segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nobel da pesquisa maluca ajuda a criticar ciência 'séria'

Vencedor do Ig Nobel de neurociência questiona resultados duvidosos de investigação do cérebro.

            O Prêmio Ig Nobel - a paródia do Nobel que elege as pesquisas científicas mais esdrúxulas - destaca neste ano descobertas como a de que chimpanzés reconhecem outros macacos olhando fotos de seus traseiros e um experimento que identificou ideias complexas no cérebro de um salmão morto.

            Apesar do tom de ridículo, o segundo trabalho foi, na verdade, a denúncia de uma crise na neurociência, área em que revistas técnicas têm publicado estudos com conclusões duvidosas sobre mapeamentos cerebrais.

            A lista de ganhadores tinha outros trabalhos inacreditáveis - um deles era sobre o (baixo) risco de pacientes explodirem durante colonoscopias -, e o estudo sobre a mente do peixe acabou meio ofuscado entre os vencedores anunciados ontem (20).

            O experimento de Craig Bennet, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, representa bem o lema do Ig Nobel: premiar pesquisas que "primeiro fazem rir, depois fazem pensar".

            Usando uma máquina de ressonância magnética para mapear o cérebro do animal morto, o cientista mostrou que, usando um pouco de estatística sem rigor para interpretar os resultados, é possível tirar qualquer conclusão. No estudo, Bennet mostrou que o cadáver de peixe tinha empatia e apontou quais áreas de seu cérebro eram responsáveis por isso. "Mostramos ao salmão uma série de fotografias com humanos em situações sociais de valor emocional específico", diz o estudo. "Pedíamos ao salmão para determinar quais emoções o indivíduo estaria sentindo."

            A parte do estudo de Bennet que não tinha graça nenhuma era um levantamento sobre o panorama atual da pesquisa com ressonância magnética funcional (que vê a atividade do cérebro em tempo real). Em um ano, 26% dos artigos científicos estavam se valendo do mesmo método estatístico que ele mostrou ser frágil. Numa conferência, 79% dos trabalhos tinham esse problema. Isso explica, em parte, a proliferação de estudos atribuindo funções ultraespecíficas a partes do cérebro.

            A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu ontem (20), no teatro da prestigiada Universidade Harvard (EUA). Conheça os ganhadores da edição 2012 do prêmio Ig Nobel:
 

FÍSICA

Joseph Keller (EUA), Raymond Goldstein (Reino Unido) e colegas

Por calcular o equilíbrio de forças que movem o cabelo e lhe dão forma num penteado com rabo-de-cavalo

 
ACÚSTICA

Kazutaka Kurihara e Koji Tsukada (Japão)

Pela criação do SpeechJammer, um dispositivo que faz as pessoas se embaralharem para falar

 
LITERATURA

Controladoria Geral do Governo dos EUA

Por publicar um relatório acerca de relatórios sobre relatórios que recomenda a preparação de um relatório sobre o relatório acerca de relatórios sobre relatórios

 
QUÍMICA

Johan Pettersson (Suécia)

Por descobrir a razão pela qual alguns habitantes da cidade sueca de Anderslöv estavam ficando com o cabelo verde: o cobre dos canos
 

ANATOMIA

Frans de Waal e Jennifer Pokorny (EUA)

Por descobrir que chimpanzés são capazes reconhecer uns aos outros por meio de fotografias dos seus traseiros
 

NEUROCIÊNCIA

Craig Bennett e colegas (EUA)

Por mostrar que algumas técnicas de neuroimagem podem detectar atividade relevante no cérebro de um salmão morto
 

PSICOLOGIA

Anita Eerland e colegas (Holanda)

Pelo estudo "Inclinar-se para a esquerda faz a Torre Eiffel parecer menor"
 

MEDICINA

Emmanuel Ben-Soussan e Michel Antonietti (França)

Por aconselhar médicos que realizam colonoscopias sobre como minimizar o risco de seus pacientes explodirem

 
PAZ

SKN Company (Rússia)

Por converter munição antiga em diamantes novos

 
DINÂMICA DE FLUIDOS

Rouslan Krechetnikov e Hans Mayer (EUA)

Por compreender padrões do movimento de líquidos dentro de uma xícara de café nas mãos de uma pessoa em movimento

(Folha de São Paulo)

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