domingo, 16 de setembro de 2012

Rãs Contadoras de Fótons


            Uma única haste de célula fotorreceptora retirada do olho de uma rã foi transformada num detector extremamente sensível que pode contar fótons individuais e determinar a coerência de pulsos extremamente fracos de luz. Criado por pesquisadores de Cingapura, o trabalho poderá ser utilizado para desenvolver uma foram híbrida de detectores de luz incorporando células vivas.

            Os olhos de seres humanos e de outros organismos vivos são detectores de luz extremamente sensíveis e versáteis, que podem muitas vezes superar dispositivos artificiais. Além disso, uma haste de célula fotorreceptora de retina humana responderá a um único fóton - algo que apenas detectores mais sensíveis fabricados pelo homem são capazes de fazer. A aprendizagem de como se construir melhores detectores de luz a partir do estudo do olho humano, conduziria a uma melhor compressão das funções desse olho e isto poderia levar ao desenvolvimento de dispositivos do tipo "bioquânticos" que combinam componentes biológicos e artificiais com a finalidade de se estudar aspectos da óptica quântica, tais como o "aprisionamento" da luz.

            O estudo realizado na Agência para Ciências, Tecnologia e Pesquisa, em Cingapura, pelo grupo do Dr. Leonid Krivitsky, foi focado nas hastes de olhos da rã africana Xenopus laevis, uma espécie muito estudada por biólogos.
 

A rã africana Xenopus laevis (Cortesia: Shutterstock)

Contendo o fluxo

Cada haste de célula possui um segmento exterior que contém o fotopigmento rodopsina, uma substância que sofre uma alteração química quando exposta à luz. Quando colocada no escuro, uma corrente constante de íons sódio, potássio e cálcio fluem de dentro para fora da célula. No entanto, quando um fóton atinge a rodopsina, uma série de reações químicas são desencadeadas que desligam alguns dos canais de transporte íons. Isto causa a polarização elétrica da célula, resultando num sinal elétrico que é captado pelo sistema nervoso e retransmitido para o cérebro.

            Essas hastes individuais possuem cerca de 50 µm de comprimento e cerca de 5 µm de diâmetro. O experimento é iniciado com uma haste sendo sugada para uma micropipeta e mantida viva por imersão numa solução especial, semelhante à do olho. A micropipeta também atua como um eletrodo, permitindo assim que a corrente de íons possa ser detectada utilizando-se um amplificador de baixo ruído.

            O grupo de pesquisa usou o laser de luz verde (comprimento de onda = 532 nm) para estudar a resposta óptica das hastes individuais. O time de pesquisadores disparou diferentes tipos de pulsos de laser nas hastes e mediu a resposta. Antes de um pulso atingir a haste, a luz é dividida em dois caminhos. Um caminho continua em direção à haste e o outro vai para um fotodiodo de “avalanche”, um detector de luz extremamente sensível, capaz de sentir fótons individuais. Esta configuração óptica é usada como um interferómetro de Hanbury-Brown-Twiss, permitindo que os pesquisadores determinem a coerência da luz que chega até à haste.

Contando fótons

            O grupo de pesquisa mediu a fotocorrente produzida pela haste durante a mudança do número médio de fótons por pulso de 30 a 16.000. Como esperado, a fotocorrente aumentou como uma função do número até saturar em cerca de 1000 fótons. Também analisaram como as hastes respondiam a dois tipos de pulsos de luz: um proveniente de luz laser coerente e outro de pulso "pseudotermal".

            Os pulsos coerentes e pseudotermais apresentam diferentes distribuições estatísticas no número de fótons, os pesquisadores foram capazes de usar as hastes para detectar essa diferença. Isto significa que as hastes podem ser utilizadas como detectores altamente sensíveis da estatística dos fótons. O grupo também foi capaz de concluir que cada fóton no pulso interage com apenas uma molécula de rodopsina.

            Embora as fontes de luz utilizadas pelo time de pesquisadores serem clássicas, o fato das hastes poderem distinguir entre pulsos coerentes e pseudotermais sugerem que podem ser usadas em óptica e comunicação quântica.

A pesquisa foi publicada na revista Physical Review Letters .

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário