Em conferência na
reunião da SBPC, Ildeu de Castro Moreira listou dez mandamentos para a
popularização da ciência no Brasil.
A divulgação científica tem crescido no Brasil do ponto de vista
numérico, mas ainda não é suficiente, pois os setores sociais não têm sido
beneficiados. A afirmação foi feita por Ildeu de Castro Moreira, do Instituto
de Física da UFRJ, na conferência "Que divulgação científica é esta?
Desafios da popularização da ciência no Brasil" realizada na terça-feira,
dia 23 na 65ª Reunião Anual da SBPC, no Recife.
Os
desafios da popularização da ciência no Brasil são enormes. Vencedor da 33ª
edição do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, Ildeu listou
dez pontos que devem ser analisados e debatidos por toda a sociedade. "É
uma espécie de dez mandamentos que servem de base para pensarmos na divulgação
científica que estamos fazendo e como podemos mudar", disse. Segundo ele,
no Brasil se divulga ciência desde o século XIX.
O
primeiro grande desafio é melhorar a qualidade da educação científica de forma
permanente. "É necessário uma campanha mais intensa, mais dura para
melhorar a educação. Nossas escolas não ensinam sobre nossos cientistas, que em
sua maioria tiveram e tem um papel fundamental na divulgação científica do
país", afirmou. Ainda segundo ele, a história da ciência deveria ser
ensinada nas universidades.
De
acordo com Ildeu, apenas 15% dos brasileiros são capazes de citar um cientista
brasileiro ou uma instituição científica. "A escola básica não mostra isso
aos seus alunos. Isso precisa mudar e a divulgação científica pode
ajudar", afirmou. Atingir setores mais amplos, melhorar a acessibilidade e
a entrada na mídia foram outras questões destacadas. De acordo com o professor,
é preciso levar a ciência aonde as pessoas estão, não adianta só ter museus.
"A estratégia para os próximos anos não é só criar novos espaços, mas
discutir os locais. Sempre se faz dentro das universidades, vamos repensar essa
ótica", propôs Ildeu, que chamou a atenção para a média de público que
visita um museu no Brasil. "Estamos na escala de 180 mil pessoas, mas
temos que multiplicar por dez, colocar essa meta. Mas para isso precisamos de
políticas públicas direcionadas", apontou.
A
formação foi outro ponto apresentado pelo professor. Estimular a divulgação
científica entre os jovens mestres e doutores é fundamental, segundo ele. "Temos
que dizer a eles que isso é importante para que eles possam mostrar para a
população o que estão fazendo dentro dos laboratórios. Para isso, vamos
discutir outros procedimentos e até a carga didática dos cursos", opinou.
Integração ciência, cultura e arte
Ciência
e arte são atividades com a mesma raiz humana, mas com olhares diferentes.
"Temos que aprender que ciência e arte podem interagir sem que uma deturpe
a outra", afirmou Ildeu, que completou sua lista de desafios com a
necessidade da organização de mais eventos, mais políticas públicas, menos
burocracia e apropriação social da ciência.
A
apropriação social da ciência ainda não foi alcançada, de acordo com o
professor. "O social deve estar ligado à inovação. Inovar significa
melhorar a educação, a saúde, as condições de vida do cidadão, mas esse não é o
pensamento predominante. São questões que a ciência e a tecnologia podem
resolver, mas que não acontecem por falta de políticas públicas", afirmou.
JC e-mail 4775, de 24 de Julho de 2013.
(Edna Ferreira / Jornal da Ciência)
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