segunda-feira, 29 de abril de 2013

Darwin e a prática da 'Salami Science'

Por Fernando Reinach.

          Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão "Salami Science". Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: "Salami Science, espero que não chegue aqui". Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira.

          "Salami Science" é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a "Salami Science" se espalhou, induzido pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.

          No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu... Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante.

          Hoje, nas melhores universidades do Brasil, a conversa entre pós-graduandos e cientistas é outra. A maioria está preocupada com quantos trabalhos publicou no último ano - e onde. Querem saber como serão classificados. "Fulano agora é pesquisador 1B no CNPq. Com 8 trabalhos em revistas de alto impacto no ano passado, não poderia ser diferente." "O departamento de beltrano foi rebaixado para 4 pela Capes. Também, com poucas teses no ano passado e só duas publicações em revistas de baixo impacto..." Não que os olhos dessas pessoas não brilhem quando discutem suas pesquisas, mas o relato de como alguém emplacou um trabalho na Nature causa mais alvoroço que o de uma nova maneira de abordar um problema dito insolúvel.

          Essa mudança de cultura ocorreu porque agora os cientistas e suas instituições são avaliados a partir de fórmulas matemáticas que levam em conta três ingredientes, combinados ao gosto do freguês: número de trabalhos publicados, quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura e qualidade das revistas (medida pela quantidade de citações a trabalhos publicados na revista). Você estranhou a ausência de palavras como qualidade, criatividade e originalidade? Se conversar com um burocrata da ciência, ele tentará te explicar como esses índices englobam de maneira objetiva conceitos tão subjetivos. E não adianta argumentar que Einstein, Crick e Perutz teriam sido excluídos por esses critérios. No fundo, essas pessoas acreditam que cientistas desse calibre não podem surgir no Brasil. O resultado é que em algumas pós-graduações da USP o credenciamento de orientadores depende unicamente do total de trabalhos publicados, em outras o pré-requisito para uma tese ser defendida é que um ou mais trabalhos tenham sido aceitos para publicação.

          Não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes. Essa atitude isenta os responsáveis de tomar e defender decisões. É a covardia intelectual escondida por trás de algoritmos matemáticos.

          Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar "Salami Science". É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...

 Publicado em O Estado de São Paulo

sexta-feira, 26 de abril de 2013

GRAVAÇÃO MAGNÉTICA QUÂNTICA É 1.000 VEZES MAIS RÁPIDA

Como a gravação é feita com os pulsos de laser ainda interagindo com os momentos magnéticos, a comutação magnética é gerada quantum-mecanicamente - não termicamente. Isto abre a possibilidade de criar memórias na faixa dos terahertz.[Imagem: Ames Laboratory]

A gravação de dados magnéticos depende de que se altere uma pequena porção de material magnético - um bit - de um estado para outro, ou de um sentido para outro.

É isso o que acontece continuamente nos discos rígidos, discos de estado sólido, memórias flash e alguns tipos de memórias RAM não-voláteis.

Em um dos avanços mais radicais nesta área nos últimos anos, pesquisadores tornaram esse chaveamento magnético 1.000 vezes mais rápido e, o que é ainda mais promissor, usando unicamente luz.

Se for levada para escala industrial, a tecnologia significará dispositivos de armazenamento de dados funcionando na faixa dos terahertz.

Além de ser totalmente óptica, outra surpresa da nova tecnologia de gravação magnética de dados é que ela funciona com base na mecânica quântica, e não em transferências termais.

Velocidade do magnetismo

Tianqi Li e seus colegas da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, usaram pulsos ultracurtos de laser, na faixa dos femtossegundos, para alterar a estrutura do material, fazendo-a passar de antiferromagnética para ferromagnética.

"O grande desafio da escrita, leitura, armazenamento e computação magnéticas é a velocidade, e nós mostramos que podemos enfrentar o desafio fazendo os chaveamentos magnéticos pensarem ultra-rapidamente, na faixa de femtossegundos - um quadrilionésimo de um segundo - usando 'truques' quânticos com pulsos ultracurtos de laser," disse Wang.

Até agora, essa comutação de ferromagnético para antiferromagnético, e vice-versa, era feita com lasers contínuos, cujo calor fazia o material aquecer e vibrar. Essa vibração, com o auxílio de um campo magnético externo, faz o bit passar de 0 para 1 ou de 1 para 0.

O problema é que esse chaveamento termal depende da vibração dos átomos, e eles costumam "demorar muito" para isso, limitando a tecnologia à faixa dos gigahertz.

Femto-magnetismo quântico

Usando materiais com uma propriedade chamada magnetorresistência colossal, o grupo de Wang dispensou o calor.

O chaveamento é tão rápido que os pesquisadores afirmam só poder explicar o processo pela mecânica quântica, já que o pulso de laser é curto demais para aquecer o material.

"Isso significa que nós temos que descrever o processo e controle do magnetismo usando a mecânica quântica. Nós chamamos isto de femto-magnetismo quântico," disse Wang.

O nome ficou bonito, mas "precisamos descrever o processo pela mecânica quântica" e "sabemos como descrevê-lo" são coisas diferentes - ou seja, o mecanismo preciso de funcionamento ainda é uma incógnita.

"Os materiais magnetorresistivos colossais são muito atraentes para uso tecnológico, mas ainda precisamos entender mais sobre como eles funcionam. E, em particular, temos que entender o que acontece durante os períodos de tempo muito curtos, quando o aquecimento não é significativo e os pulsos de laser ainda estão interagindo com os momentos magnéticos," confessou Wang.

Bibliografia:

Femtosecond switching of magnetism via strongly correlated spin-charge quantum excitations
Tianqi Li, Aaron Patz, Leonidas Mouchliadis, Jiaqiang Yan, Thomas A. Lograsso, Ilias E. Perakis, Jigang Wang
Nature
Vol.: 496, 69-73
DOI: 10.1038/nature11934

Fonte: Site Inovação Tecnológica de 22.04.2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

DEUS, EINSTEIN E OS DADOS

Imagem da Internet. Meramente ilustrativa 
Talvez o leitor tenha já ouvido falar da famosa frase de Einstein em carta ao físico Max Born, de 4 de dezembro de 1926, popularizada como "Deus não joga dados". Que dados e que Deus eram esses?
Einstein referia-se à física quântica, que explica o comportamento dos átomos e das partículas subatômicas, como elétrons, prótons e fótons, as "partículas de luz".

Os "dados" aqui aludem a probabilidades, ao fato de no mundo quântico ser impossível determinar onde um objeto vai estar. No máximo, podemos calcular a probabilidade de ele ser encontrado aqui ou ali, com esta ou aquela energia.

Isso era bem diferente da física anterior, na qual ao saber a posição e velocidade de um objeto era possível, em princípio, determinar sua posição futura com precisão limitada só pelo instrumento de medida.

Para Einstein, uma física não determinista não podia ser a última palavra na descrição da natureza.
Outra versão, mais abrangente, deveria explicar as probabilidades e os paradoxos do mundo quântico. Aparentemente, Einstein estava equivocado. Deus joga dados sim.

A versão completa da frase de Einstein é um pouco diferente: "A mecânica quântica é certamente impressionante. Mas uma voz interior me diz que não é ainda a coisa real. A teoria diz muito, mas não nos traz mais perto dos segredos do Velho. Eu, pelo menos, estou convencido de que Ele não joga com dados".

O "Velho" aqui é uma figura metafórica representando não o Deus judaico-cristão, mas o espírito da natureza, a essência da realidade.

Para Einstein, a função da ciência é desvendar essa estrutura.

Por outro lado, ele tinha plena consciência de que nossas formulações científicas eram meras aproximações do que realmente ocorre: "Vejo a natureza como uma estrutura magnífica que podemos compreender apenas imperfeitamente e que deveria inspirar em qualquer pessoa com capacidade de reflexão um sentimento de humildade".

O que incomodava Einstein era a interpretação da mecânica quântica, que diferia da sua visão de mundo. Em parte, foi ele mesmo o culpado, ao propor que a luz podia ser interpretada como onda (como todos já sabiam em 1905) ou partícula. Essa dualidade era inusitada.

A coisa piorou quando a equação descrevendo elétrons em torno de núcleos atômicos, a "mecânica ondulatória" que Erwin Schrödinger propôs em 1926, descrevia algo imaterial. Em vez de uma onda normal, a equação descreve uma "função de onda" cuja interpretação, proposta por Born, era muito estranha: o quadrado (para os experts, valor absoluto) da função dava a probabilidade de medirmos a partícula em determinada posição ou com determinada energia.

Ou seja, a equação fundamental da matéria não descrevia matéria! Nesse caso, a essência da natureza não era algo concreto, mas uma abstração matemática. A teoria funcionava, mas sua interpretação era um mistério. Esse era o problema que Einstein tinha com o Deus que joga dados. Até hoje, quando físicos pensam no assunto, não conseguem evitar certa ansiedade, mesmo com o sucesso da física quântica.

(*)Marcelo Gleiser é professor de física e astronomia do Dartmouth College, em Hanover (EUA). É vencedor de dois prêmios Jabuti e autor, mais recentemente, de "Criação Imperfeita". Escreve aos domingos na versão impressa de "Ciência".

Fonte: Marcelo Gleiser (*), Folha de São Paulo de 20.04.2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Tome Ciência: Burocracia x Ciência


Programa de televisão promove debate com pesquisadores sobre os entraves da burocracia para a produção de pesquisas no Brasil

Um exemplo de dificuldades burocráticas que quase impediu o Brasil de desenvolver a primeira linhagem de células tronco nacionais: um líquido especial, que vem do Canadá e precisa ser conservado numa temperatura de menos 73 graus, ficou retido em pleno calor da Alfândega do Rio, obrigando os cientistas a fazerem um revezamento durante dias para levar gelo seco para preservar o produto até conseguir liberar a importação. Sem esse líquido, o "emitízer", era impossível desenvolver as pesquisas. Neste caso os pesquisadores acabaram encontrando uma solução criativa ao criar uma nova substância sensível, o "mêizer", que custou um quarto do preço da substância importada. Mas nem sempre é assim neste jogo entre burocracia e ciência: pesquisadores narram casos de aparelhos danificados, amostras congeladas derretidas e dificuldades de contratação de pessoal, entre muitos outros. Por isso eles defendem mudanças na burocracia que atravanca o progresso da ciência.

De 20 a 26 de abril, o programa de televisão Tome Ciência apresenta o tema " Burocracia x Ciência", com a participação dos seguintes pesquisadores: João Ramos Mello Neto, mestre e doutor em física, com pós-doutorados no exterior, é professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Secretário da regional Rio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Carlos Alberto Marques Teixeira, engenheiro com mestrado em economia e gestão empresarial, se especializou em tecnologias de gestão da produção e é coordenador geral da diretoria regional do Rio de Janeiro e diretor substituto do Instituto Nacional de Tecnologia, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Jerson Lima Silva,formado em medicina, com mestrado e doutorado no Instituto de Biofísica, chefia o Laboratório de Termodinâmica de Proteínas e Vírus da UFRJ, onde também dirige o Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear de Macromoléculas. É também diretor científico da Faperj - a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Lucia Carvalho Pinto de Melo, graduada em engenharia química, com mestrados em física e em energia e meio ambiente, acabou especializando-se em planejamento e políticas de ciência. Presidiu, de 2005 a 2011, o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), instituição responsável por formular e implantar políticas para o campo científico. É pesquisadora titular da fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco e integra o Grupo de Trabalho da SBPC para mudanças nos marcos legais.

Apresentado pelo jornalista André Motta Lima, o programa conta com a participação de um Conselho Científico integrado pelas entidades vinculadas à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, permitindo que cientistas de várias especialidades debatam temas da atualidade. Os debates são exibidos em diversas emissoras com variadas alternativas de horários.

Os horários na TV, por satélites ou internet podem ser conferidos no site do Tome Ciência pelo endereço www.tomeciencia.com.br

Inpa e universidade japonesa mapearão genoma de peixe-boi


Equipamento de sequenciamento de DNA de nova geração, da Universidade de Kyoto, permitirá aos pesquisadores obterem mais informações e ampliarem o conhecimento sobre a espécie

Peixe-boi. Imagem da Internet
O mapeamento do genoma do peixe-boi-da-amazônia será realizado, pela primeira vez, por meio de um acordo de cooperação entre o Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa/MCTI) e o Centro de Pesquisa de Vida Selvagem (WRC - sigla em inglês), da Universidade de Kyoto (Japão).

A ideia do projeto, pioneiro com mamíferos aquáticos no Brasil, é sequenciar o código genético do peixe-boi com um equipamento de sequenciamento de DNA de nova geração da Universidade de Kyoto, que permitirá aos pesquisadores obterem mais informações e ampliarem o conhecimento sobre a espécie.

A pesquisadora Vera Silva, da Coordenação de Biodiversidade (CBio/Inpa) e do LMA, explica os procedimentos da coleta: "O sangue de dois peixes-bois machos vivos do plantel (lote de animais) do Inpa foi coletado pelo veterinário do LMA, e os pesquisadores japoneses vieram ao instituto, no laboratório temático de genética, e extraíram o DNA que vai ser utilizado para sequenciar o genoma, isto é, toda a sequência do código genético ou da informação hereditária de um organismo codificada em seu DNA, que forma o animal".

Segundo a pesquisadora, o equipamento tem o potencial de acelerar as pesquisas biológicas e biomédicas, permitindo uma completa análise do genoma. "Depois do mapeamento vamos conseguir ampliar ainda mais o nível de pesquisas e conhecimento sobre a biologia e a ecologia do animal no seu ambiente natural - por exemplo, identificar com mais facilidade doenças, ocorrência de parasitas, hábitos alimentares e outros pontos", ressalta.

A parceria com a Universidade de Kyoto foi concretizada em 2012, quando o diretor do Inpa, Adalberto Val, selou formalmente os convênios com a instituição japonesa.


(Fernanda Farias - Ascom do Inpa)

Inscrições para o Prêmio Jovem Cientista


Objetivo é promover a reflexão e a pesquisa, revelar talentos e investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram inovar na solução de desafios brasileiros

Jovens cientistas começam a ser convocados em todo o país para o Prêmio Jovem Cientista, premiação organizada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com Fundação Roberto Marinho, Gerdau e General Eletric. O prêmio tem objetivo de promover a reflexão e a pesquisa, revelar talentos e investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram inovar na solução de desafios brasileiros.

As inscrições poderão ser feitas de 6 de maio ao dia 30 de agosto pelo site do Prêmio Jovem Cientista. Para participar é preciso ter menos de 40 anos e estar ligado a instituição de ensino. As categorias são estudantes de ensino médio - que inclui estudantes de ensino técnico e profissionalizante -, estudantes de ensino superior e mestre doutor.

Haverá prêmio de mérito científico para a instituição de ensino médio e para a de ensino superior que apresentarem o maior número de inscrições de trabalhos com mérito científico. Será premiado também um pesquisador doutor que tenha dedicado a carreira ao tema abordado pelo prêmio. O  deste ano é Água: Desafios da Sociedade.

Antes da abertura das inscrições, uma equipe começou, esta semana, a percorrer cidades brasileiras para divulgar a premiação para secretarias de Educação e escolas de ensino médio. Hoje (18) as visitas foram feitas em Brasília. "O prêmio incentiva a pesquisa e é importante para que tenhamos jovens que se motivem a trabalhar com inovação, o que não é muito incentivado nas escolas", diz Marlise Levorsse de Almeida, uma das donas de escola visitada esta manhã. A proposta foi apresentada aos professores e deve chegar na semana que vem às salas de aula.

Os professores, na etapa, ocupam um papel importante, explica a gerente de Meio Ambiente da Fundação Roberto Marinho, Andrea Margit. "São eles que vão acompanhar e orientar os projetos". Por isso, é oferecido a esses profissionais um kit que contém um caderno conteúdo, com sugestões de planos de aula e fichas de exercícios para serem desenvolvidos pelos estudantes.

Além das visitas, em maio, ocorrerão oficinas para estudantes do ensino médio para que tenham contato com o método científico, que será empregado nos projetos. Elas terão a duração de quatro horas e serão feitas em dez capitais: Belém, Campo Grande, Curitiba, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Brasília. As inscrições para as oficinas podem ser feitas a partir da semana que vem, também pelo portal do prêmio.

Os prêmios vão de R$ 15 mil a R$ 30 mil para a categoria de mestre e doutor e de R$ 10 mil a R$ 15 mil para nível superior. No ensino médio, os três primeiros lugares recebem laptops. As instituições premiadas recebem R$ 35 mil cada e o pesquisador doutor premiado recebe R$ 20 mil. Os vencedores também são contemplados com bolsas de estudo do CNPq, além da publicação dos trabalhos. As empresas parceiras, Gerdau e General Eletric, oferecerão visitas aos laboratórios globais de pesquisa.

A estudante Ana Gabriela Person foi a vencedora do prêmio em 2011 na categoria de estudante de ensino médio. Ela foi incentivada pela professora a inscrever o projeto que desenvolvia na instituição de ensino técnico onde estudava. Ana Gariela propôs a utilização de materiais orgânicos para armazenar e transportar mudas de plantas no lugar dos saquinhos pretos de polietileno usados atualmente.

"O prêmio foi importante para que eu pudesse divulgar o meu trabalho. Cheguei a apresentá-lo em mais duas feiras de ciência de nível nacional e ele foi muito bem aceito. Ganhei mais uma premiação pelo projeto", diz.

(Mariana Tokarnia / Agência Brasil)

Brasil tem Três Computadores para cada Cinco Habitantes

Imagem da Internet. Meramente inlustrativa

Pesquisa do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV mostra que o número de computadores dobrou em quatro anos

A quantidade de computadores em uso no Brasil, somados os corporativos e os domésticos, chega a 118 milhões, aponta pesquisa do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada nesta quinta-feira (18). Isso significa que existem, no país, três computadores para cada cinco habitantes.

O estudo mostrou também que o número de computadores dobrou no período de quatro anos. Para este ano, a FGV estima que serão comercializados 22,6 milhões de unidades, o que equivale a uma unidade por segundo.

A projeção para daqui três anos é que o país tenha um computador por habitante, com 200 milhões de unidades. Esse crescimento será puxado, explica o professor Fernando Meirelles, coordenador da pesquisa, pelo aumento previsto nas vendas de tablets, também classificado como computador pela pesquisa.

O levantamento, que é feito há 24 anos e divulgado anualmente, consultou 5 mil grandes e médias empresas com 2,2 mil respostas válidas.

(Fernanda Cruz, Agência Brasil)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Grupo da UNESP descobre novo material






Filamentos de prata irradiados com elétrons têm propriedades bactericida, fotoluminescente e fotodegradante mais elevadas do que material sintetizado por outras rotas

Por Elton Alisson

Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, descobriram um material com propriedades bactericida, fotoluminescente e fotodegradante que poderá ter aplicações importantes em muitas áreas, como na indústria de alimentos. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira (17/04) na revista Scientific Reports do grupo Nature.

            O grupo, que também faz parte do Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP, conseguiu obter filamentos de prata metálica em um composto formado por óxido de prata e tungstênio (chamado de tungstato) a partir de uma nova rota de síntese do material.

“Esses filamentos têm propriedades aumentadas em relação ao material convencional e foram obtidos por meio de uma rota inusitada, até então inédita e sem descrição na literatura científica”, disse Elson Longo, um dos autores do artigo, à Agência FAPESP. O estudo também contou com a participação de cientistas do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos e da Universitat Jaume I, na Espanha. 

            Longo é coordenador do CMDC e do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN), também apoiado pela FAPESP, ambos com sede no Instituto de Química da Unesp. Nos últimos dois anos, Longo e outros pesquisadores do CMDC iniciaram um projeto para entender a origem de algumas propriedades ópticas – como a fotoluminescência – apresentada pelo tungstato de prata por meio de microscópios eletrônicos de varredura de alta resolução e de transmissão.

            Durante o estudo, o grupo verificou um crescimento exponencial de filamentos de prata metálica em escalas nanométrica (bilionésima parte do metro) e micrométrica (milionésima parte do metro) em diferentes regiões da superfície de cristais de tungstato.

            “Em um primeiro momento, achamos que os filamentos eram de carbono. Depois de cinco meses de trabalho de análise das amostras de cristais de tungstato, constatamos que, de fato, cresciam filamentos de prata na superfície do material”, contou Longo.

            Ao estudar os mecanismos de crescimento e as propriedades fotoluminescentes dos filamentos de prata, por meio de um projeto realizado com apoio da FAPESP, os pesquisadores identificaram que os elétrons dos microscópios de varredura e de transmissão que incidem nos cristais de tungstato induziam uma reação química no material que possibilitava o crescimento dos filamentos de prata metálica.

            Segundo Longo, a interação dos elétrons gerados pelos microscópios – principalmente os de varredura, cujas partículas são mais energéticas – com os íons de prata do tungstato promove a redução a prata metálica. “Vimos os filamentos de prata metálica crescerem no tungstato de forma clara em uma sequência curta de imagens. Essas imagens estão publicadas na internet no artigo na Scientific Reports”, contou Longo.

            “Quanto maior o tempo de interação entre os elétrons com os íons de prata, maior é o crescimento dos filamentos de prata metálica, e é possível observar esse fenômeno por meio de microscópio de varredura ou de transmissão”, explicou.

            De acordo com os pesquisadores, o efeito de eletrossíntese de filamento de prata que observaram tem semelhanças com a reação que provoca o efeito fotoelétrico descrito por Albert Einstein (1879-1955) em 1905 e que rendeu o prêmio Nobel de Física ao cientista alemão em 1921.

            Enquanto no efeito fotoelétrico é o fóton de uma radiação eletromagnética – como a luz – que, ao incidir sobre metal, pode ejetar elétrons do material, dependendo de sua energia, no caso do efeito de eletrossíntese é o elétron que, ao incidir sobre um material metálico – neste caso, o tungstato –, provoca uma reação química de redução-oxidação, ou redox.

            “Esse fenômeno – que denominamos no artigo de ‘síntese de filamento de prata dirigido por elétrons’ – é muito inovador e até então ninguém havia conseguido explicá-lo”, disse José Arana Varela, professor titular do Instituto de Química da UNESP e um dos autores da pesquisa e do artigo.

            “No artigo agora publicado, explicamos como essa reação redox é induzida pelos elétrons irradiados pelo microscópio de varredura e de transmissão”, afirmou Varela, que também é diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.

 
Novo material

            Segundo os pesquisadores da UNESP, outros grupos de pesquisa internacionais já haviam conseguido obter filamentos de prata metálica a partir do tungstato de prata, mas isso por rotas de síntese do material totalmente diferentes da que utilizaram. Uma dessas rotas é a hidrotérmica, com a aplicação de pressão e temperatura para se obter o produto.

            Mas até então não havia se tentado obter o material por meio da irradiação de elétrons em tungstato – como fez o grupo brasileiro –, que aumenta as propriedades fotoluminescente, fotodegradante e bactericida dos filamentos de prata metálica em comparação ao mesmo produto obtido por meio de um processo diferente.

            “Esse novo material apresenta vantagens em relação aos métodos bactericidas atuais, nos quais se deposita prata em materiais – como polímeros – para conferir a eles essa propriedade”, disse Longo. “A irradiação com elétrons aumenta a propriedade bactericida dos filamentos de prata três vezes em comparação ao método atual de deposição.”

            Por causa dessa propriedade, a tecnologia, para a qual o grupo solicitou patente, começou a despertar o interesse de fabricantes de materiais bactericidas para o desenvolvimento de embalagens de alimentos. Outras possíveis aplicações do novo material estão na fotodegradação de compostos orgânicos na água e nas áreas de cerâmica, microeletrônica e química.

            “Agora, estamos estudando como fazer crescer esses filamentos de prata metálica em outros sistemas, como molibdatos. Já verificamos que nos molibdatos o material cresce utilizando um processo semelhante. Queremos ver qual limite de energia dos elétrons é suficiente para induzir essa reação e se eles melhoram as aplicações dos sistemas existentes”, disse Varela.

            O artigo Direct in situ observation of the electron-driven synthesis of Ag filaments on α-Ag2WO4 crystals(doi: 10.1038/srep01676), de Longo e outros, pode ser lido em www.nature.com/srep/2013/130417/srep01676/full/srep01676.html.

terça-feira, 16 de abril de 2013

SiBBr Recebe Informações Sobre Bancos de Dados de Biodiversidade

Imagen da Internet 

Termina hoje o prazo para instituições e centros de pesquisa enviarem seus dados para o levantamento nacional

O Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) recebe até segunda-feira (15) informações sobre os bancos de dados de biodiversidade das diversas instituições e centros de pesquisa. O levantamento busca identificar como a informação está apresentada e armazenada nessas entidades e qual a infraestrutura de informática existente nos potenciais parceiros da iniciativa.

A consulta abrange coleções biológicas, herbários, listas de espécies e catálogos, entre outros acervos. Consiste em dois questionários - um focado mais nas informações sobre o conteúdo desses bancos, e outro para conhecer as soluções de tecnologia da informação (TI) usadas pela instituição.

O objetivo é o aperfeiçoamento do SiBBr de modo a permitir que seja capaz de integrar dados de diversas fontes. Além disso, o conhecimento detalhado de cada instituição possibilita uma estratégia de articulação entre elas.

O SiBBr integrará bancos de dados sobre a biodiversidade e os ecossistemas brasileiros, subsidiando pesquisas científicas e a formulação de políticas públicas. É um projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com apoio técnico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e apoio financeiro do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF).

O Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCTI) e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), responsáveis pelo desenvolvimento e pela hospedagem do SiBBr, são os principais parceiros do projeto.

(Ascom do MCTI, com informações do Pnuma)