COVID-19: O Que Precisamos Saber Sobre as Variantes do SARS-CoV-2
Por
Murilo Sérgio da Silva Julião.
As variantes do SARS-CoV-2 estão emergindo e ganhando força em todo o
mundo. O que isso significa para as atuais vacinas e tratamentos para COVID-19?
Mutações fazem parte da vida. Cada vez que um vírus se
replica, há uma chance de que seu código genético não seja copiado com
precisão. Esses erros de digitação viajam dentro de novas partículas de vírus à
medida que deixam um corpo e se movem para infectar o próximo. Algumas dessas
mutações morrem; outras sobrevivem e circulam amplamente; algumas são
inofensivas; outras aumentam a infectividade ou permitem que um vírus consiga escapar
do sistema imunológico – nestes últimos casos é quando os órgãos de saúde
pública passam a considerar essa cepa uma variante de preocupação.
As trocas ou exclusões de um único
aminoácido podem alterar as formas de diferentes proteínas. As mutações podem
acontecer em qualquer uma das proteínas do SARS-CoV-2 e podem alterar as
propriedades do vírus. Muitas das mutações preocupantes são encontradas numa
proteína do tipo spike (pico, prego ou grampo), pois ela é o alvo dos
tratamentos com anticorpos e é mimetizada pelas vacinas COVID-19 atualmente
autorizadas. Os pesquisadores ficam especialmente preocupados quando erros de
digitação ocorrem em duas partes da proteína spike – o domínio com N-terminal,
que está no início da proteína e que alguns anticorpos têm como alvo, e o
domínio com ligação ao receptor (RBD), que agarra aos receptores ACE2 nas
células humanas e inicia o processo de infecção.
Para entender como as mutações
específicas afetam a estrutura e a função da proteína spike e o que
essas mudanças significam para os tratamentos e vacinas, cientistas de vários
países realizaram diferentes ensaios bioquímicos combinados com microscopia
crioeletrônica e modelagem molecular a fim de mostrar como as mutações observadas
nas variantes trabalham juntas para alterar a estabilidade da proteína spike.
No quadro a seguir, estão descritas as
variantes de preocupação denominadas pelos Centros de Controle e Prevenção de
Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América e pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) e as emergentes que estão sendo observadas de perto.
Denominação da
variante/ Status / Local inicial da detecção |
Impacto
biológico |
Significado para
o arsenal de vacinas |
B.1.1.7 (Alfa) / Preocupação /
Reino Unido |
Estudos sugerem
que o vírus é cerca de 50 a 70% mais infeccioso. |
Dados obtidos em
países como Israel sugerem que as vacinas autorizadas continuam a oferecer
proteção robusta. Os anticorpos terapêuticos que têm como alvo o RBD ainda
funcionam bem, mas aqueles que têm como alvo o domínio N-terminal mostram uma
ligação mais fraca em alguns ensaios. |
B.1.351 (Beta) /
Preocupação / África do Sul |
50% mais
infecciosa do que o vírus original. |
Ensaios clínicos
demonstraram que várias vacinas são menos eficazes contra essa variante. Por
exemplo, a África do Sul, onde essa variante se generalizou, suspendeu o uso
da vacina de vetor adenoviral da AstraZeneca devido ao temor de que ela não
seja tão protetora contra essa variante. As vacinas de mRNA parecem
superar a redução da neutralização e a Moderna lançou um ensaio de uma vacina
modificada para combater essa variante |
P.1 (Gama) / Preocupação / Brasil |
Aumenta a
ligação ao receptor ACE2. |
Estudos de
laboratório sugerem que as vacinas podem não ser tão protetoras. |
B.1.617 (Delta) /
Preocupação / Índia |
Experimentos de
laboratório mostraram que essa variante entra nas células com mais facilidade
e se replica com mais eficácia. Estudos epidemiológicos descobriram que é
mais transmissível do que a Alfa e por consequência, a Delta tornou-se a
variante dominante em muitos países. |
Ensaios laboratoriais
sugerem que algumas terapias com anticorpos oferecem menos proteção, mas o
coquetel casirivimabe-imdevimabe da Regeneron Phamaceuticals e o sotrovimabe
da GlaxoSmithKline e da Vir Biotechnology ainda são eficazes contra a
variante Delta. Análises iniciais de casos em vários países mostram que as
vacinas baseadas em RNA mensageiro e DNA ainda oferecem proteção contra
infecção sintomática e internação hospitalar, mas em um nível ligeiramente
reduzido. A Pfizer e sua parceira BioNTech anunciaram que estão realizando
testes iniciais para determinar se uma terceira dose de sua vacina de mRNA
poderia aumentar a proteção. As empresas também estão desenvolvendo uma
vacina modificada sob medida para a variante Delta. |
B.1.427 e B.1.429 (Epsilon) / Preocupação /
Califórnia (EUA) |
As primeiras
evidências mostraram que essa variante é cerca de 20% mais infecciosa, mas
agora parece estar morrendo. |
Há vidências de
que as vacinas são ligeiramente menos eficazes contra essa variante. |
B.1.526 (Iota) e B.1.526.1 / Interesse / Nova
Iorque (EUA) |
Desconhecido. |
Essas variantes
podem enfraquecer a força da ligação dos anticorpos ao vírus, mas os efeitos
sobre os tratamentos e vacinas ainda são desconhecidos. |
Observação:
os órgãos de saúde pública designam uma variante de preocupação como aquela que
espalha mais, que causa doenças mais graves ou aquela contra a qual as vacinas
ou tratamentos são menos eficazes. As variantes de interesse podem estar relacionadas
aos grupos de surtos ou ter mutações preocupantes, mas não há evidências
suficientes de uma ligação causal.
Fonte: Chemical & Engineering News, v. 99,
n. 20, 2021.
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