Por Murilo Sérgio da Silva Julião
Neurotoxinas
são difíceis de detectar
Existem inúmeras proteínas que os químicos
analíticos gostariam de identificar numa ampla faixa de amostras. Por exemplo: seria
muito útil detectar com rapidez a presença da toxina botulínica ou de ricina,
uma proteína formada de carboidratos (lectina) e letal ao ser humano, em várias
situações como: na área médica, no meio ambiente ou no caso de um ataque
biológico. As proteínas tóxicas são notadamente difíceis de identificar, pois
além de exigirem técnicas bem complexas e laboriosas, estas não respondem com a
rapidez requerida.
Andrew J. Bonham e colaboradores, da
Universidade Metropolitana de Denver, Colorado, EUA, desenvolveram biossensores
eletroquímicos a partir de aptâmeros que demostraram aplicabilidade na detecção,
tanto da neurotoxina botulínica como da ricina. A equipe sugeriu que o
dispositivo foi suficientemente robusto e específico para a detecção da
proteína alvo em concentrações ao nível de nM (10-9 molL-1).
Além disso, as análises funcionaram em amostras diluídas de soro sanguíneo. O
grupo do Dr. Andrew J. Bonham relatou no artigo publicado na revista Chemical Communications que
esses "biossensores podem futuramente vir ajudar no diagnóstico rápido de
toxinas." A mesma abordagem poderá ser estendida para outras proteínas
tóxicas.
Toxinas Botulínica e Ricina
Os pesquisadores apontam que a bactéria
Clostridium botulinum encontrada em solos, bem conhecida pela toxina
causadora do botulismo, doença potencialmente fatal, pode ser transmitida para
o homem através de má higiene alimentar ou de agulhas contaminadas por usuários
de drogas. Embora seja conhecida também por suas aplicações como um relaxante
muscular nos campos da cosmética e da medicina, a sua potencial aplicação como
um agente de guerra biológica torna-se bastante preocupante. Os testes atuais
para a toxina botulínica dependem de inoculação em ratos ou testes de ELISA (ensaios
imunosorventes de enzimas ligadas), que têm um tempo de resposta de dois a
cinco dias. E infelizmente, o botulismo, uma vez contraído, age rapidamente e é
muitas vezes fatal num prazo muito mais curto.
Do mesmo modo, a ricina, uma proteína produzida
pelo óleo de rícino extraído da planta Ricinus
comunis, é letal para os seres humanos numa dose < 1,0 mg/Kg de
massa corporal. Também pode ser usada como um agente de guerra biológica e seus
efeitos letais podem levar de 6 a 12 horas para se manifestar. Mais uma vez, um
teste rápido no local para esta proteína seria de grande utilidade aos
militares dos serviços de emergência médica.
Aptâmeros
se ligam a um alvo específico
Na busca por testes rápidos para
analitos biológicos específicos de interesse médico, uma abordagem recente é o
desenvolvimento de biossensores que exploram uma interação altamente específica
entre o alvo e o sensor, por exemplo: sensores eletroquímicos baseados no DNA
(sensores E-DNA). Tais sensores possuem um oligonucleotídeo (ex.: DNA) que
apresenta uma sequência de “aptâmeros" que se ligam à proteína e ao grupo
eletroquimicamente ativo, como azul de metileno, que facilmente doa ou recebe
elétrons. Este aptâmero é quimicamente ligado a um eletrodo de ouro, que é
então utilizado na determinação eletroquímica do seu alvo.
A conveniência de uma única etapa deste
método permite a análise em minutos em vez de dias. Até esta data, outros
sensores deste tipo têm sido relatados para a detecção de oligonucleotídeos,
fármacos de moléculas pequenas, anticorpos e proteínas ligantes do DNA.
Detecção
sensível, mas com ambiente favorável à melhoria
A próxima etapa no desenvolvimento de
biossensores tipo E-DNA seria a definição de uma estratégia geral para
torná-los, de modo que quase toda a proteína alvo pudesse ser analisada com um
sensor específico. Nesta pesquisa, a equipe do Dr. Bonham a princípio,
desenvolveu uma técnica para ligar o aptâmero apropriado às toxinas ricina e botulínica
em tais biossensores. "Este método de inserção de aptâmeros em andaimes é muito
promissor para uma abordagem genérica", disse Bonham. Os sensores mostraram
grande sensibilidade, com valores de concentração aos níveis de 0,4 nM (± 0,2) para a toxina botulínica
e 0,7 nM (± 0,5)
para a ricina.
Estes valores de detecção para a ricina
são muito próximos da dose letal para esta toxina e por isso este biossensor
deve ser sensível o suficiente, no mundo real, para detecção clínica. Uma optimização
adicional é necessária para aumentar a sensibilidade do detector para a toxina botulínica
a um nível útil, dado que esta toxina é letal numa fração dessa concentração (níveis
< 10-12 mol/L). A equipe está trabalhando para alcançar esse
objetivo.
Referência
Electrochemical Aptamer Scaffold Biosensors for Detection of Botulism and
Ricin Toxins, Lisa Fetter, Jonathan Richards, Jessica Daniel,
Laura Roon, Teisha J. Rowland, Andrew J. Bonham, Chem. Commun. 2015.
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