segunda-feira, 29 de julho de 2013

O cientista não tem a formação necessária para fazer divulgação científica, diz especialista



Para conferencista da reunião da SBPC, os pesquisadores devem se unir a pessoas que saibam dizer o que ele quer comunicar


            O cientista não tem a formação necessária para fazer divulgação científica, por isso, precisa se unir a profissionais que conheçam de arte, como jornalistas, designers e artistas - pessoas que saibam dizer o que o pesquisador quer comunicar. A opinião é do diretor do Espaço Ciência e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Antonio Carlos Pavão, e foi dada na sua conferência 'Produção e divulgação científica: o binômio necessário', da programação da 65ª Reunião Anual da SBPC.

            Pavão acredita que a apropriação do conhecimento deveria ser social. "Temos que entender que a construção do conhecimento é coletiva", explicou. "Quando construo uma teoria alguém também trabalhou antes para o desenvolvimento da pesquisa, com outras teorias que ajudaram na conclusão do projeto." Segundo ele, produção, divulgação e ensino de ciência são termos indissociáveis.

            Para ele, a saída para que o pesquisador faça divulgação científica é aproveitar todos os espaços. "Temos que usar todos os espaços disponíveis porque tudo tem ciência: a imprensa, a publicação de artigos, a participação em eventos científicos", disse. Na opinião de Pavão, é preciso que o cientista se aproprie dos conceitos de divulgação científica, afinal o conhecimento é para ser compartilhado e discutido e não para ser propriedade de alguém.

            Para aproximar os cientistas dos estudantes e da sociedade, Pavão acredita que uma das soluções seriam palestras organizadas por museus de ciência e programas de educação. "Essas instituições deveriam ter a obrigação de gerar um caminho para divulgar o trabalho dos cientistas", defendeu. Antes, na opinião do pesquisador, a divulgação das pesquisas era mais simples, natural e clara. "Hoje, muitas vezes, nem o próprio pesquisador entende o que ele está escrevendo", brincou.

            No entender de Pavão, a produção e a divulgação científica devem ser disseminadas na sociedade. "Os cientistas precisam ser mais claros ao dar entrevistas, enquanto os jornalistas precisam se preparar melhor ao coletar as informações", disse. Para Pavão, a mídia tem um papel fundamental para a disseminação do trabalho, mas ressaltou que os profissionais da área precisam se preparar.

            Ele deu exemplos, para deixar claro o que pensa. "Quem cobre esporte sabe muito sobre o assunto, e quando vai fazer uma pergunta para um treinador, por exemplo, a faz com embasamento", disse. "A mesma coisa deve ser feita quando ele vai entrevistar um cientista. Se ele fizer uma pergunta banal, não irá tirar a melhor resposta do entrevistado." Ao mesmo tempo, Pavão acredita que o cientista deve ser claro em suas declarações. "Ninguém é obrigado a entender termos técnicos", disse. "O cientista precisa usar caminhos para que a pesquisa possa ser entendida pelo público."

            O professor da UFPE disse ainda que o sonho de todo cientista é aparecer na grande mídia. "Todos têm sonhos de que suas pesquisas sejam passadas na Rede Globo", afirmou. "Mas isso só vai acontecer se a pesquisa tiver uma grande repercussão. Ou seja, que ela tenha um grande impacto na sociedade como aconteceu com um trabalho que fiz com meu grupo ao conseguimos reproduzir os 'raios-bola' em laboratório." Segundo Pavão, essa repercussão aconteceu porque havia um grande mistério diante da bola luminosa que acontecia durante a queda de um raio. "Existiam diversas histórias, como por exemplo, que esses raios entravam nas casas e matavam as pessoas", explicou.

            O professor lembrou que, ao longo da história humana, as nações que mais se desenvolveram foram as que detinham o conhecimento, que sempre foi utilizado como sinônimo de poder. Por isso, é necessário reconhecer a importância social e política do saber científico como fator de mudança da história. Ele citou alguns fatos históricos que mudaram o rumo da humanidade, como a criação da bomba atômica e as grandes navegações realizadas por Portugal e Espanha, que buscavam cravo, pimenta e outras especiarias da Índia. "As descobertas ajudaram a desenvolver a Europa", explicou. "Os produtos eram estratégicos para esses países."

JC e-mail 4777, de 26 de Julho de 2013.
(Vivian Costa/Ascom da SBPC)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Ciência e arte são atividades com a mesma raiz humana, diz vencedor do Prêmio José Reis



Em conferência na reunião da SBPC, Ildeu de Castro Moreira listou dez mandamentos para a popularização da ciência no Brasil.

         A divulgação científica tem crescido no Brasil do ponto de vista numérico, mas ainda não é suficiente, pois os setores sociais não têm sido beneficiados. A afirmação foi feita por Ildeu de Castro Moreira, do Instituto de Física da UFRJ, na conferência "Que divulgação científica é esta? Desafios da popularização da ciência no Brasil" realizada na terça-feira, dia 23 na 65ª Reunião Anual da SBPC, no Recife.
         Os desafios da popularização da ciência no Brasil são enormes. Vencedor da 33ª edição do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, Ildeu listou dez pontos que devem ser analisados e debatidos por toda a sociedade. "É uma espécie de dez mandamentos que servem de base para pensarmos na divulgação científica que estamos fazendo e como podemos mudar", disse. Segundo ele, no Brasil se divulga ciência desde o século XIX.
         O primeiro grande desafio é melhorar a qualidade da educação científica de forma permanente. "É necessário uma campanha mais intensa, mais dura para melhorar a educação. Nossas escolas não ensinam sobre nossos cientistas, que em sua maioria tiveram e tem um papel fundamental na divulgação científica do país", afirmou. Ainda segundo ele, a história da ciência deveria ser ensinada nas universidades.
         De acordo com Ildeu, apenas 15% dos brasileiros são capazes de citar um cientista brasileiro ou uma instituição científica. "A escola básica não mostra isso aos seus alunos. Isso precisa mudar e a divulgação científica pode ajudar", afirmou. Atingir setores mais amplos, melhorar a acessibilidade e a entrada na mídia foram outras questões destacadas. De acordo com o professor, é preciso levar a ciência aonde as pessoas estão, não adianta só ter museus. "A estratégia para os próximos anos não é só criar novos espaços, mas discutir os locais. Sempre se faz dentro das universidades, vamos repensar essa ótica", propôs Ildeu, que chamou a atenção para a média de público que visita um museu no Brasil. "Estamos na escala de 180 mil pessoas, mas temos que multiplicar por dez, colocar essa meta. Mas para isso precisamos de políticas públicas direcionadas", apontou.
         A formação foi outro ponto apresentado pelo professor. Estimular a divulgação científica entre os jovens mestres e doutores é fundamental, segundo ele. "Temos que dizer a eles que isso é importante para que eles possam mostrar para a população o que estão fazendo dentro dos laboratórios. Para isso, vamos discutir outros procedimentos e até a carga didática dos cursos", opinou.

Integração ciência, cultura e arte
         Ciência e arte são atividades com a mesma raiz humana, mas com olhares diferentes. "Temos que aprender que ciência e arte podem interagir sem que uma deturpe a outra", afirmou Ildeu, que completou sua lista de desafios com a necessidade da organização de mais eventos, mais políticas públicas, menos burocracia e apropriação social da ciência.
         A apropriação social da ciência ainda não foi alcançada, de acordo com o professor. "O social deve estar ligado à inovação. Inovar significa melhorar a educação, a saúde, as condições de vida do cidadão, mas esse não é o pensamento predominante. São questões que a ciência e a tecnologia podem resolver, mas que não acontecem por falta de políticas públicas", afirmou.
JC e-mail 4775, de 24 de Julho de 2013.
(Edna Ferreira / Jornal da Ciência)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sensor químico indica concentração de ozônio no ambiente



Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araraquara, desenvolveram um novo método para medir a concentração de ozônio no ambiente. O ozônio é um composto tóxico para o homem, plantas e animais, que pode danificar diversos materiais, como borracha e corantes, e contribuir para o aumento do efeito estufa.
          Portátil, mais barato e mais fácil de ser utilizado do que outros equipamentos existentes para essa função, o dispositivo começou a ser desenvolvido durante um projeto de pesquisa, realizado com apoio da FAPESP, e resultou em uma patente, depositada com auxílio do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI/Nuplitec), da FAPESP.
          “Realizamos uma pesquisa sobre sistemas analíticos para determinação de ozônio no ambiente e vimos que existiam poucos métodos químicos para essa finalidade”, disse Arnaldo Alves Cardoso, professor do Instituto de Química da Unesp de Araraquara e autor do projeto, à Agência FAPESP.
          “Com base nessa constatação, buscamos desenvolver, a partir do início de 2000, um novo método químico para determinação da concentração de ozônio em ambiente. O método é mais indicado para realizar medidas pontuais em ambientes internos, por exemplo, para as quais não vale a pena adquirir equipamentos eletrônicos existentes hoje, que são sofisticados e caros”, disse Cardoso.
          O sensor desenvolvido é baseado na reação do ozônio com o índigo – corante utilizado na indústria têxtil para tingir tecidos, como o jeans, e na indústria alimentícia para conferir a cor azul anil a balas, chicletes e sucos em pó –, que, na presença do composto, se oxida e descolore.
          Um filtro de celulose impregnado com índigo, em formato circular e com apenas 2 cm de diâmetro, é inserido dentro de uma seringa descartável de plástico com etilenoglicol – substância que aumenta a umidade do filtro e, dessa forma, facilita a reação do ozônio com a superfície do material.
          A aspiração do ar por meio da seringa faz com que ozônio presente provoque a descoloração do índigo contido no filtro de celulose. Dessa forma, quanto maior a concentração de ozônio na amostra de ar coletada de um determinado ambiente, mais clara será a tonalidade do papel.
          Inicialmente, o índigo restante ao final da amostragem era extraído e sua cor determinada por um colorímetro – equipamento que mede a intensidade de cores. Mais recentemente o método foi adaptado para fazer a leitura diretamente no filtro por meio de uma escala de 30 tons de azul, elaborada pelo doutorando Gabriel Garcia a partir de imagens digitalizadas de filtros contendo índigo e que pode ser impressa em qualquer impressora comercial.
          Após algumas horas de duração do teste, a coloração final do filtro é comparada com a escala na qual cada intervalo corresponde a uma concentração de, aproximadamente, 3 ppb (partes por bilhão) de ozônio. Se a diferença entre a cor inicial e a final do filtro de celulose corresponder a 20 tons da escala, por exemplo, a concentração de ozônio na amostra de ar coletada será de, aproximadamente, 60 ppb – medida considerada alta.
          “Por meio da tabela de variações de tons de índigo elaborada pelo Gabriel é possível fazer comparações visuais para saber qual a concentração de ozônio em um determinado ambiente”, disse Cardoso.
Comparações de equipamentos
          Os pesquisadores compararam o desempenho do novo método químico com o equipamento utilizado por órgãos responsáveis pelo monitoramento da qualidade do ar – como o da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), em São Paulo – para determinar as concentrações de ozônio na atmosfera em ambientes abertos. Para isso, usaram um equipamento semelhante ao que possuem no Instituto de Química da Unesp de Araraquara e que foi adquirido com recursos da FAPESP.
          Os experimentos, realizados no campus da Unesp em Araraquara, revelaram que os resultados das medições feitas com o sensor químico foram muito próximos das realizadas com o equipamento eletrônico, que custa cerca de US$ 10 mil.
          A diferença entre eles, no entanto, é que enquanto o equipamento eletrônico faz as análises e indica a concentração de ozônio em tempo real, o sensor químico, que custa cerca de R$ 400, fornece a concentração média de um determinado dia, após algumas horas de duração do teste.
          “O sensor que desenvolvemos não substitui totalmente os equipamentos eletrônicos utilizados para medir concentração de ozônio na atmosfera”, ressalvou Cardoso.
          “O equipamento eletrônico indica a concentração de ozônio no ambiente minuto a minuto e, dessa forma, possibilita observar variações rápidas. Já o nosso método permite observar se a concentração de ozônio em um determinado local está alta ou baixa e saber qual o valor médio”, comparou.
          Por ser uma opção mais barata e portátil, segundo o pesquisador, o sensor pode ser uma alternativa para monitorar lugares distantes dos grandes centros urbanos – uma vez que o ozônio está deixando de ser um problema exclusivo das metrópoles – e ambientes internos, que também passaram a gerar o composto.
          Como o ozônio possui propriedade bactericida, eliminando microrganismos da água e do ar e compostos orgânicos que geram odores desagradáveis, como o de cigarro, o gás passou a ser produzido nos últimos anos em uma ampla gama de eletrodomésticos: purificadores de ar, máquinas de lavar roupas e ventiladores, além de lâmpadas germicidas. Além disso, vem sendo misturado na água de piscinas, aquários e utilizado como desodorizante de ambientes e fungicida de grãos.
          Dessa forma, os ambientes internos passaram a contribuir para aumentar a concentração e a exposição das pessoas ao gás, que, em ambientes externos, é formado na atmosfera a partir de reações químicas envolvendo a luz solar, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis emitidos na evaporação de combustíveis, dos escapamentos dos veículos e até mesmo pela vegetação, como florestas de eucalipto.
          “O grande problema da geração de ozônio em ambientes internos é que ela será somada à produzida em ambientes externos e potencializará a concentração do gás no ar. E isso não se aplica só ao caso deste poluente”, afirmou Cardoso.
Falta de legislação
          Outro problema apontado por Cardoso é que, enquanto há uma legislação bastante rigorosa em cidades como São Paulo para limitar a geração de ozônio em ambientes externos, de modo a não afetar a qualidade do ar, ainda não existem normas que regulem a geração do gás tóxico em ambientes fechados, a despeito do uso “doméstico” cada vez maior do composto.
          Além disso, segundo Cardoso, ainda não se sabe exatamente a quantidade de ozônio gerada pelos eletrodomésticos geradores do gás e qual a concentração residual do composto em ambientes fechados após a utilização desses equipamentos.
          “A falta de especificações técnicas desses equipamentos e de uma legislação que controle a geração de ozônio em ambientes fechados são problemas muito sérios que precisam ser discutidos”, afirmou.
          De acordo com o pesquisador, os valores-limites de concentração de ozônio em ambientes fechados devem ser os mesmos estabelecidos pelos órgãos responsáveis pelo monitoramento da qualidade do ar para ambientes fechados.
          No final de abril, a Cetesb, por exemplo, baixou um decreto estadual que reduziu de 70 para 50 ppb a concentração máxima tolerável de ozônio na atmosfera do Estado de São Paulo em um intervalo de 8 horas.
          Em medições realizadas com o sensor químico em Araraquara, no entanto, os pesquisadores da Unesp detectaram concentrações de ozônio no ar de até 85 ppb e constataram que a quantidade do gás no ar da região aumenta no meio e no final do verão e durante o período da queima da cana-de-açúcar. “A queima de biomassa aumenta a emissão de compostos na atmosfera que favorecem a formação de ozônio”, explicou Cardoso.
          Já na cidade de São Paulo, que possui a maior frota veicular do país, só em 2012 a concentração de ozônio na região do Parque do Ibirapuera ultrapassou 36 vezes a marca de 81 ppb, segundo dados da Cetesb.
          “Apesar de os carros contarem com catalisadores, como a frota aumenta cada vez mais e, com o passar dos anos, a velocidade média dos veículos vem caindo, está se emitindo muito mais compostos para a atmosfera na cidade que provocarão a formação de ozônio”, disse Cardoso.
          O sensor desenvolvido na Unesp já despertou o interesse de algumas empresas que trabalham com geração de ozônio, mas ainda não está sendo comercializado, em grande parte por causa da falta de legislação que estabeleça limites de geração do composto em ambientes internos.
          Para facilitar seu uso em ambientes fechados uma alternativa já desenvolvida é um sistema em que pequenos filtros impregnados com índigo são colocados dentro de um recipiente aberto e, após algumas horas, retirados para analisar sua coloração e medir a concentração de ozônio. Neste caso não é necessária a utilização de equipamento para aspiração do ar porque o contato do ar ambiente com o índigo é suficiente para provocar a descoloração.
          “O sensor ainda não foi comercializado para ser aplicado em ambientes fechados por falta de demanda de mercado. Mas, independentemente disso, temos buscado desenvolver métodos químicos que façam a determinação de ozônio de forma mais simples, barata e acessível”, disse Cardoso.
11/07/2013

Por Elton Alisson

terça-feira, 16 de julho de 2013

EUA Apresentam Robô Humanoide para Atuar em Emergências

A Darpa, agência de desenvolvimento tecnológico do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, apresentou seu robô Atlas.
Com dois braços, duas pernas, 1,80 metro de altura e 150 quilos, tem o que seus criadores chamam de "antropometria quase humana".
O robô está sendo desenvolvido para atuar em situações de emergência onde atividades normalmente desempenhadas pelo corpo humano - como acionar alavancas, apertar botões ou abrir portas - são necessárias, mas onde pessoas de carne e osso não teriam chance de sobreviver, como acidentes graves em instalações nucleares.
A Darpa estabeleceu um prêmio de US$ 2 milhões para que equipes de pesquisadores criem softwares para ensinar ao robô a fazer coisas como fechar válvulas ou acionar interruptores.
Durante a apresentação ao público, o Atlas moveu as mãos como se estivesse dando cartas numa mesa, e caminhou. O robô foi projetado pela empresa Boston Dynamics.
De acordo com reportagem sobre o robô publicada no jornal The New York Times, embora sistemas robóticos - softwares - já sejam capazes de pilotar aviões ou guiar automóveis, a complexidade envolvida em comandar de um corpo semelhante ao humano é muito maior, e ainda deve demorar para que modelos baseados no Atlas possam realmente ir a campo.
Gill Pratt, um administrador da Darpa, mencionou os 19 bombeiros americanos que morreram em ação no Arizona, na semana passada. "Muitos de nós, no campo da robótica, vemos eventos assim no noticiário, e o que nos comove profundamente é um sentimento de, não poderíamos fazer melhor?", disse.
Pratt disse que a versão atual do Atlas é como uma criança de um ano de idade, mas deve aprender depressa.
Fonte: Carlos Orsi em 15/07/2013

Laser Substitui Furadeira e Serra em Cirurgia Craniana

Quando o cérebro começa a inchar depois de um acidente vascular cerebral, a cirurgia é frequentemente a única opção de tratamento - uma cirurgia que consiste em abrir o crânio do paciente para drenar o acúmulo de líquido.
Laser substitui furadeira e serra em cirurgia cranianaE, em termos de ferramentas para realizar a incisão, as únicas opções são furadeira e serra.
Em breve, contudo, o crânio poderá ser cortado com muito maior precisão, e menor risco para o paciente, usando um feixe de laser.
Pesquisadores do Instituto de Microssistemas Fotônicos, na Alemanha, criaram microespelhos que cobrem uma superfície muito maior do que os atuais, permitindo guiar feixes de laser de grande diâmetro.
O feixe de laser é levado até o instrumento de mão através de um braço espelhado articulado. Seu núcleo consiste de dois novos tipos de microespelhos.
O primeiro faz a incisão no crânio - ele dirige o feixe de laser de forma dinâmica ao longo dos ossos do crânio. O segundo ajusta qualquer mau posicionamento.
A novidade é que os componentes são miniaturizados, podendo tolerar lasers com potência de até 20 watts - o que é cerca de 200 vezes mais do que os microespelhos convencionais.
Além disso, os espelhos - que medem 5 x 7 milímetros e 6 x 8 milímetros - são muito grandes e, assim, também podem orientar feixes de laser de grandes diâmetros. Para comparação, os microespelhos atuais medem entre 1 e 3 milímetros.
Enquanto o painel de silício dos microespelhos convencionais é espelhado por uma camada de alumínio medindo 100 nanômetros de espessura, os novos microespelhos têm suas camadas reflexivas aplicadas eletricamente diretamente sobre o substrato.
Na faixa visível do espectro, os novos espelhos refletem não apenas 90% do feixe de laser, como acontece hoje, mas 99,9%.
Preocupado com um médico disparando um laser na sua cabeça? Pode ficar tranquilo, porque o controle do laser é muito mais preciso do que uma furadeira e uma serra na mão mesmo do mais talentoso cirurgião - sobretudo quando o assunto é a hora de parar de furar e cortar.
Fonte: Site Inovação Tecnológica. Acessado em 16/07/2013;

Vídeo Holográfico Alcança Resolução de TV

Vídeo holográfico alcança resolução de TV
Pela primeira vez, vídeos holográficos foram produzidos com resolução equivalente a uma TV comum. [Imagem: Daniel Smalley]
Uma nova técnica para a geração de hologramas está prometendo não apenas mostrar vídeos holográficos coloridos com a mesma resolução das TVs, como também beneficiar as telas 2D comuns, como as de monitores de computador e das próprias TVs.
Além dos excelentes resultados preliminares obtidos, a nova técnica é baseada em materiais de baixo custo.
Daniel Smalley e seus colegas do MIT, nos Estados Unidos, construíram um protótipo de tela holográfica colorida cuja resolução é aproximadamente a de uma TV de definição padrão, o que é muito melhor do que qualquer vídeo holográfico visto até hoje.
O projetor holográfico pode atualizar as imagens de vídeo 30 vezes por segundo, rápido o suficiente para produzir a ilusão de movimento suave.
Holografia optoacústica
O coração do projetor holográfico é um chip híbrido que manipula ondas de som e ondas de luz.
Mas o que mais chama a atenção é que Smalley construiu esse chip nos laboratórios da própria universidade, a um custo de cerca de US$ 10.
"Todo o resto lá custa mais do que o chip. A fonte de alimentação custa mais do que o chip. Os plásticos custam mais do que o chip," resume o professor Michael Bove, coordenador do trabalho.
Isto foi possível graças à adoção de uma técnica, chamada modulação optoacústica, que é diferente da tradicionalmente usada em holografia.
Na holografia optoacústica - ou, mais precisamente, acústico-óptica - ondas sonoras geradas com precisão são disparadas através de um pedaço de material transparente para alterar sua estrutura:
"As ondas basicamente comprimem e esticam o material, mudando o índice de refração. Então, se você dispara um laser através dele, [as ondas] irão difratar a luz do laser," explica Bove.
Basta então alterar as ondas sonoras para manipular as ondas de luz com precisão.
Vídeo holográfico alcança resolução de TV
As frequências das ondas acústicas passando pelo cristal determinam quais cores vão passar e quais serão filtradas. [Imagem: Daniel Smalley/MIT Media Lab]
Manipulação da luz com som
Esta técnica acústico-óptica já foi usada em outros protótipos de projetor holográfico, mas usando um material muito caro e difícil de produzir, chamado dióxido de telúrio.
Os pesquisadores agora usaram um cristal muito menor e de um material barato, chamado niobato de lítio.
Logo abaixo da superfície do cristal, Smalley criou canais microscópicos, conhecidos como guias de onda, que confinam a luz. Em cada guia de onda, ele depositou um eletrodo de metal, que vibra para produzir uma onda acústica.
Cada guia de ondas corresponde a uma linha de pixels na imagem final. Como eles são muito pequenos, e podem ficar a apenas alguns micrômetros uns dos outros, a resolução do vídeo pode ser bastante elevada em relação aos projetores anteriores.
Feixes de luz vermelha, verde e azul são enviados a cada guia de ondas, e as frequências das ondas acústicas passando pelo cristal determinam quais cores vão passar e quais serão filtradas.
Tecnologia para telas 2D
A grande vantagem da técnica é a simplicidade.
Por exemplo, combinar vermelho e azul para produzir roxo, não exige um guia de ondas separado para cada cor - tudo o que é necessário é gerar uma onda acústica com padrão diferente.
"Até agora, se você queria construir um modulador de luz para um projetor de vídeo, para uma tela LCD ou algo parecido, você tinha de manipular a luz vermelha, a luz verde e a luz azul separadamente," compara Bove.
"Se você olhar atentamente para um painel LCD, cada pixel na verdade tem três filtros de cores. Há um subpixel vermelho, um subpixel verde e um subpixel azul.
"Primeiro de tudo, isto é ineficiente, porque os filtros, mesmo que fossem perfeitos, iriam desperdiçar dois terços da luz. Mas, em segundo lugar, isto reduz ou a resolução ou a velocidade com que o modulador pode operar," conclui o pesquisador, ressaltando que é por isso que a nova técnica de vídeo holográfico também poderá ser usada nas telas 2D convencionais.
Bibliografia:

Anisotropic leaky-mode modulator for holographic video displays
D. E. Smalley, Q. Y. J. Smithwick, V. M. Bove, J. Barabas, S. Jolly
Nature
Vol.: 498, 313-317
DOI: 10.1038/nature12217

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A ascensão dos blogues de ciência



Cada vez mais numerosos, respeitados e bem pagos, eles conquistam espaço relevante na divulgação científica.


        Blogueiros presentes na 8ª Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência falam sobre o bom momento vivido pela blogosfera científica e estimulam cientistas e jornalistas a se aventurarem nessa arena.

(imagem: Svilen Milev/ Sxc.hu)

          Eles são independentes, remunerados, escrevem sobre o que querem e têm a qualidade do seu trabalho cada vez mais reconhecida. Se você ficou com inveja – eu fiquei! –, este é um bom momento para iniciar seu blogue de ciência.
          Com espaço de destaque na programação da 8ª Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, realizada na semana passada em Helsinque, na Finlândia, os blogueiros de ciência mostraram que vieram para ficar. Em menos de 10 anos, conseguiram, com um trabalho original, consistente e capaz de se espalhar rapidamente pela rede, consolidar um canal cada vez mais relevante na comunicação da ciência.
          O prolífico e premiado escritor de ciência britânico Ed Yong se destaca nesse meio. Autor de matérias publicadas na Nature, BBC, New Scientist, Wired, no Guardian, Times, entre outros, Yong – também ativo no Twitter e no Facebook – habita a blogosfera científica desde 2006, quando ela ainda era um território amorfo e pouco respeitado.
          Seu disputado blogue ‘Not Exactly Rocket Science’, iniciado em carreira solo no Wordpress e com passagens pelo ScienceBlogs e pela revista Discover, encontra-se atualmente na National Geographic, onde divide espaço com três congêneres – entre eles o ‘The Loom’, de Carl Zimmer, outro fenômeno da blogosfera científica. Os quatro blogues compõem a seção virtual da publicação chamada ‘Phenomena’, descrita como um science salon (algo como ‘salão de ciência’).
          O ‘Not Exactly Rocket Science’ – pelo qual Yong, segundo ele mesmo, ganha bem – é seu espaço de experimento e de lazer, e também o lugar de divulgar, “com total independência”, o trabalho que publica em outros meios.

Formado em ciências naturais e mestre em bioquímica, Yong deixou a bancada para se dedicar ao que gosta mais de fazer: ‘falar sobre o imponente, bonito e peculiar mundo da ciência, para o maior número possível de pessoas, independentemente de sua formação’. (montagem a partir de @WCSJ2013)

Mudança de paradigma
          Na conferência, Yong falou sobre as significativas transformações pelas quais vêm passando os blogues de ciência desde que estreou nessa arena. À guisa de ilustração, contou um caso antigo: certa vez, ao ler um comunicado de imprensa (press release) sobre estudo publicado em determinado periódico, entrou em contato com a assessoria da publicação e pediu a íntegra do artigo, para ouvir da assessora que o material que tinha era mais que o suficiente para um blogue.
          Não que o preconceito em relação aos blogues tenha desaparecido por completo, mas, para quem acompanha a blogosfera de ciência, em especial a em inglês, é inegável que seu prestígio venha aumentando. Não é raro ver cientistas renomados – inclusive laureados com o Nobel – enveredando por essa seara. Também se torna cada vez mais comum o uso desse espaço para discussões de alto nível científico, que já chegaram a resultar em revisões e erratas de artigos em periódicos de grande impacto.
          Na avaliação de Yong, muito do fortalecimento dos blogues de ciência se deve ao jornalismo científico de baixa qualidade.
          Na avaliação de Yong, muito do fortalecimento dos blogues de ciência se deve ao jornalismo científico de baixa qualidade. Segundo ele, vários surgiram para corrigir erros científicos divulgados na mídia. Nesse sentido, ressaltou a importância da precisão e do rigor científico nesse meio, cláusulas pétreas do ‘Not Exactly Rocket Science’.
          Yong chegou a dizer que o processo de preparação de um post em seu blogue é “exatamente” o mesmo que o de apuração para a escrita de uma matéria jornalística, sendo a única diferença a presença de um olhar mais pessoal no primeiro.
          Sua colocação traz à tona a velha discussão sobre a diferença entre fazer jornalismo e blogar. Apesar de valorizar ambas as iniciativas e considerá-las igualmente relevantes para a comunicação da ciência, há quem ainda veja uma distinção significativa – e saudável – entre uma coisa e outra. Yong, que deu a entender que já está cansado de discutir a questão, não se aprofundou muito nela.

Trabalho coletivo
          Para Betsy Mason, editora de ciência da revista Wired, algumas características intrínsecas aos blogues os distinguem do jornalismo científico tradicional, como as diversas possibilidades de ângulos a serem exploradas, o tom pessoal e a independência editorial. Por outro lado, ela destaca aspectos importantes e comuns a ambos, como a ética e a transparência.
          Na avaliação de Mason, a última campanha da Wired para angariar novos blogues é um exemplo de como a blogosfera de ciência vem crescendo e se diversificando. A revista recebeu 113 propostas, sendo 50% de cientistas e 25% de jornalistas; 50% eram homens e 47%, mulheres; 42% ainda não tinham blogues; e 31% eram de fora dos Estados Unidos, país natal da revista.
          Atualmente, a Wired conta com 10 blogues de ciência, sobre temas diversos, um deles coescrito pela própria Betsy Mason, que compartilha com os leitores sua obsessão por mapas. Todos são remunerados.
          No Guardian, são 13 blogues de ciência, cobrindo temas igualmente variados. Também há remuneração pelo trabalho – os autores ganham um percentual do que suas páginas arrecadam com anúncios. “Não é muito, mas é um bom complemento”, diz Alok Jha, repórter de ciência do jornal, sem falar em cifras.
A ascensão dos blogues de ciência foi tema de plenária na Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência. Na foto, Bora Zivkovic fala sobre sua experiência à frente de 63 blogues de ciência mantidos pela revista ‘Scientific American’. A seu lado (da esq. para a dir.), Alok Jha, do ‘Guardian’, o blogueiro independente Ed Yong e Betsy Mason, da ‘Wired’. (foto: @WCSJ2013)

          Segundo Jha, que também faz a sua parte dentro do segmento, a inclusão de blogues no site do jornal britânico é uma forma de neutralizar o ponto de vista do veículo, de incluir outras visões que representem de alguma forma os leitores, tanto do Reino Unido quanto de outros cantos do mundo.
          Se alguém ainda tem dúvida de que a blogosfera científica esteja crescendo, tome essa: a Scientific American contabiliza 63 blogues de ciência em sua página na internet! Difícil imaginar como Bora Zivkovic – que, além de editor da trupe de blogueiros, também tem um blogue para chamar de seu – lida com isso.
          Zivkovic ressalta que, ao escrever para uma revista de nome forte como a Scientific American, os pesquisadores só têm a ganhar: com acesso a todo o conteúdo da publicação, total independência e a grande visibilidade proporcionada, o que mais gostariam?
          Então, quando vai lançar seu blogue de ciência?

Carla Almeida*
Ciência Hoje On-line
*A jornalista viajou para Helsinque a convite da Federação Mundial de Jornalistas de Ciência (WFSJ, na sigla em inglês)