terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Carta à revista Veja


Helena B. Nader, presidente da SBPC, envia comentários e esclarecimentos a respeito da reportagem publicada na semana passada, intitulada “Artigos de segunda”

         A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena B. Nader, enviou carta à revista Veja com comentários e esclarecimentos a respeito da reportagem publicada na semana passada, intitulada “Artigos de segunda”. Como a Veja publicou a carta (na edição que está nas bancas) com cortes que podem comprometer o conteúdo exposto pela presidente da SBPC, reproduzimos neste blog a carta na íntegra.

Leia abaixo:
         A reportagem “Artigos de segunda” (10 de dezembro) poderia ter servido para introduzir um importante assunto na sociedade brasileira: o acesso a informações científicas. Contudo, a revista se mostra desinformada ao tentar passar ao leitor a impressão de que as publicações tradicionais são infalíveis enquanto as do sistema open Access são desqualificadas. Na verdade, ambas têm virtudes e problemas.
         VEJA não disse, mas o rigor da análise prévia por pares não impede erros. A tradicionalíssima Science, por exemplo, precisou se retratar a respeito de artigo em que seus autores relataram terem encontrado uma bactéria em cujo DNA o fósforo (elemento essencial para a vida) era substituído pelo arsênio (normalmente tóxico).
         Dois artigos sobre técnicas para modificar células tronco, publicados na Nature, foram contestados e a revista também precisou se retratar. Várias publicações tradicionais e de renome da área de saúde (PNAS, Lancet Oncology, JAMA, NEJM, Blood, entre outras) tiveram que se retratar por terem publicado 10 artigos de resultados inconsistentes de autoria de um pesquisador da Universidade Duke.
         De fato, há aspectos a serem melhorados em relação às publicações open access, mas na reportagem foram omitidas virtudes reconhecidas desse sistema. A principal delas é exatamente possibilitar o livre acesso a informações científicas – o que sempre foi desejado e que, com a internet, se tornou universalmente possível. Como se trata de um sistema novo (os estudiosos do tema consideram que foi inaugurado em 1993), o open Access ainda está em construção e tem grandes possibilidades de se aperfeiçoar satisfatoriamente e crescer muito num curto espaço de tempo, uma vez que a comunidade científica mundial está atenta às publicações abertas e interessada no seu êxito. Por exemplo, os Prêmios Nobel deste ano em Química, Stephen Hell, e em Física, Shuji Nakamura, têm publicado seus artigos em open access. O Nobel de Medicina do ano passado, Randy Schekman, foi mais além: declarou que seu laboratório deixará de enviar papers para as revistas Nature, Cell e Science, pois, na sua avaliação, elas distorcem o processo científico. Segundo Schekman, a pressão para publicar em revistas de “luxo” estimulou os pesquisadores a cortar custos e buscar campos da moda na ciência, em vez de trabalharem em áreas mais importantes. O brasileiro Arthur Ávila, ganhador da Medalha Fields em 2014, também publica em open access.
         E mais: a Sociedade Europeia de Astronomia, a Sociedade Europeia de Física e a Associação Europeia para Química e Ciências Moleculares estão discutindo a transição para o sistema open access. Já o CERN (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), o mais importante centro de pesquisa na área, já tomou sua decisão. Em comunicado do dia 16 de outubro último, o diretor geral da instituição solicitou a todos seus pesquisadores que publiquem seus papers em revistas open access.
         Se está interessada em discutir as publicações abertas para divulgação científica, VEJA precisa dar informações completas sobre esse sistema a seus leitores. A reportagem publicada foi parcial e tendenciosa – ou seja, não contribuiu em nada para um tema tão importante.

Helena B. Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

SBPC envia carta a deputados contra o ensino do criacionismo em escolas


A entidade quer que permaneça no ensino o princípio da laicidade e liberdade de crença garantidos pela Constituição federal


A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviou aos deputados federais uma carta solicitando que o Projeto de Lei 8099/2014, de deputado Marco Feliciano (PSC/SP), que propõe a inserção de conteúdos sobre criacionismo na grade curricular das Redes Pública e Privada de Ensino, e seu apensado ao PL 309/2011, de autoria do mesmo deputado, que “altera o Art. 33 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino religioso nas redes públicas de ensino do país”, sejam rejeitados e arquivados. Segundo a SBPC, isso é necessário para se manter o princípio da laicidade e liberdade de crença garantidos pela Constituição federal, bem como o não comprometimento do ensino das Ciências aos alunos.

Veja a carta na íntegra em:


(Ascom SBPC)