foi baseado numa análise de tumores em 825 pacientes.
 
A investigação identificou pelo menos 40 alterações genéticas que podem ser atacadas por medicamentos. Muitos já foram desenvolvidos para outros tipos de câncer que têm as mesmas mutações. "Nós agora temos uma boa perspectiva do que está errado no câncer de mama", disse Joe Gray, especialista em genética na Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, que não participou do estudo.
 
A nova classificação divide o câncer de mama nas seguintes classes: HER2 amplificado, Luminal A, Luminal B e basal. Essa divisão foi feita com base em dados antes não disponíveis, que identificaram novos caminhos de atuação do tumor, possibilitando aos pesquisadores novos alvos para combater a doença.
 
A maior surpresa do estudo envolveu um tipo de câncer atualmente conhecido como triplo negativo, mais frequente em mulheres mais jovens, em negras e em mulheres com genes cancerígenos BRCA1 e BRCA2. Segundo os pesquisadores, os distúrbios genéticos tornam esse tipo de câncer mais similar ao do ovário do que outros cânceres de mama. Suas células também se assemelham às células escamosas do câncer de pulmão.
 
O estudo dá uma razão biológica para se tentar os tratamentos de rotina para câncer de ovário neste tipo de câncer de mama. E uma classe comum de drogas usadas no câncer de mama, das antraciclinas, podem ser descartadas, já que não ajudaram muito no câncer ovariano.
 
Tratamentos - A classificação do câncer de mama utilizada até hoje agrupa a doença em três tipos: HER2 positivo, receptor de hormônio positivo e triplo negativo. O problema dessa classificação, de acordo com Christopher Benz, oncologista da Universidade da Califórnia, é que alguns pacientes com o tumor HER2 positivo tendem a não responder a drogas direcionadas para esse tipo de câncer. "Estávamos juntando coisas que não poderiam ser colocadas no mesmo grupo", diz.
 
Os novos resultados podem levar, por exemplo, a uma mudança na indicação do medicamento Herceptin. Embora, atualmente, ele seja aprovado para toda paciente cujo tumor está relacionado com o HER2 positivo, nem todas respondem bem. A única maneira de saber é por meio de um teste clínico que já está sendo planejado. O Herceptin é caro e pode ocasionalmente afetar o coração. "Nós desejamos dar às pacientes aquilo que pode beneficiá-las", disse Charles Perou, da Universidade da Carolina do Norte, que liderou o estudo.
 
Mutação - Como existem muitas diferentes maneiras de uma célula cancerígena da mama se comportar impropriamente, é necessário realizar dezenas de estudos de medicamentos, cada um se concentrando numa diferente mutação genética.
 
Os pesquisadores e advogados de pacientes advertem que ainda levará anos para que as novas descobertas se traduzam em novos tratamentos. Mesmo no caso de quatro tipos importantes de câncer de mama, os tumores individuais parecem ser acionados pelo seu próprio conjunto de mutações genéticas. Uma ampla variedade de drogas provavelmente será desenvolvida para ajustar os medicamentos aos tumores individuais.
 
"Existem muitos passos a serem dados para transformar a ciência básica em resultados clinicamente significativos", afirmou Karuna Jaggar, diretora executiva do Breast Cancer Action, um grupo de apoio. "Nunca houve um projeto genômico para o câncer de mama nesta escala", disse o diretor do programa, Brad Ozenberger, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA.
(O Estado de São Paulo)
 

Bancos vão financiar mais de seis mil bolsas do Ciência sem Fronteiras

 
 
Bancos vão financiar 6.500 bolsas de estudo do Programa Ciência sem Fronteiras nos próximos quatro anos. O investimento totalizará US$ 180, 8 milhões, sendo que a primeira parcela, de 10%, será desembolsada já na semana que vem pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Acordo para a doação foi assinado na última sexta-feira (21) pelos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com a Febraban. Participarão do aporte financeiro 21 bancos.
 
O presidente da Febraban, Murilo Portugal, negou que a entidade tenha interesse em obter vantagem direta para o setor bancário e disse que a participação no projeto tem o objetivo de ajudar o Brasil na qualificação profissional. "Por isso, nossas prioridades serão as que o governo definir, assim como as modalidades. É muito importante para o Brasil aumentar a qualificação profissional e a inovação nas áreas do Programa Ciência sem Fronteiras", observou Portugal admitindo, no entanto, que o programa pode ter impacto indireto para os bancos.
 
Já o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ressaltou a obrigatoriedade do retorno ao País para os estudantes que participam do programa. Ele explicou que quem obtiver notas superiores a 600 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) solicitar a bolsa do Ciência sem Fronteiras já na hora em que ingressar na universidade. "Esses alunos não serão obrigados a atuar nas áreas de qualificação, mas têm o compromisso de voltar ao Brasil. O que tem acontecido é que alguns desses alunos vão para as universidades, ficam nove meses fazendo estágio ali e depois mais três meses nas empresas, que tem tido muita satisfação porque esses são os melhores alunos do Brasil".
 
O repasse dos recursos que serão doados pelos bancos será feito gradualmente, sendo 22% em 2013, 30% em 2014 e 38% em 2015. A Febraban participará ainda do projeto ficando como membro permanente do Comitê de Acompanhamento e Assessoramento, responsável pela coordenação do programa. Participam do comitê representantes do governo federal e outras entidades do setor privado que contribuem para o projeto.
 
O programa oferece bolsas de estudo para cursos nas áreas de engenharia, tecnologia da informação, ciências exatas, ciências biomédicas, energias renováveis, tecnologia mineral e nuclear, biodiversidade, bioprospecção, ciências do mar, transição para a economia verde, nanotecnologia, biotecnologia, fármacos, tecnologia de prevenção de desastres naturais, tecnologia aeroespacial e produção agrícola sustentável.
 
O Ciência sem Fronteiras é desenvolvido em conjunto pelos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). O programa prevê o financiamento de um total de 101 mil bolsas para promover intercâmbio, em quatro anos, de alunos de graduação e pós-graduação. Dessas, 75 mil serão financiadas pelo governo federal e 26 mil com recursos privados.
(Agência Brasil)

Brasil terá via rápida para briga de patente


 
Em vez de levar os casos para a Justiça, as empresas brasileiras poderão optar por um sistema alternativo para solucionar conflitos sobre propriedade intelectual a partir de dezembro.
Responsável pelo registro de marcas e patentes, além de conduzir processos administrativos na área, o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) assinou neste mês um acordo com a Ompi (organização mundial da área) para implantar um setor de mediação de conflitos no País.
 
A entidade auxiliará na formação dos profissionais que atuarão como mediadores entre as empresas e na instalação de infraestrutura para a realização das audiências. O sistema já opera no Reino Unido, México, Cingapura e Canadá, segundo o INPI.
 
Os conflitos na Justiça impediam 2.049 marcas e 350 patentes de serem utilizadas em 2010, segundo dados mais recentes do INPI. Em 2011, o órgão recebeu 152 mil pedidos de marcas e 31 mil de patentes - aprovou 61,5 mil e 3,8 mil, respectivamente.
 
A tramitação dos processos amplifica o problema. Casos como os de pirataria ou quebras de contrato de licenciamento de marcas podem demorar até três anos na segunda instância da Justiça do Rio de Janeiro e cinco na de São Paulo (as únicas especializadas no Brasil), segundo André Mendes, advogado do escritório LO Baptista SVMFA, especializado na área.
 
"Se for para o STJ, pode demorar até oito anos", diz. Nos últimos cinco anos, o Superior Tribunal de Justiça julgou 226 casos. A decisão demorada atrasa o lançamento de produtos e a aplicação de novas tecnologias. "Quem precisa do remédio não pode esperar dez anos para o laboratório conseguir na Justiça o direito de produzi-lo."
 
Celeridade - A meta do INPI é resolver os casos em até 60 dias, prorrogáveis por igual período, diz Cristóvam Kubrusly, chefe da área de resolução de conflitos do INPI. "Quando escolhem a mediação, as partes se predispõem a definir, num tempo mais curto e com um mediador sempre próximo, algo que possa ser realmente efetivado", diz. Além da celeridade e de contar com profissionais especializados, os processos têm custos menores, segundo Mendes.
 
"Ter uma decisão mais rápida, de melhor qualidade e mais completa, faz com que o custo final seja menor." Em experiências internacionais, os mediadores cobram até US$ 300 por hora.
 
O INPI concluirá o treinamento de 80 mediadores em novembro, quando um técnico da Ompi virá ao País para passar as últimas instruções. São todos advogados com mestrado e experiência em propriedade industrial. Como os conflitos tratam de segredo industrial, a mediação precisa ser sigilosa. Por isso, o INPI instalará três salas com isolamento acústico em sua sede, no Rio. Mendes ressalva que esses procedimentos alternativos são mais pertinentes em casos que envolvam grandes valores, acima de R$ 1 milhão.
 
Em 2013, a Associação Brasileira de Propriedade Intelectual (Abpi) deve atuar em mediação e arbitragem. No ano passado, a organização mudou seu estatuto para intermediar conflitos. Neste mês, já formalizou um convênio com o NIC.br, que regula domínios de internet, para registrar casos de endereços da web.
 
Agilidade - Com novas regras, o INPI quer agilizar o registro de patentes de tecnologias verdes e de fármacos criadas por inventores brasileiros. O esforço faz parte das medidas que entrarão em vigor em novembro e que, somadas ao aumento de funcionários, elevarão a capacidade de processamento de pedidos em 30% até 2015, segundo Júlio César Moreira, diretor de patentes do INPI.
 
A meta é reduzir a fila de espera - hoje em 160 mil pedidos de patentes.
 
Os pedidos serão divididos em seis filas, conforme a prioridade na análise. As tecnologias de fármacos e produtos verdes serão sempre prioritárias e poderão "furar a fila" quando entrarem no INPI. Na sequência, virão os registros de modelo de utilidade (aprimoramento de um produto) e os de patente de invenção.
 
Em seguida, vêm as patentes de empresas estrangeiras que fazem no Brasil o primeiro registro de um produto criado no exterior. Além da organização das filas, o órgão promete, ainda neste ano, lançar um edital para repor 250 vagas - 70 para a área de patentes.
(Folha de São Paulo)

domingo, 16 de setembro de 2012

Rãs Contadoras de Fótons


            Uma única haste de célula fotorreceptora retirada do olho de uma rã foi transformada num detector extremamente sensível que pode contar fótons individuais e determinar a coerência de pulsos extremamente fracos de luz. Criado por pesquisadores de Cingapura, o trabalho poderá ser utilizado para desenvolver uma foram híbrida de detectores de luz incorporando células vivas.

            Os olhos de seres humanos e de outros organismos vivos são detectores de luz extremamente sensíveis e versáteis, que podem muitas vezes superar dispositivos artificiais. Além disso, uma haste de célula fotorreceptora de retina humana responderá a um único fóton - algo que apenas detectores mais sensíveis fabricados pelo homem são capazes de fazer. A aprendizagem de como se construir melhores detectores de luz a partir do estudo do olho humano, conduziria a uma melhor compressão das funções desse olho e isto poderia levar ao desenvolvimento de dispositivos do tipo "bioquânticos" que combinam componentes biológicos e artificiais com a finalidade de se estudar aspectos da óptica quântica, tais como o "aprisionamento" da luz.

            O estudo realizado na Agência para Ciências, Tecnologia e Pesquisa, em Cingapura, pelo grupo do Dr. Leonid Krivitsky, foi focado nas hastes de olhos da rã africana Xenopus laevis, uma espécie muito estudada por biólogos.
 

A rã africana Xenopus laevis (Cortesia: Shutterstock)

Contendo o fluxo

Cada haste de célula possui um segmento exterior que contém o fotopigmento rodopsina, uma substância que sofre uma alteração química quando exposta à luz. Quando colocada no escuro, uma corrente constante de íons sódio, potássio e cálcio fluem de dentro para fora da célula. No entanto, quando um fóton atinge a rodopsina, uma série de reações químicas são desencadeadas que desligam alguns dos canais de transporte íons. Isto causa a polarização elétrica da célula, resultando num sinal elétrico que é captado pelo sistema nervoso e retransmitido para o cérebro.

            Essas hastes individuais possuem cerca de 50 µm de comprimento e cerca de 5 µm de diâmetro. O experimento é iniciado com uma haste sendo sugada para uma micropipeta e mantida viva por imersão numa solução especial, semelhante à do olho. A micropipeta também atua como um eletrodo, permitindo assim que a corrente de íons possa ser detectada utilizando-se um amplificador de baixo ruído.

            O grupo de pesquisa usou o laser de luz verde (comprimento de onda = 532 nm) para estudar a resposta óptica das hastes individuais. O time de pesquisadores disparou diferentes tipos de pulsos de laser nas hastes e mediu a resposta. Antes de um pulso atingir a haste, a luz é dividida em dois caminhos. Um caminho continua em direção à haste e o outro vai para um fotodiodo de “avalanche”, um detector de luz extremamente sensível, capaz de sentir fótons individuais. Esta configuração óptica é usada como um interferómetro de Hanbury-Brown-Twiss, permitindo que os pesquisadores determinem a coerência da luz que chega até à haste.

Contando fótons

            O grupo de pesquisa mediu a fotocorrente produzida pela haste durante a mudança do número médio de fótons por pulso de 30 a 16.000. Como esperado, a fotocorrente aumentou como uma função do número até saturar em cerca de 1000 fótons. Também analisaram como as hastes respondiam a dois tipos de pulsos de luz: um proveniente de luz laser coerente e outro de pulso "pseudotermal".

            Os pulsos coerentes e pseudotermais apresentam diferentes distribuições estatísticas no número de fótons, os pesquisadores foram capazes de usar as hastes para detectar essa diferença. Isto significa que as hastes podem ser utilizadas como detectores altamente sensíveis da estatística dos fótons. O grupo também foi capaz de concluir que cada fóton no pulso interage com apenas uma molécula de rodopsina.

            Embora as fontes de luz utilizadas pelo time de pesquisadores serem clássicas, o fato das hastes poderem distinguir entre pulsos coerentes e pseudotermais sugerem que podem ser usadas em óptica e comunicação quântica.

A pesquisa foi publicada na revista Physical Review Letters .