quinta-feira, 13 de junho de 2013

Teste rápido detecta pesticida em alimento



Biossensor criado pela Universidade Federal de Mato Grosso usa nanotecnologia para encontrar contaminação. Aparelho foi desenvolvido para achar agrotóxico que, apesar de banido, continua a ser usado

 
          Pensando na proteção dos trabalhadores e nos consumidores de alimentos, um esforço conjunto da USP e da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) criou um teste rápido e portátil para detectar a presença de um pesticida cujo uso foi banido no Brasil, mas que ainda é encontrado em lavouras, sobretudo no Centro-Oeste.

          Hoje, a identificação do metamidofós depende de exames laboratoriais. Estados que não dispõem dessas estruturas precisam enviar suas amostras a outros lugares --principalmente São Paulo e Rio de Janeiro-- para detectar a substância, processo que leva até dez dias.

          Com o novo método, o agrotóxico é identificado em mais ou menos 30 minutos.

          "A detecção clássica de pesticida requer treinamento de pessoal e uso de equipamentos complexos, além da resposta demorada. Com a utilização do biossensor, daria para treinar o próprio produtor e os trabalhadores. É fácil de usar e ainda dá para levar no bolso", afirma Izabela Gutierrez de Arruda, autora do trabalho.

          Natural de Cáceres, em Mato Grosso, a pesquisadora diz que a realidade da agricultura em seu Estado, no qual trabalhadores rurais sofrem com a intoxicação pelo metamidofós, inspirou sua pesquisa.

          As propriedades desse pesticida fazem com que ele seja prejudicial para as funções neurológicas. Além disso, também causa danos aos sistemas imune, reprodutor e endócrino.

 

O TRABALHO

          O conjunto funciona nos moldes de um leitor de glicose usado por diabéticos.

          Uma fita, que serve como reagente, é inserida no material a ser testado e, depois, colocada em um aparelho.

          O biossensor é uma película finíssima contendo a enzima acetilcolinesterase que, quando entra em contato com as moléculas do metamidofós, tem sua ação inibida. Isso diminui a produção de prótons, mudança que é "lida" pelo aparelho, levando à indicação dos índices de contaminação na amostra.

          O dispositivo detecta o agrotóxico na água e também nos alimentos --que precisam ser liquidificados antes de passar pelo exame.

 

OUTROS USOS

          "Com esse mesmo princípio, seria possível identificar também outros agrotóxicos das classes dos organofosforados ou carbamatos [que incluem outros produtos em uso no Brasil]", completa a pesquisadora.

          Responsável por "abraçar" o projeto no IFSC (Instituto de Física de São Carlos) da USP, o professor Francisco Eduardo Gontijo Guimarães destaca o uso de tecnologia avançada, mas que cabe na palma da mão.

          "O uso de nanomateriais potencializou os efeitos da enzima e acelerou o processo", explica o pesquisador.

          Orientador do trabalho, Romildo Jerônimo Ramos, da Universidade Federal de Mato Grosso, diz que a pesquisa tem também um aspecto social muito importante, facilitando a identificação da contaminação dos lençóis freáticos e evitando que trabalhadores e moradores de regiões rurais sejam atingidos por seus graves efeitos.

          O biossensor já foi registrado. A descoberta foi a primeira patente da Universidade Federal de Mato Grosso.

          O grupo do estudo, que contou ainda com a participação do pesquisador NirtonCristi Silva Vieira, aguarda agora investimentos para dar prosseguimento ao projeto, sobretudo vindo de empresas e indústrias. Os custos do aparelho devem ficar entre R$ 100 e R$ 200, mas podem ser reduzidos a depender da escala de produção.

(Giuliana Miranda/Folha de S.Paulo)

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