A Tabela Periódica
é um símbolo público da Química. Porém, à medida que vai ela aumentando de tamanho,
devemos mais ainda salientar que não é função da Ciência produzir listas, disse
Philip Ball.
Raramente a Química desfruta do fato de
ser o centro das atenções, como o foi nas últimas semanas. O anúncio feito pela
União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) que de que a sétima
linha da tabela periódica foi preenchida por meio da descoberta de quatro
elementos químicos criados artificialmente (113, 115, 117 e 118) tem gerado um
amplo debate público. Como serão chamados? Que propriedades químicas que têm
esses elementos? A tabela periódica pode ser ainda mais alargada?
Esta
recepção entusiástica é certamente muito benéfica para a Química. Mas
raramente, também, uma descoberta científica tão festejada possui tão poucas
implicações no campo da pesquisa científica. O anúncio da IUPAC não é sobre a
descoberta como tal, mas sobre a avaliação desse organismo que reivindica o
agrupamento dos elementos e que julga as perguntas feitas anteriormente. No
mundo todo, a rede de laboratórios bem equipada e que tem a árdua tarefa de
“fabricar” novos elementos só exigia o selo de aprovação da IUPAC quando tinha
certeza das propriedades do novo elemento.
Cada
novo elemento superpesado descoberto suscita questões interessantes, por
exemplo: se existe uma região, na qual a estabilidade nuclear é aumentada ao
invés de diminuir com o aumento da massa e se os efeitos relativísticos do
movimento ultra-rápido dos elétrons distorce os padrões repetidos das
propriedades na tabela. Há muito, o que se comemorar e estudar.
Ernest
Rutherford considerou uma grande piada ter ganho o prêmio Nobel de 1908, por
explorar o decaimento radioativo, na área de Química - uma tentativa, dizem
alguns, de trazer a ciência nuclear de volta para a Química após os trabalhos
de Marie e Pierre Curie sobre radioatividade ter sido premiado com o Nobel de
Física de 1903.
A
questão mais profunda é: por que as pessoas estão interessadas nas implicações
que os novos elementos químicos podem provocar no estado da própria tabela
periódica. A sistematização dos elementos tornou-se um ícone para a Química como
um todo. No entanto, os químicos raramente precisam se referir à ela, e a
maioria deles trabalha com alguns dos elementos químicos mais comuns.
Vale
dizer que a tabela periódica tem mais interesse e glamour para o público do que
para o profissional da Química. Isso é estranho: parece abrir uma brecha entre
o que muitas pessoas pensam sobre a Química (estudo dos elementos) e o que a
maioria dos químicos fazem (moléculas e materiais e investigam suas
propriedades e interações).
No
entanto, nada sobre isto é original. A tabulação ou enumeração de fundamentos
também são feitas na física (partículas do modelo padrão) e na biologia (código
genético, listas de genes e taxonomia). Estes esquemas de classificação
despertam a consciência popular, de modo que à física atribui-se a descoberta
de novas partículas (bóson de Higgs, partículas de matéria escura e assim por
diante) e à biologia a identificação de 'genes' para certas características
biológicas.
O
desafio para os químicos, então, é encontrar uma maneira de capitalizar sobre o
fascínio e a coerência da tabela periódica, evitando a impressão de que de
alguma forma possa contar a história de suas pesquisas.
Este
enfoque acrescenta peso à questão de como os novos elementos serão nomeados.
Parece uma pena que o provincianismo e nacionalismo, muitas vezes próximos do
chauvinismo, do passado (ver germânio, frâncio, escândio, amerício e várias
permutações na cidade sueca de Ytterby) provavelmente irão persistir. (já foi amplamente
divulgado que 'Japônio' será o nome do elemento 113, porque a prioridade de sua
descoberta foi atribuída a uma equipe do instituto de pesquisas japonês RIKEN).
Por que então não aproveitar a oportunidade para despertar a imaginação, em vez
de plantar uma bandeira?
Seria interessante ter um elemento chamado levium, após o escritor e
químico Primo Levi. Seu livro Tabela Periódica (Einaudi, 1975)
continua a ser o melhor livro já escrito sobre a Química, e agradaria ao meu
senso de ironia ver um elemento superpesado com um nome que poderia ser
interpretado como uma referência à leveza.
No
entanto, isto não trata-se apenas sobre leviandade. As estórias contadas por
Levi sobre o seu tempo no campo de concentração de Auschwitz. Se este é
um homem, de 1947, é uma das obras mais profundas e humanas do século XX,
testemunhando o fato de que a Ciência pode ser uma força libertadora, universal
para a salvação, embora deve-se reconhecer que o seu potencial pode ser para
ser abusado de maneiras terríveis. O Levium significaria que a tabela periódica
é para toda a humanidade.
Richard Haughton
Nature, Vol. 529, p. 129
(14 January 2016) doi:10.1038/529129a
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