domingo, 21 de agosto de 2016

Comentário sobre o artigo “Transgênicos e hidrelétricas”, do Jornal O Estado de S. Paulo, divulgado no Jornal da Ciência


        Refiro-me ao artigo do professor José Goldemberg, publicado no Estadão e projetado pelo Jornal da Ciência.
        Discordo do ilustre cientista a começar por ele dizer que transgênicos são feitos para proteger plantas de pragas. Sabe-se que o único transgênico plantado para essa finalidade no Brasil é o milho Bt. Assim, o professor esqueceu ou fez esquecer que, para essa finalidade, é introduzido na planta um gene produtor de toxina que mata insetos e, consequentemente, a planta passa a funcionar como um inseticida!
   A toxina Bt, assim como mata insetos, intoxica o próprio ser humano. Frequentemente é citado na literatura o alto risco, inclusive fatal, para o indivíduo. Um exemplo dessas variedades de milho Bt é a variedade milho MO 810: proibida para uso humano pelo próprio país produtor, pela França, Alemanha, Inglaterra e outros países europeus. Infelizmente, a variedade é autorizada no Brasil e quem autorizou não se preocupou em nos fazer de simples cobaias! Em países pobres da África foi rejeitado até como presente. A Zâmbia preferiu ver seu povo sofrer de fome a morrer envenenado! Além de matar insetos invasores, a toxina Bt mata insetos úteis, como abelha de mel e outros polinizadores necessários para que a planta gere frutas.
  Quando esse tipo de transgênico morre, ao final de estação de crescimento, suas raízes deixam para o solo resíduos tóxicos que matam bactérias fixadoras de nitrogênio e transformam o solo em um ambiente envenenado para o crescimento da bactéria fixadora do Azoto, que forma fertilizante. Assim, fica impedido o crescimento de qualquer cultura leguminosa. O fabricante desse transgênico gasta milhões de reais com todos os tipos de propagandas, em todas as formas e todos os níveis: o resultado é o mais alto nível o custo das sementes transgênicas, que chega a ser 130 vezes mais cara do que o preço normal. Os pequenos agricultores enganados e iludidos pela propaganda, quando não podem pagar dívidas, correm para um destino trágico: o suicídio. Há muitos casos conhecidos da Índia, que chegou a registrar, em apenas um ano, 180 mortos.
    É bom um físico falar sobre hidrelétricas, mas é questionável que se afirme dogmaticamente sobre transgênicos. E por que ele escolheu transgênicos para associá-los às hidrelétricas? Será como uma fachada que esconde o mal dos transgênicos? Isto me lembra do manifesto assinado por cem ganhadores de Nobel em favor de transgênicos escondendo atrás o arroz dourado. Entre esses ganhadores de Nobel, físicos, químicos, até de literatura e, além de tudo, três mortos!
   Lembro-me também de um cientista distante da área que foi há dez anos à Câmara de Deputados com argumentos e pedidos para a liberação da soja transgênica, e não pelos resultados científicos, que nunca foram apresentados e nem existiam, mas para não prejudicar agricultores que contrabandeavam soja.

Nagib Nassar
Professor emérito da Universidade de Brasília
Presidente da fundação FUNAGIB (www.funagib.geneconserve.pro.br)


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