segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Os Dois Risquinhos que Formaram o Brasil Moderno


 (Crédito imagem: Alfredo Marques/CBPF)

 
            O antropólogo Daniel Miller, em seu primoroso texto ‘Artefacts and the meaning of things’ (Artefatos e o significado das coisas), coloca a seguinte questão: que objetos preservar para a posteridade em um museu da cultura material contemporânea?

            Tarefa complexa, e museu certamente gigantesco.

            O próprio Miller desfia parte do problema: casas e navios, muito grandes; algodão doce e guirlandas, efêmeros… Ele pergunta: “Entrariam todos os modelos de espelhos de carro? E marcas de xampu?”

            Dada a subjetividade da tarefa, ouso aqui apontar item que deveria constar de dito museu no Brasil: a fotografia em destaque nesta página, com dois risquinhos centrais, em forma de ‘L’. Lasca (significativa) do Brasil moderno se deve aos fatos ocasionados por essa imagem de abstração ímpar – cujo original, colado em cartolina dura, tem repousado, por anos, atrás de armário pesado, em Petrópolis, na casa de seu dono, Alfredo Marques, hoje pesquisador aposentado do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro (RJ).

            A história entremeada nesse punhado de pontinhos pretos em fundo bege tem a ver com o estabelecimento, no Brasil, dos alicerces político-administrativos da forma de cultura que o historiador marxista Eric Hobsbawm diz ter sido a mais influente no século passado, a ciência – e que tão pouca atenção merece dos departamentos de história de nossas universidades.

            Nossa fotografia remete à época em que a física nuclear era a vedete das ciências. A imagem é o ponto alto do emprego da fotografia como detector pelos físicos, técnica que ganhou seu formato pleno no início do século passado, quando o microscópio passou a ser usado para perscrutar, na dimensão do milionésimo de metro, os efeitos da radioatividade no interior da fotografia – esta, por sinal, nada mais era do que um suporte (vidro, papel etc.) sobre o qual era despejada finíssima camada de gelatina em que estão dispersos grãos de um sal de prata sensível a partículas de luz (fótons) e a partículas elementares dotadas de carga elétrica (elétrons, prótons etc.).

            A união da fotografia com o microscópio – a esse binômio, somem-se poucos vidros de reagentes para revelação – permitiu, nas décadas seguintes, fazer ciência de ponta de forma simples e barata – inclusive no Brasil, como veremos.

            Na década de 1920 e na seguinte, basicamente na Europa, a técnica se aprimorou, abarcando, além de fenômenos e constituintes do núcleo atômico, os mistérios dos raios cósmicos (radiação extraterrestre que bombardeia a Terra a todo instante). Porém, até então, a técnica só havia confirmado descobertas obtidas por outros detectores – o nêutron, em 1932, é o caso emblemático dessa lista de confirmações, apesar de esse fato ser bem pouco conhecido, mesmo pela historiografia da física.

            A imagem que abre este ensaio – na verdade, um mosaico de fotos menores feitas com o auxílio de um microscópio e colocadas em sequência – foi publicada na prestigiosa revista científica Nature, em24 de maio de 1947. Ela imortaliza a primeira descoberta da técnica, que, depois da Segunda Guerra, foi batizada técnica das emulsões nucleares – emulsão nuclear é só um nome pomposo para uma chapa de fotografia em preto e branco na qual se aumentou tanto a espessura da camada de gelatina quanto a concentração do sal de prata. As empresas Ilford e Kodak se tornariam as principais fabricantes desse tipo de fotografia, desenvolvida e produzida sob encomenda para os físicos.

            As emulsões nucleares viraram um tipo de detector ideal para países europeus que tentavam (sem praticamente verbas) reconstruir sua ciência no pós-guerra – Itália sendo o caso emblemático. Razão já apontada aqui: simples e barata. Mas há, pelo menos, mais dois motivos: i) era ideal para ser empregada por físicos que haviam tido formação universitária bem precária nos anos de guerra e agora queriam fazer pesquisa; ii) os raios cósmicos, ultraenergéticos, são fornecidos gratuitamente pela natureza – portanto, nada de despesas construindo aceleradores de partículas caríssimos, iniciativa que a então Europa, destruída pelo conflito, não podia tomar.

            A figura acima fez do Laboratório H. H. Wills, da Universidade de Bristol (Inglaterra), o templo maior da técnica. Para lá, em tempos ainda de pouca fama dessa instituição, seguiu, no inverno de 1946, o jovem físico brasileiro César Lattes (1924-2005). Ao final daquele ano, Lattes e seu ex-professor na Universidade de São Paulo, o físico italiano Giuseppe Occhialini (1907-1993), decidiriam expor emulsões nucleares no Pic du Midi, nos Pirineus franceses, a 2,8 mil m de altitude. A esperança era a de que um fragmento ainda desconhecido de matéria deixasse sua trajetória impressa nas chapas – por sinal, um lote delas continha, além do sal de prata, o elemento químico boro. E isso parece ter sido importante para os desdobramentos [Em tempo: sou da opinião de que, com base na documentação histórica que sobreviveu até nossos dias, a iniciativa tanto da exposição das chapas quanto do carregamento delas com boro foi de Lattes].

            Cerca de um mês depois, as chapas foram recolhidas e reveladas por Occhialini – e isso, indica a documentação, teria ocorrido no final de 1946. E lá, em meio a uma selva de risquinhos, estavam aquele dois, em forma de ‘L’. O clima no H. H. Wills, com seus cerca de 20 integrantes, ganhou momento. Dois traços semelhantes aos da imagem foram encontrados, mas um deles, o de maior extensão, ‘saía’ da fotografia – tecnicamente, os físicos diziam que o traço não parava na emulsão. Esse evento também está lá na Nature de 24 de maio.

            Pouco depois (dias, talvez), foram avistadas as duas trajetórias da imagem em questão. Depois de muita discussão – e isso provavelmente se estende do final de 1946 até o envio do artigo para a Nature –, os físicos do H. H. Wills concluíram que o traço de menor extensão era o méson pi (hoje, píon), partícula corajosamente proposta 13 anos antes pelo físico japonês Hideki Yukawa (1907-1981) para explicar por que os integrantes do núcleo (prótons e nêutrons) permanecem colados – essa ousadia teórica e a comprovação experimental por Bristol fizeram de Yukawa o primeiro Nobel do Japão, em 1949.

            O traço mais longo –0,6 mm de comprimento, daí a necessidade de um microscópio para visualizar essas dimensões – era um ‘elétron’ pesado (na época, méson mi; hoje, múon) [Em tempo: acredita-se que o boro tenha ajudado a imagem em questão a não se apagar com o tempo.]

            A descoberta teve repercussão significativa na comunidade internacional. Um dos motivos: mostrava que havia dois mésons de natureza distinta, encerrando uma das controvérsias científicas mais abrasadas (e interessantes) do século passado sobre a constituição da matéria. As melhores mentes do planeta se envolveram nessas discussões, tanto teóricos quanto experimentais.

            Porém. O H. H. Wills só tinha, naquele momento, dois eventos mostrando a desintegração (ou decaimento) de um méson pi em um múon. Serviu para comprovar a descoberta de um (píon) e a natureza do outro (múon). Mas, mesmo numa época em que a imagem tinha força de comprovação, dois era um número baixo de eventos, impossibilitando calcular propriedades dessas duas partículas.

            Lattes volta à cena. Vai ao Departamento de Geografia da Universidade de Bristol, ‘descobre’ o monte Chacaltaya, na Bolívia, a mais de 5 mil metros de altitude. Consegue algum dinheiro com a universidade e segue para os Andes com caixas de emulsões nucleares. Deixa as chapas expostas lá por cerca de um mês e volta para recolhê-las.

            Ao revelá-las, em Bristol, a equipe do H. H. Wills encontra centenas de eventos, sendo cerca de 30 deles decaimentos completos – ou seja, as duas trajetórias nos limites da emulsão – do píon em múon. Com base nesses achados, Lattes, Occhialini e Powell publicam dois artigos no final daquele 1947, com a relação das massas dessas duas partículas, por exemplo. Outro desdobramento da viagem de Lattes à Bolívia: a ‘descoberta’ de Chacaltaya para a comunidade científica de físicos. E isso teve desdobramentos importantes para a física no Brasil e na América Latina – mas é história para outra oportunidade.

            A esta altura, o leitor deve estar se perguntando qual a relação desse mosaico abstrato com a modernização do Brasil.

            À resposta, então.

            No final de 1948, depois de palestras e uma visita ao físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), em Copenhague, por conta da repercussão da descoberta do píon, Lattes pôs seu plano em ação: ver se o então maior acelerador do mundo, no Laboratório de Radiação, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, poderia produzir píons.

            O brasileiro chegou a Berkeley no início de 1948. Cerca de 10 dias depois, trabalhando com o norte-americano Eugene Gardner (1913-1950), indicou a presença de trajetórias características de píons nas emulsões nucleares.

            A produção por máquina (ou artificial) do píon teve enorme repercussão nos EUA. Razão principal: foi a solução de uma situação que já começava a ficar constrangedora para o idealizador daquele equipamento, Ernest Lawrence (1901-1958), Nobel de Física de 1939, que havia enterrado no chamado sincrociclótron uma pequena fortuna para época (US$ 1,7 milhão), dinheiro obtido junto ao governo e à iniciativa privada dos EUA. O acelerador, afinal, havia sido construído para produzir… píons. Mas, em quase um ano e meio de funcionamento, aquela lasca específica de matéria, objeto do desejo de teóricos e experimentais, teimava em não dar as caras por lá.

            Lattes personificava, naquele momento, nas palavras do historiador da ciência Peter Galison, a transferência de uma técnica da Europa – onde ela havia nascido e se desenvolvido nas últimas quatro décadas – para os EUA, onde ela ainda engatinhava.

            A confirmação de que o homem podia produzir píons mostrava – e isso é importante – que a tecnologia empregada no sincrociclótron (estabilização de fases, no vocabulário da física) funcionava. E, com ela, seria possível construir máquinas maiores – está aí, a meu ver, a raiz das dezenas de aceleradores de partículas que inundaram os EUA a partir da década de 1950.

            Com a desculpa de que havia produzido o píon, mas não sabia bem por quê, Lawrence arrancou milhões da poderosa (e rica) Comissão de Energia Atômica dos EUA. E o gigantesco Bévatron, muito mais potente que o sincrociclótron, entrou em funcionamento em 1954, para produzir antimatéria.

            Lawrence sempre ‘vendeu’ o píon com um tipo de salvador da humanidade, prometendo que a partícula não só combateria o câncer, mas também daria origem a novas fontes de energia (intra)nuclear e tecnologias inovadoras para bombas nucleares (a dita bomba mesônica). A imprensa norte-america reagiu a isso, cobrindo amplamente a produção do píon, comparando (sem modéstia) o feito a uma nova descoberta da América. O New York Times foi taxativo: resultado mais importante da física daquele 1948. Os astros da vez eram Lattes e Gardner – este morto precocemente. Capa de revistas semanais, ensaios de fotos para a prestigiosa Time-Life, reportagens do NYT, coletivas de imprensa, palestras…

            A gratidão de Lawrence pode ser medida por seu gesto: ofereceu gratuitamente ao Brasil um acelerador de partículas ou a possibilidade de o país enviar técnicos para os EUA para aprenderem a construir esses equipamentos – que já eram vistos, devido ao início da Guerra Fria, como tecnologias sensíveis. Para o Brasil, porém, nenhum desses dois cenários se concretizou. Em um entusiasmo sem fundamentos – capitaneado pelo almirante Álvaro Alberto da Mota e Silva (1889-1976) –, resolveu-se, anos mais tarde, por conta própria, construir um acelerador ainda mais potente que o sincrociclótron. Falhamos fragorosamente. Faltava dinheiro, equipamentos adequados e recursos humanos especializados.

            Há alguns indícios históricos (e não mais do que isso) de que Álvaro Alberto, ao se contrapor aos planos de doção e/ou construção de Lawrence, tenha criado uma rusga com Lattes. Reforça essa hipótese o fato de a imagem que abre este ensaio ter sido feita pelo físico brasileiro – que pediu a assinatura nela de Powell e Occhialini – para presentear o almirante. No entanto, virou presente de Lattes a seu grande amigo Alfredo Marques.

            No Brasil, os feitos científicos de Lattes foram propagandeados pelo físico José Leite Lopes (1918-2006), que viu no fato de termos “nosso herói da Era Nuclear” – expressão atribuída a Lattes pelo jornalista e escritor Bernardo Kucinski, que, ainda na década de 1990, generosamente, me indicou a existência de documentação histórica no H. H. Wills e fez crescer em mim o interesse pela história contada aqui – a chance de levar adiante os anseios da comunidade de físicos e de outros cientistas da época: pesquisa, ensino e dedicação integral nas universidades.

            Leite, sempre articulado, reuniu em torno dele, além de cientistas, militares, artistas, intelectuais, empresários e jornalistas. Desse movimento, nasceu o Centro Brasileiro de Pesquisa Físicas, no Rio de Janeiro (RJ), tendo Lattes, aos 24 anos de idade, como seu primeiro diretor científico. A reboque do CBPF, veio o então Conselho Nacional de Pesquisas (hoje, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e várias instituições ligadas à estrutura político-admnistrativa da ciência no Brasil, bem como centros de pesquisa e universidades.

            Ciência era parte de nosso projeto de nação.

            Aqueles dois risquinhos alavancaram a modernidade (científica, pelo menos) do Brasil. Aquela fotografia, a meu ver, merece, portanto, lugar em nosso (improvável) museu da cultura material do povo brasileiro.

            Para finalizar, um historiador da física italiano que andou vasculhando os arquivos do Centro para a História da Ciência da Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo, onde estão os arquivos relativos ao Nobel, informou: há lá pasta com etiquetas das quais constam dois nomes, Gardner e Lattes. É provavelmente resultado da indicação dos então dois jovens cientistas ao prêmio. Muito certamente, como já foi dito, lobby do próprio Lawrence e colegas.

            Seria grande serviço à história da ciência desse país saber o que há naquela pasta.
 
Por Cássio Leite Vieira
Publicado em 08/07/2012, Revista Pittacos.

Estudo sugere um novo tipo de ligação química em estrela


            Em vez de ceder ou compartilhar elétrons, átomos seriam unidos por um campo magnético poderoso. Proposta teórica prevê que apenas condições muito extremas, perto de cadáveres estelares, gerariam o fenômeno.

            Todo mundo aprende na escola que átomos podem se ligar de dois modos: cedendo (e recebendo) ou compartilhando elétrons. Agora, um grupo de cientistas faz uma descoberta que obriga a uma revisão dos livros didáticos, ao demonstrar a existência de um terceiro método.

            Detalhe: isso só acontece em ambientes submetidos a campos magnéticos extremos. Nada que possa se dar na Terra, ou mesmo no Sol, mas só em objetos muito densos, que produzem copiosa intensidade de magnetismo.

            É o caso das anãs brancas e das estrelas de nêutrons. Ambas são cadáveres estelares, por assim dizer -objetos que um dia foram estrelas convencionais, mas esgotaram seu combustível e tiveram seu núcleo esmagado pela gravidade, compactando sua matéria ao extremo.

            Simulando em computador o que aconteceria com átomos nas vizinhanças desses objetos, compondo sua atmosfera, o quarteto liderado pelo norueguês Trygve Helgaker, da Universidade de Oslo, constatou que eles podem se ligar em moléculas.

            Mas o elo descoberto não se forma nem por ligações covalentes (em que átomos compartilham elétrons) nem por ligações iônicas (em que um átomo doa elétrons a outro). No caso, quando os átomos estão posicionados perpendicularmente à direção do supercampo magnético, isso faz com que se liguem.

Paramagnética - A reação, chamada de ligação paramagnética, é uma novidade no mundo da química e pode produzir moléculas improváveis, como hélio molecular (He2). O "gás nobre" hélio não costuma se combinar em moléculas -daí o apelido de "nobre". "Claramente essa ligação magnética não tem papel na química do cotidiano", disse Helgaker. "Mas ainda assim é interessante saber que uma ligação pode ser criada por forças magnéticas, embora ela só possa ter um papel sob condições astrofísicas extremas."

            Até agora, as simulações de computador do grupo de Helgaker trabalharam só com átomos de hidrogênio e hélio -os menores e mais simples. "Nosso programa pode ser usado para átomos mais pesados, mas então temos de aplicar um modelo computacional mais simples, menos preciso", explica o pesquisador, revelando que a equipe pretende continuar explorando o campo, analisando reações e moléculas mais complexas que podem nascer de ligações paramagnéticas.

            Por ora, contudo, todos os resultados estão restritos à teoria. Não existem métodos capazes de produzir na Terra, nem por um instante, campos magnéticos tão intensos. Contudo, Peter Schmelcher, cientista da Universidade de Hamburgo (Alemanha) que não participou da pesquisa, pede que não se perca a esperança para o futuro.

            "A energia dos campos disponíveis está crescendo paulatinamente, em particular para campos magnéticos pulsados no regime [faixa] dos mili ou microssegundos", comentou, em artigo publicado na mesma edição em que saíram os resultados de Helgaker, na revista especializada americana "Science".

(Folha de São Paulo)
 

O fantasma de um inseto

            Nova espécie encontrada em depósitos de 370 milhões de anos na Bélgica é tema da coluna de Alexander Kellner deste mês. Embora não esteja bem preservado, o fóssil pode ajudar na compreensão dos estágios iniciais da ocupação dos ambientes terrestres.
 
Fóssil de ‘Strudiella devonica’, inseto que media 8 milímetros de comprimento e viveu há 370 milhões de anos. Seu registro na rocha se assemelha a um ‘borrão’ de coloração escura. (foto: Nel et al)

             Ao olhar para Strudiella devonica, a primeira impressão não poderia ser mais decepcionante: um verdadeiro ‘borrão’ de coloração escura que mais se parece com a sombra – ou o ‘fantasma’ – do que outrora representava um inseto. Ele somente pode ser notado por estar preservado em uma rocha de coloração mais clara. Fora do contexto geológico, esse fóssil correria grande risco de passar despercebido ou mesmo ser descartado.
            Mas justamente o contexto geológico faz com que esse material seja considerado um dos principais achados dos últimos anos para o entendimento de como ocorreu a evolução dos insetos e o seu subsequente domínio dos ambientes terrestres. Não é à toa que o trabalho realizado por Romain Garrouste, do Museu Nacional de História Natural de Paris (França), e colaboradores foi recentemente publicado com destaque na prestigiosa Nature.
 Um fóssil de pequenas dimensões
            O único exemplar conhecido de Strudiella devonica tem 8 milímetros de comprimento – menos da metade de uma moeda de 10 centavos! É procedente de camadas encontradas na localidade conhecida como Strud, situada na província de Namur, no sul da Bélgica. Esse depósito foi formado há aproximadamente 370 milhões de anos e compreende a parte superior do período geológico denominado Devoniano, também conhecido como ‘idade dos peixes’ e no qual surgiram os primeiros tubarões.
            O único exemplar conhecido de Strudiella devonica tem 8 milímetros de comprimento – menos da metade de uma moeda de 10 centavos!
            Apesar de a maior parte da diversidade da vida se concentrar nos mares durante o Devoniano, foi nesse período que ocorreu uma rápida colonização dos ambientes terrestres pelas plantas – em especial, as samambaias –, que formaram extensas florestas. Também nesse período se deu o início da ocupação da terra pelos animais, tanto vertebrados como invertebrados.
            Os depósitos de Strud são muito bem conhecidos na literatura científica pela ocorrência de diversos exemplares de tetrápodes (animais com quatro patas) basais. O exemplar de Strudiella foi descoberto em camadas de um antigo lago de água doce que abrigava, além de restos de plantas, diversos crustáceos e artrópodes, como os euriptéridos, popularmente conhecidos como escorpiões-marinhos, embora não tenham qualquer parentesco com os escorpiões atuais.
            Apesar do diminuto tamanho, pode-se reconhecer em Strudiella uma região torácica separando a cabeça e o abdômen. Também podem ser identificados três pares de pernas, uma das principais características do grupo Hexapoda, que inclui os insetos (grupo de animais mais diversificado de todos os tempos).
 
Desenho interpretativo de 'Strudiella devonica', em que é possível observar cabeça, tórax e abdômen separados, característica que, juntamente com a presença de três pares de patas, indica tratar-se de um hexápode. (ilustração: Nel et al/ Nature)
            O exemplar também apresenta um par de antenas, olhos grandes e uma mandíbula, que, segundo Romain Garrouste e colaboradores, indica uma forma onívora. Não foram encontrados restos de asas, o que levou os pesquisadores a classificar o único exemplar encontrado como uma ninfa. Ou seja, o indivíduo ainda não havia completado a sua metamorfose e, desse modo, não sabemos como era a aparência do animal adulto.
 

Fechando a lacuna

            O nosso conhecimento a respeito da evolução dos insetos é necessariamente restrito ao registro fossilífero – como acontece, aliás, com qualquer outro grupo. O grande problema em relação aos insetos é que, pelo fato de eles serem bastante frágeis, sua preservação nas rochas é compreensivelmente mais difícil.
            De acordo com os fósseis, sabemos que os insetos se originaram entre 425 milhões e 385 milhões de anos. Depois, sabe-se que houve uma diversificação durante o período Carbonífero, mais especificamente há 325 milhões de anos, quando o registro fossilífero apresenta uma variedade muito grande de formas e aponta o surgimento de vários grupos.
            Entre 385 milhões e 325 milhões de anos atrás, existia uma lacuna em que praticamente não se encontrou qualquer registro de insetos nas rochas. Por isso, o achado de Strudiella devonica é realmente fantástico: embora o exemplar não esteja bem preservado, ele diminui esse intervalo para 45 milhões de anos.
            A identificação desse pequeno exemplar levou os autores a sugerir que a diversificação dos insetos deve ter sido mais antiga do que se supõe
            Outro ponto interessante é que a justificativa usada para o fato de não haver registros de insetos em depósitos formados entre 385 milhões e 325 milhões de anos atrás era a quantidade relativamente restrita de oxigênio na atmosfera terrestre reinante durante aqueles tempos, o que resultaria em uma baixa variedade de espécies.
            Mas a identificação desse pequeno exemplar levou os autores a sugerir que a diversificação dos insetos deve ter sido mais antiga do que se supõe, hipótese que poderá ser comprovada apenas com novas descobertas. Possivelmente, a ausência de fósseis do grupo nesse período seria o que se chama de artefato tafonômico, ou seja, uma questão de não terem sido encontrados depósitos que apresentassem as condições necessárias para a preservação de animais tão frágeis como os insetos.
            Seja como for, a descoberta desse único indivíduo de Strudiella devonica, além de abrir a possibilidade de novos achados, claramente demonstra que nem sempre os fósseis mais importantes são os que estão mais bem preservados. Às vezes, são os pequenos registros que nos fornecem grandes resultados.
            Levando-se em conta as últimas notícias, vale dizer: nada como um dia após o outro na vida de um paleontólogo...

Alexander Kellner
Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
Ciência Hoje On-line, Publicado em 13/08/2012 | Atualizado em 13/08/2012.
 

Paleocurtas


As últimas do mundo da paleontologia (clique nos links sublinhados para mais detalhes)

1) Vincent Balter (Laboratoire de Géologie de Lyon, França) e colegas aumentam a controvérsia a respeito da alimentação dos primeiros hominídeos. Uma das teorias que procuram explicar o sucesso do gênero Homo em se tornar o grupo de hominídeos dominante no planeta baseia-se na concepção de que esse gênero teria uma dieta alimentar mais variada do que a dos demais e estaria, portanto, mais bem adaptado a mudanças ambientais. No entanto, ao realizar análises isotópicas em dentes de espécies extintas, o novo estudo, publicado na Nature, determinou que, ao contrário do que se pensava, a dieta de Australopithecus – um parente mais distante do homem moderno – era mais variada que a de Homo.

2) Roger Benson (University of Cambridge, Inglaterra) e colegas publicaram na PLoS One uma revisão do registro de dinossauros terópodes procedentes de depósitos cretáceos da região sul da Austrália. Os pesquisadores concluíram que existem evidências da presença de pelo menos nove espécies de terópodes, que poderiam representar no mínimo três grupos distintos e cujo tamanho poderia variar de 2 a 8,5 metros de comprimento. Como esses grupos deveriam ter uma distribuição cosmopolita durante o Jurássico, os autores defendem que as formas consideradas típicas do Gondwana (supercontinente do sul, originado após a divisão da Pangeia, que há milhões de anos reunia todos os continentes do planeta) teriam se diferenciado não por causa da fragmentação dos continentes, mas sim devido ao endemismo criado por questões climáticas.

 3) Já está finalizada a programação do VIII Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, que será realizado entre 27 e 31 de agosto no Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife. Bastante variado, o evento terá palestras, minicursos e mesas-redondas, além da apresentação de alguns dos principais avanços científicos na pesquisa de vertebrados fósseis. Não perca!
 
4) Ainda falando sobre eventos científicos, está em plena organização o Rio Ptero 2013, que ocorrerá entre 23 e 26 de maio do próximo ano. Sediada no Museu Nacional/UFRJ, essa reunião científica, de caráter internacional, irá congregar os principais pesquisadores envolvidos no estudo dos pterossauros. Também será organizada uma exposição de paleoarte exclusiva sobre esses répteis alados. Mais informações no site do evento.
 
5) A descrição do primeiro crânio de um dinossauro saurópode completo do Cretáceo dos Estados Unidos acaba de ser publicada na Naturwissenschaften. Abydosaurus mcintoshi é procedente da Formação Cedar Mountain, do parque Dinosaur National Monument (Utah, Estados Unidos), e está proximamente relacionado ao Brachiosaurus, que é bem mais antigo e vivia durante o Jurássico. No trabalho, também é feita uma análise da dentição dos saurópodes, que demonstra o desenvolvimento em diferentes espécies de dentes mais estreitos, que eram substituídos mais rapidamente do que nas espécies mais basais.

6) Rafael Costa da Silva (CPRM, Rio de Janeiro) e colegas encontraram duas pegadas de um grande dinossauro carnívoro em depósitos da Formação Caturrita, que afloram na localidade de Faxinal do Soturno (Rio Grande do Sul). Acredita-se que essas rochas tenham se formado durante o Triássico Superior, mas o novo material, aliado a informações de plantas fósseis, sugere uma idade mais nova, talvez até mesmo jurássica. O estudo foi publicado no Journal of South American Sciences.

 

Eletrodo desenvolvido no Brasil reduz custo de exame da retina



Versão criada por pesquisadores da Unifesp é cerca de quatro vezes mais barata que a importada e pode ampliar o acesso à eletrorretinografia (divulgação).

            Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram a versão nacional de um eletrodo usado na eletrorretinografia (ERG), exame que permite avaliar respostas elétricas da retina a estímulos luminosos e ajuda no diagnóstico de doenças oculares.
            Os resultados do trabalho foram apresentados durante a 27ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em Águas de Lindoia entre os dias 22 e 25 de agosto.
            “O Brasil atualmente importa esses eletrodos, que são descartáveis e custam entre US$ 30 e US$ 40 cada. Desenvolvemos um produto similar, mas com preço quatro vezes menor”, contou Adriana Berezovsky, coordenadora da pesquisa financiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
            O eletrodo tem cerca de 3 centímetros e, como a versão importada, é feito de fibra de tecido com um filamento de prata. Durante a realização do exame, é introduzido no saco conjuntival da pálpebra inferior e permite captar os sinais elétricos emitidos pelas células da retina em resposta aos estímulos luminosos disparados pelo aparelho de ERG.
            “Não há necessidade de anestesia. O paciente sente apenas um leve incômodo durante a colocação”, afirmou Berezovsky.
            A retina humana possui dois tipos de fotorreceptores, que são células responsáveis por captar a luz e retransmitir o impulso elétrico para outras células e para o nervo óptico.
            “Os bastonetes são responsáveis pela visão noturna e os cones, pela diurna. Mas algumas doenças causam a morte dessas células. Isso pode levar, por exemplo, à cegueira noturna ou à perda de visão periférica”, explicou a pesquisadora.
            O ERG permite avaliar o funcionamento dos cones e dos bastonetes e, segundo Berezovsky, pode ajudar o oftalmologista a identificar problemas que, muitas vezes, precedem alterações perceptíveis no exame de fundo de olho, no qual o médico visualiza as estruturas que formam a retina.
Validação
            Os pesquisadores testaram o eletrodo nacional em um grupo de 50 voluntários saudáveis e compararam os resultados com o de exames feitos com o equivalente importado. O desempenho de ambos foi similar. Os dados foram publicados nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, em 2008.
            No ano seguinte, com auxílio da FAPESP por meio do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI/Nuplitec), a equipe entrou com pedido para patentear o eletrodo, que ainda está pendente.
            Desde então, os pesquisadores têm comparado o desempenho da versão nacional e da importada em voluntários com doenças na retina. “Já testamos em cerca de 50 pacientes e tivemos bons resultados, mas ainda precisamos ampliar a amostra”, disse Berezovsky.
            Os estudos têm sido feitos com doenças hereditárias como retinose pigmentária, distrofia de cones e doença de Stargardt. Os resultados preliminares foram apresentados no congresso da Association for Research in Vision and Ophthalmology (ARVO), o mais importante da área.
            O eletrodo também tem sido testado para uso veterinário. O funcionamento da versão nacional foi comparado com o da versão importada em dez cães saudáveis da raça yorkshire terrier, com resultados parecidos.
            “Os dados já foram submetidos para publicação em revista internacional. Agora pretendemos testar o eletrodo em cães com doenças na retina”, disse Berezovsky.
            A equipe pretende também aperfeiçoar o modelo desenvolvido no Brasil. “Estamos estudando o tamanho e o material, para melhor adequar o eletrodo às necessidades do país”, disse.
Por Karina Toledo, 27/08/2012 (Agência FAPESP).

sábado, 25 de agosto de 2012

Tome Ciência: Nanotecnologia: quanto menor, melhor


Programa pode ser visto, a partir do próximo sábado (25) e ao longo da semana, pela TV e pela internet.

O mundo esta à beira de uma nova revolução tecnológica, desde que os cientistas aprenderam a sintetizar e manipular moléculas e átomos individualmente. A utilização de átomos como unidade básica permite, em teoria, a construção de nanomáquinas, capazes de realizar tarefas até agora inimagináveis. Nano é o prefixo grego que indica um bilionésimo. Um nanômetro (bilionésimo de metro) é a escala de comprimento de átomos ou moléculas simples. Parece ficção cientifica, mas algumas aplicações já existem na química, na biologia e em outras áreas da ciência. Essa nova promessa da ciência, a nanotecnologia, é o tema do debate de especialistas.

Participantes - Fernando Lazaro, diretor do Departamento de física da PUC-Rio e então coordenador do Instituto Virtual de Nanotecnologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, atualmente diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).  Paulo Bisch, professor titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Instituto Virtual de Bioinformatica e Modelagem de Biosistemas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro. Bartira Rossi Bergmann, professora adjunta do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ e chefe do Laboratório de Imunofarmacologia. Marcos Pimenta do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais.

Confira os canais que transmitem o Tome Ciência:

- Na RTV Unicamp, da Universidade Estadual de Campinas (canal 10 da Net Campinas), às 15 horas dos sábados, 21 horas dos domingos, às 15 horas das terças e às 24 horas das quintas-feiras, além da internet (www.rtv.unicamp.br).

- Na TV Alerj, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, às 20 horas dos domingos, com reprises às 20,30 horas das quintas, por satélite (Brasilsat - B4 at 84° W / taxa de símbolos = 3,0 MSps / frequência Banda-C = 3816,0 MHz / FEC = ¾ / frequência banda-L = 1334,0 MHz / polarização = horizontal), pela internet (www.tvalerj.tv) e pelos sistemas a cabo das seguintes cidades do estado: Angra dos Reis (14), Barra Mansa (96), Cabo Frio (96), Campos dos Goytacazes (15), Itaperuna (61), Macaé (15), Niterói (12), Nova Friburgo (97), Petrópolis (95), Resende (96), Rio de Janeiro (12), São Gonçalo (12), Teresópolis (39), Três Rios (96) e Volta Redonda (13).

- Na TV Ales, da Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo (canal 12 da Net), às 17 horas dos sábados e domingos, com reprises durante a programação.

- Na TV Assembleia, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (em Campo Grande pelo canal 9, em Dourados pelo canal 11, em Naviraí pelo canal 44 e internet - (www.al.ms.gov.br/tvassembleia), às 20 horas dos sábados, com reprises durante a programação.

- Na TV Assembleia do Piauí, às 12 horas dos sábados e às 20 horas dos domingos, pelo canal aberto (16) em UHF, em Teresina, e nas reprodutoras de 22 municípios do Piauí e um do Maranhão, além do satélite (Free-to-Air FTA em modo aberto - Satélite NSS 10 (Starone C2) ou AMC-12 Banda C - Posição orbital dos 37,5º Oeste [W] - Frequência: 3831 - Polarização: Horizontal SR 2893 e FEC ¾).

- Na TV Câmara Angra dos Reis, da Câmara Municipal de Angra dos Reis (canal 14 da Net e internet), às 19 horas das quartas-feiras, com reprises durante a programação.

- Na TV Câmara, da Câmara Municipal de Bagé (canal 16 da Net) durante a programação e no horário fixo das 20 horas das quintas-feiras.

- Na TV Câmara Caxias do Sul, da Câmara Municipal de Caxias do Sul/RS(canal 16 da Net) e pela internet (www.camaracaxias.rs.gov.br), às 12 horas dos sábados, com reprises às 12 horas dos domingos, 16 horas das segundas, 16 horas das terças, 16 horas das quartas, 16 horas das quintas e 20:15 das sextas-feiras.

- Na TV Câmara de Jahu, da Câmara Municipal de Jaú/SP, transmitida pelo canal 99 da Net, pela internet (www.camarajau.sp.gov.br) e pelo sinal aberto digital 61.4, às 21 horas dos sábados e 14 horas dos domingos.

- Na TV Câmara de Lavras, da Câmara Municipal de Lavras/MG, transmitida pelo canal 15 da Mastercabo, às 18 horas dos sábados e domingos.

- Na TV Câmara Pouso Alegre, da Câmara Municipal de Pouso Alegre/MG, transmitida em sinal aberto de TV Digital (59) e pelo canal 21 da Mastercabo, sempre às 18,30 horas das sextas, com reprises durante a programação.

- Na TV Câmara de São Paulo, da Câmara Municipal de São Paulo (canal 13 da NET, 66 e 07 da TVA), às 13 horas dos domingos e 15 horas das segundas, com reprises durante a programação.

- Na TVE Alfenas, afiliada da Rede Minas, em canal aberto (2) e no cabo (8) em Alfenas e por UHF aberto nas cidades de Areado (54) Campos Gerais (23) e Machado (31), além do site www.tvalfenas.com.br, sempre às quintas, a partir das 17 horas.

- Na TV Feevale, da Universidade Feevale de Novo Hamburgo/RS (canal 15 da Net), às 9 horas das terças e quintas-feiras, com reprises durante a programação.

- Na TV UFAM, da Universidade Federal do Amazonas (canal 7 e 27 da Net), com estreia semanal às 16 horas dos sábados e reprises durante a programação.

- Na TV UFG, da Universidade Federal de Goiás, transmitida em canal aberto (14), aos sábados, às 15 horas.

- Na TV UFPR, da Universidade Federal do Paraná, pelos canais 15 da Net e 71 da TVA, às 17 horas dos sábados. Os programas ficam à disposição (on demand) em www.tv.ufpr.br.

- Na TV Unifev, do Centro Universitário de Votuporanga/SP, transmitida em canal aberto (55) UHF para mais 25 municípios da região, nos fins de semana, com estréias aos sábados, às 18 horas, e reprises às 12 horas dos domingos.

- Na TV Unifor, da Universidade de Fortaleza, transmitida pelo canal 4 da Net, nos dias ímpares dos meses ímpares e dias pares dos meses pares, sempre nos horários de 10.30, 15,30 e 22.30 horas.

- Na TV Univap, da Universidade do Vale do Paraíba, com duas exibições diárias em horários rotativos, sempre nos canais a cabo 14 das cidades de São José dos Campos, Jacareí e Taubaté.

- Na UNOWEBTV, da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (SC) - UNOCHAPECÓ, mantida pela Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste - FUNDESTE, transmitida pelo canal 15 da Net local e pela internet (www.unochapeco.edu.br/unowebtv), com estreia às 21 horas dos sábados e reapresentações às terças e quintas-feiras às 21 horas.

Além disso, o programa pode ser visto a qualquer hora no site: http://www.tomeciencia.com.br. O programa, apresentado pelo jornalista André Motta Lima, tem o apoio de pauta das sociedades vinculadas à SBPC, além de um Conselho Editorial de cientistas.

(Informações do Tome Ciência)

CNPq e Oxford ampliam cooperação no Ciência sem Fronteiras


Carta de intenções assinada pelo presidente do CNPq e pelo vice-reitor da universidade britânica objetiva ampliar a cooperação Brasil-Reino Unido em ciência e tecnologia.

O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, e o vice-reitor da Universidade de Oxford, Andrew Hamilton, assinaram na tarde desta quarta-feira (22), na sede do CNPq, uma Carta de Intenções com o objetivo de ampliar a cooperação entre o Brasil e o Reino Unido nas áreas de ciência e tecnologia.

Considerada a melhor universidade do Reino Unido e a quarta melhor do mundo, Oxford é a primeira e mais tradicional instituição de ensino superior de língua inglesa, sendo reconhecida pela qualidade de seu ensino em diversas áreas do conhecimento. Foi uma das primeiras universidades a fundar um centro de estudos brasileiros, na década de 1990.

Para o vice-reitor, Andrew Hamilton, "a assinatura do acordo beneficia diretamente as áreas médicas, engenharias e ciências da vida e pode inspirar o estudante de outras áreas a ver Oxford como uma possibilidade para seus estudos. Os estudantes brasileiros que forem para Oxford por meio do acordo vão contribuir para além de suas áreas de formação quando retornarem ao Brasil".

Atualmente, a Universidade de Oxford já faz parte do Programa Ciência sem Fronteiras, tendo sido concedidas 15 bolsas pelo programa para alunos brasileiros. Dessas 15 bolsas iniciais, 5 estudantes se encontram em Oxford, 3 lá estiveram e já retornaram ao Brasil e 7 ainda não viajaram, estando em fase de preparação para o intercâmbio.

Segundo o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, "embora a Universidade de Oxford já esteja fazendo parte do Ciência sem Fronteiras através do acordo global assinado pelo CNPq com o órgão que representa todas as grandes universidades britânicas, o Universities UK, a intenção do acordo específico é ampliar a parceria, com o envio de mais bolsistas brasileiros para Oxford. A criação deste acordo sinaliza para a comunidade de estudantes e pesquisadores brasileiros de que as oportunidades estão abertas, com o apoio do Governo Brasileiro e da Universidade de Oxford."

A cooperação contemplará a concessão de bolsas para estudantes brasileiros por meio do Programa Ciência sem Fronteiras. Poderão concorrer estudantes brasileiros de pós-graduação das áreas de medicina, física, matemática e ciências da vida, que não residam em países da União Européia e pretendam retornar ao Brasil após a conclusão dos estudos.
(Ascom do CNPq)

Apetite por energia, artigo de Drausio Atalla e Carlos Henrique Mariz


Drausio Atalla e Carlos Henrique Mariz são técnicos da Eletronuclear. Artigo publicado no jornal O Globo de hoje (24).

Assentada no centro da economia mundial, a energia constitui o elemento chave da política e da diplomacia. É chave da segurança, da soberania e da dignidade humana no século XXI. O desenvolvimento econômico do Brasil cria um apetite por energia que poderá ser atendido apenas mediante a expansão de todos os combustíveis. Ainda não existe solução capaz de compatibilizar as quatro vertentes da sustentabilidade: custo acessível, abundância, limpeza ambiental e segurança de suprimento. O melhor a fazer é diversificar. Como consequência, a diversificação de fontes supridoras assume um papel crucial na estruturação dos sistemas de eletricidade. Advogar a exclusão de qualquer dessas fontes é um desserviço para a nossa sociedade.

Diante do crescimento dos últimos anos, praticamente toda nossa infraestrutura se tornou obsoleta e diminuta. A ascensão socioeconômica de milhões estressa nossos sistemas de saúde, educação, segurança, habitação e saneamento. Em todas as áreas encontramos evidências de um sapato pequeno, apertando e se esgarçando, diante do crescimento do pé. Quem é grande, frequentemente tem o pé grande. Um pé grande ocupa espaço e, vez por outra, pisa nos outros - o que leva à necessidade de defesa, onde também precisamos crescer.

Vejamos o setor de eletricidade. Consumimos apenas 2.400 KWh/pessoa/ano, diante de um consumo mínimo de 5.000 entre os países desenvolvidos, chegando ao despropósito de 15.000, em alguns países. O vínculo entre consumo de eletricidade e desenvolvimento humano talvez seja o mais íntimo entre as infraestruturas e o estado de bem-estar social. Onde puder ser instalado um motor elétrico nenhuma outra máquina será tão eficiente quanto este equipamento - o que exprime a importância dos sistemas de eletricidade de um país.

Diante do longo tempo de maturação de um empreendimento de geração elétrica e considerando que a exaustão de nossas fontes hidráulicas ocorrerá num prazo de 10 a 15 anos, precisamos urgentemente expandir outras fontes de eletricidade. Tanto as renováveis, porém intermitentes, quanto as de base.

A visão de centrais nucleares em locais selecionados a partir de dezenas de critérios e utilizando a tecnologia mais avançada, com investimentos complementares do Estado e do capital privado, pode atenuar a necessidade de infraestrutura de geração elétrica. A visão de três grandes centrais nucleares, com até seis unidades no Sudeste, no Sul e no Nordeste, dobraria nossa capacidade nacional de geração, trazendo segurança de abastecimento e preços acessíveis, além de impulsionar as economias dessas regiões. Grande parte dessa infraestrutura pode ser instalada com capital privado amortizável em 15 anos. Dessa maneira, nos beneficiaríamos com eletricidade abundante e acessível pelo resto do século. O que estamos esperando?

* A equipe do Capela da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do blog.

Nova plataforma de tratamento do câncer


Pela primeira vez no Brasil, uma nova plataforma de tratamento contra o câncer de mama começa a ser comparada aos tratamentos convencionais. O estudo iniciado pelo pesquisador Raul Maranhão, da Universidade de São Paulo, encontra-se na fase dois de estudos clínicos no Hospital Pérola Byington, de São Paulo, sob a direção do professor Roberto Hegg.

A nova abordagem de tratamento desenvolvida pela equipe de Maranhão consiste em encapsular o quimioterápico convencional com a partícula LDE, que é muito parecida com o LDL (lipoproteina de baixa densidade), porém sem a proteína de membrana apo B, que é altamente hidrofóbica e muito grande.

A célula neoplásica, por apresentar uma alta taxa de multiplicação, superexpressa receptores de LDL. Quando injetada na circulação, a LDE se ligará com mais afinidade que o LDL nos receptores e terá uma concentração até seis vezes maior no tumor do que nos outros tecidos. Estudos de toxicidade mostraram uma redução de até dez vezes nos efeitos colaterais desta nova metodologia. "A ação da LDE torna a droga mais efetiva na sua ação antitumoral", explica Raul.

Atualmente, os pesquisadores realizam testes em pacientes com câncer de mama para comparar a eficácia do tratamento convencional com a nova plataforma proposta. Nessa fase do estudo clínico, um grupo com 30 pacientes recebe o esquema convencional onde são utilizados os quimioterápicos taxol, adriamicina e ciclofosfamida injetados de forma livre no organismo. Outro grupo, também 30 pacientes, recebe a adriamicina e a ciclofosfamida de forma livre e o taxol encapsulado pela partícula LDE.

"Por mais que os testes clínicos ainda estejam na metade do caminho, os resultados preliminares parecem promissores", afirma Maranhão. Apesar de dois dos três quimioterápicos ainda serem administrados de forma livre, somente o encapsulamento de um quimioterápico já foi o suficiente para reduzir drasticamente os efeitos colaterais.
Esse projeto tem parceria com a indústria farmacêutica Cristália que possui interesse nesse novo sistema para o uso com os quimioterápicos paclitaxel e etoposide.

Além do tratamento de câncer, essa nova plataforma pode ser utilizada para vários outros processos inflamatórios crônicos e já é objeto de estudos do grupo para doenças como artrite reumatóide, aterosclerose, doença coronária do transplante e endometriose.
Esses resultados foram divulgados durante a 27ª Reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), que termina amanhã (25), em Águas de Lindoia, São Paulo.

(Fonte: Gabriel Machado pela FeSBE)

Ceará terá Centro de Oceanografia e base na Funceme para gestão de risco e resposta a desastres naturais


Funcap apresenta projetos de R$ 150 milhões para agenda comum com o MCTI de apoio à inovação.


O Plano de Gestão de Risco e Resposta a Desastres Naturais, lançado pela presidente Dilma Rousseff com previsão de R$ 18 bilhões para operar nos três primeiros anos, vai investir mais de R$ 1 bilhão na infraestrutura de previsão da secas, seus impactos na sociedade e o aumento da resiliência da população. A maior parcela será aplicada em obras, informou nesta quinta-feira (23), em Fortaleza, o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, no lançamento da Segunda Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação (UNCCD), no Palácio Iracema, sede do governo cearense.

O ministro Marco Antonio Raupp, do MCTI, anunciou, na ocasião, que o Plano de Gestão de Risco vai operar no Ceará por meio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). A aplicação da meteorologia na previsão de chuvas para a distribuição de sementes selecionadas, utilizada no Ceará desde a década de 80, foi citada por ele como exemplo de contribuição da ciência e tecnologia para mitigar os problemas das regiões secas, 40% do planeta, onde vivem mais de dois bilhões de pessoas.

O pouco conhecimento da influência da temperatura do Oceano Atlântico na estação de chuvas foi apontado como fator limitante da previsão da estação de chuvas pelo presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins Rodrigues. O ministro anunciou que será instalado no Ceará um Centro de Pesquisas Oceanográficas do MCTI que contratará pesquisadores, para estudo do Atlântico na faixa equatorial, entre outros temas, e outro no Rio Grande do Sul, que irá conhecer o Oceano no Sul.

Conforme Raupp, será transformado em plataforma de pesquisa oceanográfica, com laboratórios, o navio em fase de aquisição pelo MCTI, investimento de US$ 80 milhões com parceria da Vale e Petrobras. Ele disse ter expectativa de que a compra direta seja anunciada pela presidente Dilma no dia 7 de setembro, "pelo caráter nacional" do investimento. O "laboratório flutuante" será usado pelos pesquisadores das universidades e dos dois Centros - um terceiro está em cogitação para implantação em seguida em Belém, na foz do rio Amazonas.

"Se não tivermos conhecimento, não teremos soberania", disse Raupp com relação às águas territoriais do Brasil, a chamada Amazônia Azul. O navio será operado pela Marinha. O ministro formulou um pleito ao governador Cid Gomes, com quem teve audiência após o lançamento da Conferência da ONU, para que o Ceará ofereça a área onde o Centro Oceanográfico será construído na Beira Mar. 

Raupp confirmou presença em Fortaleza em novembro para o lançamento do Plano de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para o Nordeste, que recebeu este mês em Brasília dos deputados Ariosto Holanda, relator, e José Guimarães, coordenador da Bancada do Nordeste. "Apoio integralmente o Plano capitaneado por dois cearenses", disse o ministro, citando o papel do BNB na iniciativa.

"A ideia é que os programas federais, para terem mais capilaridade e atingirem a ponta do sistema de modo a beneficiarem com ampla repercussão, têm que estar associados com participantes regionais", afirmou Raupp. Segundo ele, a participação da representação da região do Nordeste no Congresso Nacional dará força política a esse sistema integrado entre vários níveis de governo. A execução das políticas públicas envolverá órgãos de fomento e setores do governo do estado que possam se associar com os órgãos fomentadores de ciência e tecnologia com as esferas municipal, estadual e federal, com maior impacto em relação aos seus objetivos, avalia.

O secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, René Barreira, que na reunião representou o governador Cid Gomes, disse que compreende a importância do Plano da Bancada do Nordeste que, segundo ele, será discutido nesta sexta-feira na reunião do Consecti, em Recife. O presidente da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Haroldo Rodrigues Júnior, apresentou ao ministro uma proposta com prioridades apontadas por diversos gestores do sistema de ciência, tecnologia e inovação do estado e elencou projetos com custo estimado por ele em R$ 150 milhões a serem compartilhados pelo MCTI, governo do Ceará, Fundo de Inovação Tecnológica (FIT) da Funcap, Ministério da Saúde e MEC.

O ministro disse ter "ficado bem impressionado" com a organização da articulação das entidades e a visão da Funcap em apresentar as propostas a serem discutidas e propôs como encaminhamento uma reunião com os secretários do MCTI já com os detalhes objetivos dos projetos. "O Ceará pode ser um exemplo de um sistema integrado para apoio à inovação", ele afirmou. Foram feitos ao ministro relatos de trabalho pelos presidentes do Nutec, Lindberg Gonçalves (e do IPDI); da FIEC, Roberto Macedo; da Etice, Fernando Carvalho; e do CTI, Victor Mammana, instituto do MCTI que tem uma base em Fortaleza desde 1996.

No evento, foi firmado um termo de ajuste ao acordo de cooperação entre a Etice e a Rede Nacional de Pesquisa (RNP). O conteúdo define ações e o modo como integrar o Cinturão Digital - a infraestrutura de comunicação de dados e Internet banda larga do Ceará de 2.400 Km de  fibra ótica -, à infraestrutura da RNP. "É crucial ter uma rede só operando no estado", defendeu Raupp. Também foi dada posse ao Conselho Superior da Funcap, integrado por gestores da área pública, privada e pesquisadores.

Como fatores para sediar no Ceará a Segunda Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação, Raupp citou a capacidade do estado por ter realizado a 1ª e a 2ª Conferência Internacional sobre o Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento das Regiões Áridas e Semiáridas (ICID), em 1992 e 2010. Os dois eventos foram coordenados por Antonio Rocha Magalhães, presidente do Comitê Científico da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD) da Organização das Nações Unidas (ONU), presente no lançamento.

"O Ceará tem liderado o conhecimento científico e a aplicação deste conhecimento na direção do desenvolvimento das suas regiões semiáridas e do planeta com grande penetração internacional", assinalou Carlos Nobre, pesquisador na área climática. O secretário do MCTI lembrou que há 20 anos passava 10 dias por mês em Fortaleza, de janeiro a março, para ajudar a Funceme a criar o sistema de previsão de secas, "hoje consagrado nacional e internacionalmente sob liderança do Marco Antônio Raupp, na época diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)". Segundo ele, o estado foi o primeiro a utilizar a previsão climática para a distribuição de sementes na safra, no final dos anos 80, e desde então avançou muito.

Antes desta data, Raupp acrescentou que já andava no Ceará na época em que Ariosto Holanda era secretário da Ciência e Tecnologia do governo Tasso Jereissati para implantar o sistema de previsão de chuvas na Funceme. O ministro disse que o MCTI vai participar de modo efetivo da Conferência com a parceria dos ministérios da Integração Nacional e do Meio Ambiente. "O que se quer é que essa Conferência dê subsídios para políticas que o governo possa e deva implementar", ele afirmou.

Carlos Nobre informou que na Conferência apresentará um estudo sobre como o Brasil se prepara para diminuir a vulnerabilidade aos desastres naturais, com destaque para a seca. Segundo ele, a 2ª Conferência adquire importância capital após a Rio+20 que politicamente não foi clara em relação às questões do desenvolvimento sustentável no semiárido, questão que ficou obscurecida muitos anos em relação a outras regiões do planeta. O tema agora aparece com mais destaque - observou -, ao avaliar que o evento em Fortaleza vem coroar um momento político global e que o Brasil tem um papel de liderar em muitos aspectos esse desenvolvimento, concluiu.

(Flamínio Araripe para o Jornal da Ciência)