domingo, 24 de março de 2013

22 de Março: Dia Mundial da Água




Por Murilo Sérgio da Silva Julião
 

Todos os anos comemora-se em 22 de março o dia mundial da água, porém é interessante frisar que a obtenção de água limpa e cristalina ainda custa muito pouco para as pessoas que tem acesso à água tratada e não dão o devido valor a esse bem finito.

 
            Cada pessoa no Brasil, em média, utiliza de 120 a 190 litros de água todos os dias; dependendo da região em que ela more; para beber, lavar, cozinhar, tomar banho etc. As companhias e/ou empresas de saneamento fornecem água e ao mesmo tempo devem assegurar que a mesma não contenha qualquer contaminante químico ou biológico que poderia ser perigoso para nossa saúde.
 
            No Brasil, cerca de 2/3 de nossa água potável é proveniente de fontes superficiais, isto é lagos, represas e rios e cerca de 1/3 é proveniente de fontes subterrâneas. As águas subterrâneas estão localizadas nos aquíferos, que são formados quando as águas de chuva penetram através dos poros de formações rochosas tais como arenito ou gesso. As companhias de água extraem a água perfurando poços ou de fontes naturais. O processo de tratamento depende da proveniência da água. Por exemplo, águas subterrâneas de boa qualidade necessitam somente serem desinfetadas, entretanto algumas águas subterrâneas e superficiais necessitam de tratamento adicional para remoção de ferro e manganês que ocorrem naturalmente ou para remover pesticidas ou nitratos ou poluentes orgânicos ao nível de traço oriundos da agricultura.
 

Tratamentos típicos


            As águas superficiais e algumas águas subterrâneas de baixa qualidade devem passar por três processos principais – clarificação, filtração e desinfecção – antes de chegar aos nossos lares.

 

Clareamento


            Pequenas partículas; incluindo-se solos, algas, bactérias, vírus e ácidos fúlvicos e húmicos que causam coloração às águas; podem estar presentes na água. Essas partículas, com tamanho variando entre 10 nm (10 x 10-9 m) e 10 mm (10 x 10-6 m), são coloidais, isto é, por causa de seu tamanho reduzido elas permanecem suspensas na água. Sistemas coloidais em águas naturais são sistemas tipicamente estáveis de duas fases que consistem de finas partículas sólidas dispersas numa fase líquida. A maioria dessas partículas coloidais têm fraca carga negativa, fazendo com que as mesmas sofram repulsão entre si, porém são estabilizadas por uma nuvem circundante de íons com carga contrária. As companhias de água, tais como CAGECE, SABESP, CEDAE etc., clarificam a água com adição de um agente coagulante, que remove aproximadamente 90% dos sólidos suspensos. Em geral, utilizam-se os seguintes agentes coagulantes, sulfato de alumínio [Al2(SO4)3] e sulfato férrico [Fe2(SO4)3]. Estes contém cátions polivalentes (ex. Al3+ ou Fe3+), os quais alteram o ambiente carregado e desestabilizam as suspensões coloidais. Resultando em pequenas partículas unidas que formam agregados também chamados de flocos. Estes tanto podem serem forçados, por microbolhas de ar (aeração), a formar flocos cada vez maiores no topo do tanque de clarificação como podem se depositar no fundo do tanque. Outros coagulantes podem ser usados, entre eles o sulfato ferroso, aluminato de sódio, sílica ativada ou polímeros catiônicos, porém sua utilização depende sobretudo do pH da água natural, que afeta a estabilidade do sistema coloidal e da quantidade de sólidos suspensos que a água natural contém.

 

O Papel dos Químicos na Indústria de Água


            Os químicos analisam e monitoram a água distribuída de acordo com as normas estabelecidas pelas Portarias divulgadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS.



Contaminantes

Técnica analítica


Nitratos, fluoretos e vários metais

Espectrofotometria de absorção molecular ou atômica

Sulfatos

Análise gravimétrica

Fenóis

Espectrofotometria de absorção molecular

Hidrocarbonetos

Espectrofotometria do infravermelho

Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos

Cromatografia de camada delgada associada à fluorescência UV

Pesticidas (ex. hexaclorociclohexano)

Cromatografia à gás ou líquida

 
Filtração

            As companhias de água utilizam uma combinação de vários tipos de filtros, incluindo-se os de areia (lentos) e os que fazem uso da pressão ou da gravidade (rápidos). Os filtros de areia consistem de camadas de areia que aprisionam partículas de um certo tamanho, nesses casos a água percola a uma velocidade de aproximadamente 0,1 m3/h. Eles possuem a vantagem de que a água não necessita ser antes clarificada. Pois quando o fluxo da água atravessa, forma-se uma camada de matéria biológica (denominada camada Schmutzdecke) que atua como uma fina esteira de pressão. Além disso, numa fina camada (alguns mm) do topo desta camada a matéria orgânica é destruída e as plantas e bactérias vivas consomem os nutrientes disponíveis, tais como fosfatos e nitratos, e convertem quaisquer compostos solúveis de ferro e manganês presentes em compostos de hidróxidos insolúveis.

            Os filtros de pressão e gravidade forçam a água através de camadas de areia e cascalho numa alta velocidade, cerca de 6 m3/h. Atualmente, algumas companhias de água incorporam o carvão ativado granulado (GAC) dentro dos filtros. O GAC tem uma grande área superficial contendo pequenos poros. Estes poros aprisionam qualquer substância orgânica dissolvida presente e a remove da água de abastecimento. O GAC é algumas vezes utilizada como uma camada discreta nos filtros, lentos, de areia para remover pesticidas ou como um filtro de contato com o ozônio para remover pesticidas e contaminantes traços. O ozônio (O3) é um poderoso oxidante que oxida qualquer poluente e pesticida, presente na água, provenientes de produtos perigosos.
            Além disso, a membrana de filtração – tanto a de ultrafitração como a de microfiltração dependem do tamanho da partícula que está sendo removida – está se tornando um processo de tratamento comum nas grandes companhias de água no Brasil. Os filtros de membrana são geralmente feitos de polietersulfona, porém podem ser também feitos de polipropeno, poliamida ou de cerâmicas. As membranas de microfiltração têm poros na faixa de 0,1 – 10 mm de tamanho; pequeno o suficiente para reter e remover parasitas tais como Crystosporidium, que pode causar problemas estomacais nas pessoas. As membranas de ultrafiltração possuem poros na faixa de 0,001 – 0,1 mm de tamanho e adicionalmente poderiam remover alguns vírus e algumas moléculas orgânicas.
 
Desinfecção

            Finalmente, todas as águas necessitam ser desinfetadas antes de chegar em nossas residências. Nos últimos 80 anos, o cloro tem sido amplamente usado para este propósito. E ainda hoje é utilizado, porém em combinação com outros processos, incluindo-se o ozônio e o tratamento UV, que reduzem a quantidade total de cloro a ser usada. Uma quantidade residual de cloro é deixada na água para eliminar alguma bactéria que pode estar presente nas tubulações de fornecimento de água. A desinfecção remove a maioria de microrganismos perigosos, tais como a Escherichia coli. Entretanto, ela não é eficiente contra parasitas como o Crystosporidium. Estes parasitas são circundados por uma camada de proteção, tornando-os resistentes aos cloro (obs. são removidos pela membrana de filtração).

            O ozônio (O3) é muito usado na França como um desinfetante, e algumas companhias de água do Reino Unido utilizam o O3 antes da clarificação da água com a finalidade de remover algas residuais e novamente após a filtração como um desinfetante adicional. As companhias de água tendem a usar a luz ultravioleta como uma parte do procedimento de desinfecção de águas subterrâneas de boa qualidade. A luz UV é responsável por dar início as mortíferas reações fotoquímicas no interior das células de certos vírus e bactérias.

            A indústria da água fornece mais de 20.000 milhões de m3 de água todos os dias para 150 milhões de pessoas no Brasil.

terça-feira, 19 de março de 2013

Pesticidas, comida-lixo, diabetes e Alzheimer



Por: Jean Remy Davée Guimarães, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ.

 
Estudo sugere ligação entre exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de diabetes tipo 2. Em sua coluna de março, o biólogo Jean Remy Guimarães comenta a pesquisa e evidências crescentes das relações estreitas entre essas substâncias e doenças crônicas.

  
            Estudo realizado com 386 pacientes adultos aponta relação direta entre os níveis de resíduo de pesticidas no tecido adiposo e desenvolvimento de diabetes, independentemente de idade, sexo e peso corporal.

            A relação epidemiológica entre o uso de pesticidas e a crescente incidência de males como câncer, problemas hormonais e reprodutivos, entre outros, é cada vez mais clara. Mas novos estudos têm apontado uma nova e incômoda conexão, desta vez entre pesticidas e diabetes tipo 2, o que poderia explicar, ao menos parcialmente, as proporções epidêmicas que essa doença vem assumindo em escala global.

            A edição de janeiro da Environmental Research traz um estudo de Arrebola e colaboradores, da Universidade de Granada, Espanha, que é, ironicamente, uma bomba. A equipe dosou resíduos de diversos pesticidas no tecido adiposo de 386 pacientes adultos em dois hospitais do sul do país e concluiu que os pacientes com maiores níveis de DDE (um produto da degradação do DDT) tinham quatro vezes mais probabilidade de ter diabetes tipo 2.

            Os autores observaram ainda que um dos componentes do popular pesticida Lindano também favorece o surgimento do diabetes tipo 2. A relação direta observada entre os níveis de poluentes orgânicos persistentes e o desenvolvimento de diabetes era independente da idade, sexo ou peso corporal do paciente.

            Segundo os pesquisadores, o acúmulo desses poluentes lipofílicos na gordura corporal poderia explicar por que os obesos têm maior tendência a desenvolver diabetes. Não se sabe ao certo o mecanismo envolvido, mas os autores sugerem que os pesticidas provocam uma reação imunológica em receptores de estrogênio envolvidos no metabolismo dos açúcares.

 Monitor de açúcar no sangue e caneta injetora de insulina usados por diabéticos. Pesquisa sugere que o acúmulo de poluentes lipofílicos (como componentes de pesticidas) na gordura corporal poderia explicar a maior tendência de obesos a desenvolver diabetes. (foto: Karen Barefoot/ Sxc.hu)

 
            As autoridades de saúde estimam que, em 2030, cerca de 4,5% da população mundial será diabética. Atualmente, cerca de 346 milhões de pessoas sofrem da doença, enquanto 35 milhões são acometidos pelo Alzheimer. As duas condições geram muito sofrimento e elevado custo social.

 
Correlações perturbadoras

            Se você já estava se perguntando o que diabetes têm a ver com meio ambiente, a menção ao Alzheimer talvez aumente a confusão.

            Mas, justamente, diabetes, Alzheimer e obesidade estão aumentando exponencialmente e com correlações perturbadoras entre elas. Da mesma forma, a disseminação da junk-food (comida-lixo) e da agricultura industrial regada a pesticidas que a sustenta andam juntas.

            Ok, pesticidas/junk-food e obesidade/diabetes já são binômios quase familiares para aqueles que leem as magras seções de ciência da grande imprensa, mas a insistência do Alzheimer em se meter em estatísticas onde não foi chamado já intrigava os cientistas há algum tempo, a ponto de esses começarem a buscar uma relação causal entre essa doença, o diabetes e a obesidade.

            Mas... e se o Alzheimer fosse, como o diabetes, uma doença metabólica, associada ao (des)desequilíbrio hormonal e, portanto, induzível por pesticidas?

Já se sabia que há uma forte associação entre diabetes, obesidade, dieta, demência e Alzheimer. Pessoas que sofrem de diabetes têm probabilidade 2 a 3 vezes maior de desenvolver Alzheimer do que a média da população. A conexão obesidade-Alzheimer é menos estudada, mas sabe-se que a obesidade em idade madura predispõe ao Alzheimer e que uma vida ativa e dieta saudável reduzem a ocorrência de demência.

            Mas... e se o Alzheimer fosse, como o diabetes, uma doença metabólica, associada ao (des)desequilíbrio hormonal e, portanto, induzível por pesticidas, entre outros disruptores endócrinos? Isto poderia explicar as correlações observadas. As evidências nesse sentido são tantas que muitos especialistas já defendem que o Alzheimer seja considerado como um diabetes tipo 3, pois vários estudos sugerem que o Alzheimer seria uma consequência de perturbações na resposta do cérebro à insulina.

            Esta, além de regular o metabolismo do açúcar, tem papel bem definido na química cerebral, modulando a troca de sinais entre neurônios e atuando no aprendizado e na memória, bem como na manutenção dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro.

Tomografia de um cérebro humano com Alzheimer. Pessoas que sofrem de diabetes têm maior probabilidade de desenvolver a condição. Especialistas defendem, inclusive, que o Alzheimer seja considerado um diabetes tipo 3, pois há evidências de que seria uma consequência de perturbações na resposta do cérebro à insulina. (imagem: NHI/ Wikimedia Commons)

 
            Eu achava que o sistema hormonal funcionava, por analogia, como uma orquestra em que o som produzido por um instrumento influencia o som de todos os outros, e vice-versa. Já era complicado o bastante, mas escrever esta coluna me ensinou que a imagem mais correta seria a da mesma orquestra, mas com cada músico tocando vários instrumentos ao mesmo tempo, e todos os sons se influenciando mutuamente. Agora imagine se colocarmos pó-de-mico na gola dos músicos... É o que ocorre quando um disruptor endócrino é absorvido por inalação, ingestão ou via cutânea.

            Portanto, se você achava que por ser um urbanoide não-obeso, que gasta boas quantias em alimentos orgânicos, você estaria a salvo, pode tirar o cavalinho da chuva: os pesticidas são apenas uma das várias categorias de disruptores endócrinos, e a dieta é apenas uma das vias de exposição aos pesticidas.

 
Equacionando prós e contras

            E a junk-food, onde entra nisso tudo? O X-tudo com fritas e o rodízio de salgadinhos já era apontado como fator de desenvolvimento de Alzheimer devido à redução de irrigação sanguínea causada pelo colesterol e aumento da pressão sanguínea, mas os estudos mais recentes sugerem que alimentos com muito açúcar e gordura podem danificar o cérebro por interromper seu suprimento de insulina.

A ingestão excessiva de alimentos com muito açúcar e gordura já era apontada como fator para o desenvolvimento de Alzheimer – devido à redução de irrigação sanguínea causada pelo colesterol e aumento da pressão sanguínea. Estudos mais recentes sugerem que estes podem também danificar o cérebro por interromper seu suprimento de insulina. (foto: David Boylan/ Sxc.hu)
 

            Naturalmente, como sempre, mais estudos são necessários etc. etc., mas se as relações causais aqui descritas forem confirmadas, será uma ótima notícia. É uma esperança de melhores tratamentos para os que já sofrem com esses males e de melhores prognósticos para os ilesos até aqui.

            É também um exemplo que gera reflexão sobre o custo/benefício do modo de vida que adotamos. Sim, a tecnologia nos permite viver com mais conforto e por mais tempo, mas também nos rouba qualidade de vida.

            De que adianta termos Viagras e cia. se não lembrarmos mais para que serve uma ereção, nem quem é aquela pessoa idosa dormindo ao nosso lado? Quantos hectares de soja, arroz ou milho são necessários para bancar um ano de tratamento de um diabético ou uma vítima de Alzheimer?

            Somando esses e outros custos, ambientais e de saúde, podemos talvez acabar concluindo que o modelo de agricultura industrial vigente gera prejuízos que engolem seus ganhos de produtividade e ainda deixam uma conta pendurada.

            O modelo de agricultura industrial vigente gera prejuízos que engolem seus ganhos de produtividade e ainda deixam uma conta pendurada

Estudos como os aqui relatados nos dão pistas importantes de como equacionar tudo isso e tornam mais premente a discussão do tema.

            Por último, mas não menos importante, cada novo estudo apontando efeitos negativos de pesticidas – ou qualquer outra substância sujeita à regulamentação – desmoraliza um pouco mais os órgãos que autorizaram sua produção e uso e não monitoraram seus efeitos.

            Acredite se quiser, mas a liberação é baseada em testes de até 60 dias com animais de laboratório. Quem realiza esses testes? O próprio fabricante, ou alguém que ele contratou para isso.

            Mas relaxe, está tudo dominado.
 

Ciência Hoje On-lne

Publicado em 15/03/2013 | Atualizado em 15/03/2013.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Google abre inscrições para feira de ciências


Science Fair premiará os melhores projetos de alunos entre 13 e 18 anos com US$ 50 mil e viagens com a National Geographic

            Se você é um daqueles que adora participar das feiras de ciência na escola, mas, ao contrário do que gostaria, os projetos sempre se resumem a algumas cartolinas na parede e textos decorados para explicar aos familiares, talvez esse seja o momento de colocar aquela grande ideia em prática. A 3ª edição da Google Science Fair quer encontrar os jovens mais brilhantes e revolucionários do mundo, com idades entre 13 e 18 anos, que tenham um método científico capaz de solucionar algum problema global. Brasileiros são muito bem-vindos.

            Para participar, o estudante terá que criar uma conta do Google e enviar o seu projeto que poderá ser escrito em 13 idiomas, inclusive português pelo site até o dia 30 de abril, data limite das inscrições. Em junho, serão selecionados os 90 finalistas, sendo 30 das Américas, 30 da Ásia e do Pacífico e 30 da Europa, Oriente Médio e África. No dia 23 de setembro, os 15 melhores projetos serão levados para a sede do Google, em Mountain View, Califórnia, onde passarão por um painel de juízes internacionais que escolherão o vencedor.

            O estudante que, segundo o júri, tiver desenvolvido o melhor entre todos os projetos, receberá como prêmio uma bolsa de US$ 50.000 do Google; uma viagem para as Ilhas Galápagos com expedições da National Geographic; experiências de trabalho no CERN, no Google ou no Grupo LEGO, além de conquistar, para sua escola, US$ 10.000 e acesso aos arquivos digitais da Scientific American por um ano. Assista ao vídeo feito pelo Google que convoca futuros cientistas que querem mudar o mundo.

            No site da competição, o aluno tem acesso a informações que podem ajudar no desenvolvimento de seu projeto, como material sobre método científico e análise de resultados, exemplos de organizações e instituições que podem ser úteis durante a pesquisa, além de dicas. Também é possível participar de um fórum de discussões no Google+, ambiente virtual em que inscritos de todo o mundo podem compartilhar experiências. Para inspirar os novos cientistas, a plataforma disponibiliza ainda os vídeos e pesquisas dos vencedores dos anos interiores.

            Nas duas primeiras edições da Google Science Fair, milhares de estudantes de mais de 90 países apresentaram projetos de pesquisa que abordam algum dos problemas mais difíceis que enfrentamos hoje. Entre eles está Brittany, uma garota de 17 anos, que ganhou o grande prêmio por seu projeto que buscava construir um aplicativo para prevenção do câncer de mama. E Jonah Kohn, de apenas 14 anos, foi premiado por inventar um dispositivo que melhora a experiência de ouvir música para pessoas com deficiência auditiva, transmitindo os sons diretamente para o corpo humano, através do contato por vibrações.

(Site Porvir)

Do céu para os hospitais


Por: Sofia Moutinho (Ciência Hoje On-line)

Método para identificar galáxias, estrelas e planetas distantes é adaptado para a detecção de tipos graves de câncer de mama. A 'troca de figurinhas' entre astrônomos e médicos ajuda no encaminhamento para o tratamento adequado.
Na esquerda, foto de células de câncer tratadas com reagente pronta para ser submetida ao programa. Na direita, o objeto comum dos astrônomos: espaço sideral repleto de estrelas, planetas e galáxias. (fotos: Simon Shears | M. Kornmesser/ ESO)

            Uma técnica usada para identificar gigantescos objetos astronômicos fotografados por telescópios agora pode ser aplicada na detecção de minúsculas células cancerosas vistas através de microscópios. A ideia da interessante troca é de pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
            Os cientistas do Centro de Pesquisa de Câncer e do Instituto de Astronomia da instituição formaram uma parceria para adaptar um programa de análise de imagens que identifica galáxias, estrelas e planetas no céu para ele passar a apontar células de tumores de câncer de mama agressivos.
           
          Existem tumores de diferentes níveis de severidade e a identificação do estágio exato em que se encontram ajuda a direcionar o tipo de tratamento mais adequado em cada caso. Os cientistas conseguem saber se um câncer é de categoria agressiva pela presença de determinadas proteínas que a célula tumoral produz. Hoje, a detecção dessas proteínas é feita pela visualização de amostras em microscópios, um processo que pode tomar muito tempo.
            Com o programa, a identificação dos tumores é automatizada e mais de 5 mil imagens podem ser analisadas por dia
            O programa de astronomia adaptado faz esse trabalho de modo automático e mais rápido. Os cientistas só precisam jogar sobre as amostras de tumor uma substância que reage com as células e deixa uma mancha marrom onde há a proteína que procuram. Feito isso, basta deixar que o software processe fotografias das amostras e identifique, sozinho, as células marcadas.
            “A medicina moderna está dando os primeiros passos no sentido de prever o sucesso ou a falha de tratamentos específicos para determinados perfis de câncer”, comenta um dos pesquisadores envolvidos na iniciativa, o oncologista Carlos Caldas. “Mas, para isso, precisamos verificar milhares de amostras de tumores no microscópio. Com esse processo automatizado, podemos analisar mais de cinco mil imagens por dia.”
            O programa já foi testado com tumores de duas mil pacientes e se mostrou tão eficaz quanto os métodos tradicionais. Os cientistas agora planejam repetir os testes com mais amostras e refinar o programa para detectar outros elementos.
 
Troca de experiências
           A ideia de usar as ferramentas da astronomia na medicina surgiu depois que cientistas do grupo participaram de um congresso que reuniu físicos, astrônomos e cientistas de biomédicas justamente para compartilharem conhecimentos.
            Pode ser difícil de ver semelhanças entre as áreas, mas o líder da pesquisa, o oncologista Raza Ali, conta que logo de cara soube como aproveitar a expertise dos colegas astrônomos.
            “É incrível que nosso software usado para procurar planetas que podem abrigar vida fora do sistema solar possa agora ser usado para ajudar vidas de pacientes de câncer aqui na Terra”
            “Os astrônomos desenvolveram uma grande caixa de ferramentas de análises de imagens para diferentes problemas que encontram”, diz. “Eles tipicamente identificam e descrevem estrelas e planetas, mas se você parar para pensar, esses objetos são, em certo sentido, parecidos com as células de câncer que estamos interessados. Eles usam programas para procurar características comuns a esses objetos em meio a trilhões de astros. Nós fazemos a mesma coisa com as células de câncer.”
            O astrônomo Nicholas Walton, que ajudou Ali a adaptar o programa de identificação de astros, se diz satisfeito com a colaboração interdisciplinar. “É incrível que nosso software usado para procurar planetas que podem abrigar vida fora do sistema solar possa agora ser usado para ajudar vidas de pacientes de câncer aqui na Terra.”

sexta-feira, 8 de março de 2013

Transistores à base de nanotubos de carbono detectam biomarcadores de câncer


Por Murilo Julião



Anticorpos (verde/vermelho) são covalentemente ligados a transistores de nanotubos de carbono, que servem como detectores de osteopontina (laranja/azul). A osteopontina é uma proteína biomarcadora indicativa de câncer de próstata, bem como de outros tipos de câncer. (Cortesia: Universidade da Pensilvânia)

           Transistores baseados em nanotubos de carbono poderão ser usados para detectar pequenas quantidades de biomarcadores de doenças, como: proteínas associadas ao câncer de próstata, segundo pesquisas realizadas nos EUA. No futuro, essa técnica poderá rivalizar com os métodos convencionais, quanto ao custo, sensibilidade e velocidade.
          As técnicas convencionais para detecção de proteínas baseiam-se normalmente em alguma forma de "imunoensaio", como o mais famoso deles: o ensaio imunoabsorvente de enzimas ligadas (ELISA). Esta técnica envolve a introdução de uma proteína de anticorpo modificado enzimáticamente numa quantidade desconhecida da molécula alvo ou proteína, conhecida como antígeno, permitindo a ligação entre eles. Os anticorpos que não reagem são removidos por lavagem, sobrando apenas os pares de anticorpo-antígeno.
          A reação geralmente pode ser detectada por uma alteração de cor da solução ou através de um sinal fluorescente. O grau de mudança de cor ou fluorescência depende do número de anticorpos modificados enzimáticamente presente, que por sua vez depende da concentração inicial de antígeno na amostra.
          Embora tais testes sejam rotineiramente utilizados em hospitais e clínicas, eles podem levar vários dias ou mesmo semanas para serem concluídos. São também caros, complicados de executar e podem detectar apenas uma proteína de cada vez.

Nanossensores e marcadores
          "Nossos sensores de nanotubos são relativamente simples quando comparados aos testes de ELISA", afirma Mitchell Lerner, membro da equipe da Universidade da Pensilvânia. "A detecção ocorre em poucos minutos, uma caixa com 2000 desses sensores custa cerca de R$ 100,00 ou R$ 0,50 centavos por sensor."
           Mais importante ainda, os sensores são muito mais sensíveis às proteínas-alvo em questão. De fato, os pesquisadores da Universidade da Pensilvânia mostraram que poderiam detectar um biomarcador de câncer de próstata chamado osteopontina (OPN) em 1 picograma/mL, o que é cerca de 1000 vezes menor do que os testes clínicos realizados por ELISA.
 

Detectando a doença de Lyme: anticorpos comercialmente disponíveis (centro) são ligados aos transistores de nanotubos de carbono. Os antígenos de Lyme (espirais amarelas/roxas) são capturados e detectados. (Cortesia: Universidade da Pensilvânia)

          A equipe, liderada por A.T. Charlie Johnson do Departamento de Física e Astronomia de Penn, sintetizou os sensores de nanotubos, anexando anticorpos ligantes de OPN aos transistores de nanotubos de carbono num chip de silício. Muitas proteínas no corpo se ligam muito fortemente à moléculas alvo específicas ou à proteínas e a OPN não é exceção. Quando o chip é imerso numa amostra teste, a OPN liga-se aos anticorpos, o que altera as características eletrônicas do transistor. Medidas de voltagem e corrente obtidas a partir de cada dispositivo permitiram que os pesquisadores pudessem medir com precisão a quantidade de OPN que havia na amostra.

Ligações fortes
          A técnica também pode ser usada para detectar uma série de outras doenças através da substituição superficial do anticorpo ligante de OPN por grupos funcionais sensíveis a diferentes biomarcadores, disse Lerner. Um biomarcador que os pesquisadores afirmaram ter detectado está relacionado à doença de Lyme. Também conseguiram detectar a bactéria salmonela, usando esse sensor.
          "Os sensores podem ser utilizados como ferramentas de diagnóstico que permitem aos médicos obter resultados de testes clínicos em tempo real para uma variedade de doenças", acrescenta Lerner. "Se pudéssemos integrar várias proteínas num único chip, poderíamos detectar centenas de proteínas biomarcadoras de doenças, simultaneamente, num único pequeno volume da amostra".

quinta-feira, 7 de março de 2013

Cometa Misterioso Cruza os Céus do País


Um novo astro, ainda mais brilhante, surgirá em novembro

Imagem da internet. Meramente ilustrativa
O primeiro de dois cometas a serem avistados no céu do país este ano já pode ser observado a olho nu. No horário do pôr-do-sol, por volta das 18h, basta olhar à direita da estrela, buscando por um ponto luminoso, algo como uma estrela um pouco mais brilhante. Trata-se do cometa PanSTARRS, em sua visita única ao planeta Terra, direto dos confins do Sistema Solar. Uma espécie de aperitivo antes da chegada do ISON, em novembro, que será visível como uma lua cheia.

Cometas são grandes aglomerados de rocha e gelo recobertos por uma crosta de sujeira espacial originários da Nuvem de Oort, uma gigantesca região de objetos gelados que cerca nosso Sistema Solar e cujo limite alcança mais de um ano-luz (cerca de 9,5 trilhões de quilômetros) de distância da Terra. Às vezes, porém, um destes objetos tem sua órbita estável perturbada pela ação gravitacional da movimentação de uma estrela próxima ou da combinação dos efeitos gravitacionais do conjunto das estrelas da Via Láctea, sendo então lançado em uma longa viagem em direção ao Sol. E, à medida que ele se aproxima de nossa estrela, o calor começa a quebrar sua crosta e a fazer evaporar o gelo, gerando as características coma (cabeça) e cauda dos cometas, que brilham ao reflexo da luz solar.

Primeira e única chance de observação

O PanSTARRS, segundo Jorge Márcio Carvano, do Observatório Nacional, é um cometa de tipo raro, com uma órbita chamada de hiperbólica, ou seja, ele só passará uma vez pela Terra. Trata-se, por isso, da primeira e única chance de observá-lo. De acordo com o astrônomo, especialistas em todo o mundo estão ansiosos para estudar o objeto, detectado em 2011.

- Os cometas, acreditamos, são objetos formados na mesma época em que os planetas gigantes e expulsos da parte interna do Sistema Solar - explicou Carvano. - Com suas temperaturas muito baixas, eles preservam material, processos e condições daquela época; verdadeiras relíquias da formação do Sistema Solar.

Carvano explicou que, com a observação do cometa por especialistas, será possível estudar a composição do gás e da poeira. Segundo Carvano, moléculas orgânicas nunca antes observadas podem ser detectadas.

- Observamos a interação da luz do Sol com o gás e a poeira. Dependendo de como o gás modifica a luz, podemos inferir a composição molecular.

Mas enquanto o PanSTARRS passará a cerca de 50 milhões de quilômetros do Sol - sua maior aproximação ocorre hoje -, o ISON se aproximará muito mais da estrela, menos de 2 milhões de quilômetros. Quanto mais perto do Sol um cometa chega, mais brilhante ele aparece no céu. Por isso, astrônomos apostam que o ISON pode ser "o cometa do século", atingindo um brilho equivalente ao da Lua cheia, ficando visível a olho nu e talvez até durante o dia na época de sua maior aproximação, entre o fim de novembro e o início de dezembro.

(Roberta Jansen - O Globo)

domingo, 3 de março de 2013

Anvisa publica lista de alimentos com alto teor de sódio.




          A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo máximo de 2 gramas (g) de sódio por dia. Um pacote de biscoito de polvilho de 100 g possui, em média, mais da metade de toda a quantidade de sódio que uma pessoa deve consumir durante todo o dia. É o que aponta um estudo divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

          O hambúrguer bovino também apresentou um alto teor de sódio: na média 701 mg de sódio para cada 100g de produto. Isso significa que um pedaço de carne de hambúrguer (cerca de 80g) é responsável por mais de ¼ do total de sódio que uma pessoa deve consumir durante todo o dia.

          O estudo da Anvisa também analisou os teores de sódio nos queijos. Uma amostra do queijo parmesão apresentou o maior valor absoluto de sódio, entre todas as 500 amostras da pesquisa, e atingiu a marca de 3052 mg do nutriente para cada 100 g do produto. Em segundo lugar, ficou a versão ralada do queijo parmesão. Neste caso, em uma das amostras, o teor de sódio encontrado foi de 2976 mg para cada 100 g de produto. A média de sódio no parmesão foi de 1402 mg a cada 100 g de produto. No caso do parmesão ralado, esse valor sobe para 1981 mg, valores muito superiores à média de sódio nos demais tipos de queijo analisados.

          Outro ponto avaliado pela pesquisa foi a variação do teor de sódio entre as diversas marcas de um mesmo alimento. Neste quesito, os queijos minas frescal, parmesão e a ricota fresca lideraram a lista. Essa variação na quantidade de sódio entre as diversas marcas reafirma a necessidade dos consumidores de observarem os rótulos dos alimentos industrializados2.

          A média do teor de sódio no macarrão instantâneo ficou em 1798 mg para cada 100 g do alimento. Esse valor está dentro do pactuado, em abril de 2011, entre o Ministério da Saúde e as associações das indústrias de alimentos para reduzir a quantidade de sódio nesses alimentos. O acordo prevê o valor máximo de 1920,7 mg de sódio para cada 100 g de macarrão instantâneo. Entretanto, o estudo da Agência também detectou problemas. Em termos de valor absoluto, o valor máximo de sódio encontrado em uma amostra de macarrão instantâneo foi de 2.160 mg para cada 100g de alimento, valor maior do que o acordado entre as indústrias e o Ministério da Saúde. Vale lembrar que, neste caso, já está contabilizada a quantidade de sódio presente do tempero pronto que acompanha esses alimentos.

          O consumo excessivo de sódio é considerado um fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, tais como cardiopatias, obesidade, neoplasias, diabetes mellitus, entre outras. “Se atingíssemos a meta da OMS seria possível reduzir em 15% os óbitos por acidente vascular cerebral (AVC) e em 10% os óbitos por infarto”, afirma o diretor de Controle e Monitoramento Sanitário da Anvisa, Agenor Álvares.

Algumas orientações para reduzir o sal na dieta:

·       Além de observar o rótulo dos alimentos industrializados, a Anvisa orienta que o consumidor experimente os alimentos antes de adicionar mais sal.

·       Diminuir gradativamente o sal nos alimentos. O paladar se adapta à redução gradual da quantidade de sal nos alimentos, por isso, isso não vai afetar a percepção do sabor dos alimentos.

·       Lembrar que alimentos frescos sempre têm menos sal. Por isso, é necessário equilibrar as refeições com saladas e frutas.

·       A população deve utilizar outros temperos naturais como ervas aromáticas, alho, cebola, pimenta, limão, vinagre e azeite para temperar e valorizar o sabor natural dos alimentos, evitando o uso excessivo de sal. “A redução do consumo de sal pode ser iniciada com atos simples, como a retirada do saleiro da mesa”, complementa Álvares.

          De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2001, 60% do total das 56,5 milhões de mortes notificadas no mundo foi resultado de doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, o aumento da pressão arterial no mundo é o principal fator de risco de morte e o segundo de incapacidades por doenças cardíacas, acidente cérebro vascular e insuficiência renal.

          Dados do IBGE indicam que, em 2009, uma em cada três crianças brasileiras na faixa de 5 a 9 anos estava com sobrepeso, sendo que a obesidade atingiu 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas. Durante o período de 1974 a 2009, a prevalência de sobrepeso em crianças e adolescentes, entre 10 e 19 anos, passou de 3,7% para 21,7% no sexo masculino e de 7,6% para 19,4% no sexo feminino. Nesse mesmo período, o sobrepeso na população adulta masculina passou de 18,5% para 50,1%, enquanto que na feminina foi de 28,7% para 48%.

Veja a íntegra do estudo da Anvisa em: TEOR DE SÓDIO DOS ALIMENTOS PROCESSADOS

Fonte: Anvisa

NEWS.MED.BR, 2012. Anvisa publica lista de alimentos com alto teor de sódio. Biscoito de polvilho e queijo branco estão entre eles. Disponível em: <http://www.news.med.br/p/saude/322800/anvisa-publica-lista-de-alimentos-com-alto-teor-de-sodio-biscoito-de-polvilho-e-queijo-branco-estao-entre-eles.htm>. Acesso em: 3 mar. 2013.