terça-feira, 27 de março de 2012

Ciência, Tecnologia e Inovação e a Copa do Mundo, artigo de Leila Macedo


Leila Macedo é pesquisadora titular da Fiocruz, presidente da Associação Nacional de Biossegurança (ANBio) e membro da Federação Internacional de Associações de Biossegurança. Artigo enviado ao JC Email pela autora.



           Nas últimas semanas o noticiário no País tem falado muito de Lei da Copa, cortes nos recursos para Ciência, Tecnologia e Inovação, o Código Florestal e a Rio+20. Não vi uma nota sequer sobre a situação precária dos laboratórios de pesquisa das universidades brasileiras, dos serviços de atendimento de assistência à saúde (exceto as notícias sobre as infecções hospitalares) e de como isso poderá impactar na visibilidade do Brasil durante os grandes eventos como a Copa do Mundo, a Rio+20 e as Olimpíadas.

          Recentemente, a renomada Academia de Ciências Americana (The National Academy of Science - NAS) publicou um livro sobre os grandes desafios no campo da Biosseguridade (do Biosecurity em Inglês), onde a ANBio contribuiu com um capítulo,  e a situação mundial dos laboratórios e instituições que trabalham com material biológico. Participaram deste livro cientistas de 35 países de todos os continentes.

     O livro menciona a necessidade urgente de que os governos assumam uma posição proativa, visando o fortalecimento dessas instituições e, sobretudo a sensibilização para a cultura da Biossegurança e Biosseguridade, sob pena de podermos repetir a triste fatalidade do acidente do Césio-137 ocorrido em 1987, maior acidente com material radioativo ocorrido no mundo, só que desta vez, com material biológico de alto risco, com graves impactos para a saúde, economia e credibilidade do País.

    O acidente de Goiânia serviu para que o Brasil estruturasse todo seu sistema de vigilância, fortalecimento tecnológico e segurança radiológica das instituições que trabalham com o risco radioativo. Infelizmente inúmeras mortes foram necessárias, para que as providências fossem tomadas.

       Nossa hipótese não se caracteriza por algo absurdo ou com escassas probabilidades de ocorrer. Nós da comunidade científica, sabemos que as frases "Deus é Brasileiro" e "Não existe bioterrorismo no Brasil" são jargões que mostram o grande desconhecimento do que acontece no mundo biológico e sobretudo de que "O micróbio não respeita fronteiras".

       O triste cenário de que é preciso "a porta ser arrombada para colocarmos a fechadura", poderá ter impactos muito mais graves e sérios com a liberação intencional ou acidental de um material biológico fatal. O custo de um acidente biológico é incomensurável.

     Imaginem um cenário de grandes eventos, que serão em breve sediados no Brasil, quando o mundo inteiro estará voltando sua atenção para nós e representantes dessas nações serão recebidos aqui. Será que nossas instituições de pesquisa (que detêm a guarda de material biológico de alto risco), hospitais e serviços de atendimento do SUS em geral estariam preparadas com tecnologias de ponta para garantir a segurança biológica, o controle, tratamento e a contenção no caso da ocorrência de um evento biológico?

      E não apenas materiais biológicos que impactam na saúde humana devem estar sob uma tutela de Biosseguridade, tecnologicamente avançada, mas sabemos a gravidade de situações de agro bioterrorismo, como as já vivenciadas no Brasil, como o caso da ferrugem da soja e da vassoura de bruxa do cacau, dentre outras mapeadas.

    Portanto, senhores parlamentares e governantes pensem com carinho na Ciência, Tecnologia, Inovação, Saúde e Educação e na importância de investimentos sérios nesses setores estratégicos para o País, não apenas em momentos de eleições, mas com a consciência de que sem o crescimento nessas áreas, nós brasileiros e a humanidade em geral, poderão ficar a mercê de pós-brancos ou de outras cores.

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