quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Brasil será sede de um dos encontros mais importantes do mundo na área de física


Pela primeira vez, a Conferência Internacional de Raios Cósmicos (ICRC) será realizada na América do Sul 

A 33ª edição da ICRC (International Cosmic Ray Conference) - um dos maiores, mais importantes e mais tradicionais encontros de física do mundo - será realizado entre 2 e 9 de julho no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro. Com a presença de aproximadamente mil cientistas de todo o mundo, o encontro discutirá os mais recentes resultados ligados à física dos raios cósmicos, do Sol, das explosões de raios gama e da matéria escura. As inscrições e submissão de trabalhos se encerram no dia 1º de março.

A primeira edição do ICRC ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial,e, desde então, tem acontecido a cada dois anos. Os dois últimos encontros foram em Pequim (China), em 2011; e Lodz (Polônia), em 2009.

Mistérios da natureza - O ICRC se dedica a tópicos tradicionalmente ligados à física dos raios cósmicos e à astrofísica de altas energias e de partículas. Mas ela também atrai cientistas que trabalham com temas ligados a raios gama e neutrinos. Este ano, no Brasil, pela primeira vez, haverá a participação da comunidade que estuda a misteriosa matéria escura. Por essa razão, o ICRC adotou o subtítulo 'A Conferência da Física de Astropartículas'. Estão planejadas mais de 300 palestras científicas - em sessões plenárias e paralelas -, bem como diversas palestras para o grande público.

Inscrições e submissão de trabalhos - Inscrições e submissão de trabalhos são aceitas até 1º de março próximo pelo sítio do encontro: http://www.cbpf.br/~icrc2013/

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Pesquisa agora quer analisar coração de D. Pedro


Por decisão testamentária, o coração foi doado à Igreja da Lapa, onde é mantido como relíquia na capela principal

O próximo passo do estudo da historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, revelado com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo na semana passada, é analisar o coração de Dom Pedro I, que está na cidade do Porto, em Portugal. Por decisão testamentária, o coração foi doado à Igreja da Lapa, onde é mantido como relíquia na capela principal.

Na primeira fase da pesquisa, Valdirene exumou restos mortais do imperador e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, guardados na cripta do Monumento à Independência, no Ipiranga, zona sul da cidade de São Paulo. O material passou por exames na Faculdade de Medicina da USP, que revelaram, entre outras coisas que Dona Amélia está mumificada.

Médicos envolvidos no estudo veem com entusiasmo a análise do coração. "A partir de uma amostra pequena, de 5 mm, já seria possível aprofundar as hipóteses da causa mortis de Dom Pedro", diz o médico Paulo Hilário Saldiva, chefe do Departamento de Patologia da USP.

Com esse tecido, especialistas poderiam tentar saber, por exemplo, se o imperador teve ou não sífilis, como historiadores afirmam. "Pelo vídeo que vimos, é possível perceber que o coração é maior do que o normal. Isso pode ser decorrência de alguma doença, como de Chagas. Ou de um problema reumático. É preciso analisar."

Em breve, um pedido formal deve ser feito à prefeitura do Porto e à Venerável Ordem de Nossa Senhora da Lapa, que administra a igreja. Segundo Valdirene, será apresentado um projeto detalhado e, dependendo da receptividade, pesquisadores poderão solicitar a vinda do órgão ao Brasil para tomografia na Faculdade de Medicina da USP.

Hoje, duas entidades são responsáveis pelo coração de Dom Pedro: a prefeitura do Porto e a Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, a quem a filha do imperador brasileiro, a rainha portuguesa D. Maria II, atribuiu por decreto régio a função de manter o coração do pai.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou em Portugal que os responsáveis pelo coração estão abertos a que se retire uma amostra para estudo. Mas impõem como condição a garantia de sua integridade. Sobre a possibilidade de trazê-lo ao Brasil, ainda não se manifestaram. "Não há obstáculo nenhum ao estudo. Mas nesse momento não é aconselhável abrir o frasco com o coração, porque está muito frágil", afirmou o provedor da Irmandade, Joaquim França do Amaral.

"Atualmente, ele é aberto apenas uma vez a cada dez anos, para troca do líquido de conservação, uma solução de Kaiserling." Um dos receios é que essa solução de Kaiserling possa ter efeito diferente do formol, substância atualmente usada para conservar órgãos.

Na prefeitura do Porto, a condição é de que seja feito um pedido oficial: "É uma questão que terá de ser analisada profundamente pelas autoridades", informou o chefe da Divisão de Relações Internacionais e Protocolo da prefeitura, João Paulo Cunha. 

(O Estado de São Paulo)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Fisicos Criam um Cristal Quase Vivo

Após três bilhões de anos, a química inanimada tornou-se parte de algo biológico, formando a vida.
Um composto recém-sintetizado está se comportando de modo assustadoramente realista, como se estivessem vivos.

As partículas não estão realmente vivas, obviamente, mas elas não estão longe disso também. Expostas à luz e “alimentadas” por produtos químicos, elas formam cristais que se movem, se rompem e formam-se de novo.

“Há uma fronteira que não conhecemos entre o vivo e o não vivo. Isso é exatamente o tipo de questão que tais descobertas levantam”, declarou o biofísico Jérémie Palacci da Universidade de Nova York em entrevista a revistaWired.

Palacci e seu colega Paul Chaikin, lideraram um grupo de pesquisadores que desenvolveram as partículas, relatadas no dia 31 de janeiro na Science, classificadas como cristais “vivos” em determinadas condições químicas.
Cada partícula é feita a partir de um cubo microscópico de hematita, um composto constituído de ferro e oxigênio revestido por uma camada de polímero esférico, mas com um pequeno canto exposto.

Sob certos comprimentos de onda de luz azul, a hematita conduz eletricidade. Quando as partículas são colocadas em solução de peróxido de hidrogênio (mais conhecido como água oxigenada) sob essa luz, começam reações químicas em torno das pontas expostas.

Como o peróxido de hidrogênio se decompõe, um gradiente de concentração é formado. As partículas então viajam até esse ponto exposto, agregando cristais que também seguem esse gradiente.

Forças aleatórias puxam os cristais que estão separados, mas eventualmente eles se fundem de novo. O processo se repete, paralisando apenas quando as luzes se apagam.

O trabalho em questão visa entender como esses complicadíssimos comportamentos coletivos surgem de simples propriedades individuais.
“Aqui nós mostramos que com um sistema simples, sintético e ativo, podemos reproduzir algumas características dos sistemas vivos. Eu não acho que isso se comporte exatamente como nossos sistemas vivos, mas enfatiza o fato de que o limite entre o vivo e o não vivo é um tanto arbitrário”, declarou Palacci.
Chaikin ainda comentou que a vida é algo muito difícil de definir, mas podemos dizer que é algo que possui metabolismo, mobilidade e capacidade de se auto-replicar. Esses cristais possuem essas duas primeiras características, não a última.

Alguns cientistas acreditam que os blocos de construção da vida existiram de modo semelhante, indo e voltando durante milhões de anos, até conseguirem a característica de se reproduzirem.
Fonte: Osmairo Valverde, Jornal Ciência de 04.02.2013

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Alimentos crus não suprem as necessidades de grandes cérebros



Por Murilo Sérgio da Silva Julião

 

          Fazer uma dieta baseada em alimentos crus pode se tornar uma receita para o desastre, se você estiver pensando em aumentar a força do cérebro de sua espécie. Isto porque os seres humanos teriam que gastar mais de 9 horas por dia se alimentando somente de alimentos não processados (in natura) a fim de obter energia em quantidade suficiente para sustentar nossos grandes cérebros, de acordo com um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciencesa (PNAS) que calculou o custo energético gasto no crescimento de um cérebro enorme ou do corpo dos primatas. Entretanto, nossos antepassados conseguiram obter energia suficiente para fazer com que os cérebros deles apresentassem três vezes mais neurônios do que primatas como: gorilas, chimpanzés e orangotangos. Como eles fizeram isso? Eles cozinhavam, de acordo com o estudo publicado na PNAS hoje on-line nos Anais da Academia Nacional de Ciências.

          "Se você comer apenas alimentos crus, um dia de 24 horas não será suficiente para se obter a quantidade de calorias necessária a fim de desenvolver um cérebro tão grande", afirma Suzana Herculano Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, coautora do trabalho. "Podemos obter mais neurônios, graças ao ato de cozer."

          Os seres humanos têm mais neurônios no cérebro do que qualquer outro primata – aproximadamente 86 bilhões, em média, em comparação com os cerca de 33 bilhões de neurônios em gorilas e 28 bilhões em chimpanzés. Para termos essa quantidade extra de neurônios que nos dota de muitos benefícios, necessitamos pagar um preço, uma vez que nosso cérebro consome 20% de toda a energia do corpo, quando em repouso, em comparação com os 9% em outros primatas. Então, uma pergunta que tem sido feita ao longo do tempo é: de onde os nossos ancestrais obtinham energia extra para expandir as mentes e como estas evoluíram a partir de animais com cérebros e corpos do tamanho dos chimpanzés?

          Uma resposta veio no final da década de 1990, quando o primatologista Richard Wrangham da Universidade de Harvard, propôs que o cérebro começou a expandir-se rapidamente a cerca de 1,8 milhões de anos atrás no nosso antepassado, o Homo erectus, pois este ser humano aprendeu muito cedo a assar carne e vegetais de raízes tuberosas sobre fogueiras. Cozinhando, pré-digerimos efetivamente os alimentos, tornando mais fácil e eficiente para os nossos intestinos absorverem calorias mais rapidamente, Wrangham afirmou em seu trabalho. Desde então, o seu grupo de colaboradores tem mostrado em estudos com cobaias de laboratório, como roedores e jiboias que estes animais crescem mais rápido e se tornam maiores quando comem carne cozida em vez de carne crua e que é necessário menos energia para digerir carne cozida do que carne crua.

          Em um novo teste desta hipótese do cozimento de alimentos, Herculano Houzel e sua estudante de graduação, Karina Fonseca Azevedo, neurocientista do Instituto Nacional de Neurociência Translacional, em São Paulo, decidiram observar se uma dieta de alimentos crus inerentemente poriam limites no crescimento do cérebro ou corpo de um primata. Primeiro, elas contaram o número de neurônios nos cérebros de 13 espécies de primatas (e mais de 30 espécies de mamíferos). As pesquisadoras descobriram duas coisas: (i) que o tamanho do cérebro está diretamente ligado ao número de neurônios num cérebro e (ii) que o número de neurônios está diretamente correlacionado com a quantidade de energia (ou calorias) necessária para alimentar um cérebro.

          Após o ajuste para a massa corporal, elas calcularam quantas horas por dia vários primatas levariam para ingerir calorias de alimentos crus suficientes para abastecer seus cérebros. Elas descobriram que levariam 8,8 horas para os gorilas; 7,8 horas os orangotangos; 7,3 horas para os chimpanzés e 9,3 horas para a nossa espécie, H. sapiens.

          Esses números mostram que há um limite superior para a quantidade de energia que os primatas precisam obter a partir de uma dieta de alimentos crus, disse Herculano-Houzel. A dieta dos macacos na natureza difere de uma dieta moderna "baseada em alimentos crus", na qual os seres humanos obtêm calorias suficientes a partir do processamento de alimentos crus em liquidificador, acrescidos de proteínas e outros nutrientes. Na natureza, outros macacos não puderam evoluir o tamanho dos cérebros, a menos que reduzissem o tamanho de seu corpo pois não poderiam passar o limite de quantas calorias poderiam consumir em 7 horas para 8 horas de alimentação por dia. Mas os seres humanos, diz ela, ficaram em torno daquele limite, pelo cozimento. "A razão pela qual temos mais neurônios do que qualquer outro animal vivo é que o cozimento dos alimentos permitiu esta mudança qualitativa – esta etapa proporcionou o aumento do tamanho do cérebro", disse ela. "Ao cozinhar, conseguimos contornar a limitação do quanto se pode comer em um dia".

          Mas para Herculano Houzel, nossos cérebros ainda seriam do tamanho de um macaco caso o Homo erectus não tivesse brincado com fogo: "Quanto mais eu penso sobre isso, mais eu me curvo a minha cozinha. O fogo é a razão de estarmos aqui."

O CNPq não acha meu trabalho digno de financiamento!

 
 
Artigo de Suzana Herculano Houzel*, publicado em seu blog
       Ah, as inconsistências do sistema de financiamento da ciência no Brasil. Meu laboratório nunca esteve mais produtivo; nosso trabalho na PNAS, um de OITO publicados em revistas internacionais este ano (e, aliás, o segundo na PNAS deste ano) acabou de sair, com um baita reconhecimento mundo afora; e então... descubro que nosso projeto de pesquisa não teve seus recursos renovados pelo CNPq para o ano que vem. Veja bem: não foi pedido de auxílio novo, e sim de renovação de um projeto super bem sucedido. O comunicado oficial diz que "sua proposta (...) teve o seu mérito reconhecido. No entanto, na análise comparativa com as demais propostas, o seu pedido não alcançou classificação que permitisse o atendimento."
       Pensei em escrever para o CNPq para pedir reconsideração, mas depois que olhei a lista de agraciados, estou quase mudando de ideia: no meu comitê de avaliação (morfologia), foram agraciados TODOS nossos professores titulares no Instituto, e mais dois ou três professores sêniors. Até aqui é "só" coincidência entre titulação e aprovação. Mas aí começam as estórias de horror nada científico no Facebook, como relatos de pesquisadores que têm seu projeto repetidamente recusados sob seu próprio nome, MAS quando submetem o mesmo projeto com o nome do chefe sênior, professor titular, diretor disto e daquilo... o projeto miraculosamente é aprovado.
       Aiai. Se eu entrar com recurso e ganhar, daqui a três anos estarei novamente competindo em pé de desigualdade com meus colegas titulares. Mas se eu não entrar com recurso agora, concorro de novo ano que vem, quando eles não estarão concorrendo, e quem sabe assim minhas chances de uma disputa mais justa, por produtividade, serão maiores... É, fazer ciência no Brasil também tem dessas. Que se dane a produtividade, se você não é a bola da vez.
       O irônico é que, enquanto o CNPq acha que o nosso projeto não é digno de ter seus recursos renovados, a revista Science teve uma repercussão tão grande em seu site da matéria que eles publicaram sobre nosso artigo na PNAS que me convidou para participar do chat semanal deles esta semana, na quinta-feira dia 8 de novembro, de 17:45 - 19:45 horário de Brasília, em http://news.sciencemag.org/sciencelive/
       Aliás, tem sido realmente instrutivo ver a repercussão na mídia desse nosso trabalho. Mundo afora, vários jornais comentaram, e o posdoc polonês no meu laboratório diz que foi o assunto da semana passada por lá (ele deve estar exagerando um pouco, mas de qualquer forma fico honradíssima). No Brasil, até a revista Claudia vai fazer uma matéria a respeito. A Fundação James McDonnell, nos EUA, nosso maior financiador, ficou felicíssima com a notícia. Mas os sites da Faperj e do CNPq? Nem mencionaram o assunto. Não recebi qualquer contato de jornalistas deles - que eu sei que existem, e recebem os mesmo press releases que os jornalistas estrangeiros que me ligaram até no meio da noite deles para conseguir uma entrevista, como foi o caso de uma estação de rádio na Nova Zelândia.
       Esta tem sido minha "vingança", ou no mínimo meu consolo: eu tenho reconhecimento... fora do meu país. No momento, por exemplo, estou em Cancun com todas as despesas pagas pelo IBRO para dar um curso e uma de seis ou oito palestras plenárias na reunião internacional da Federação de Sociedades de Neurociência da América Latina. Ano que vem dou palestra em uma reunião em Cambridge, e serei uma de seis palestrantes convidados, também com tudo pago, na Reunião Europeia sobre Glia, em Berlin.
Ou seja: os estrangeiros me chamam para representar nossa ciência lá fora - mas o CNPq não acha que meu projeto é prioritário o suficiente para merecer continuar sendo financiado. Então tá. Meu marido, que é americano, está começando a me perguntar "por que mesmo você ainda trabalha no Brasil???" Vamos ver quanto tempo eu duro...
 
*Suzana Herculano Houzel é neurocientista e pesquisadora no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ