Por decisão testamentária, o coração foi doado à Igreja da Lapa, onde é mantido como relíquia na capela principal
O próximo passo do estudo da historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, revelado com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo na semana passada, é analisar o coração de Dom Pedro I, que está na cidade do Porto, em Portugal. Por decisão testamentária, o coração foi doado à Igreja da Lapa, onde é mantido como relíquia na capela principal.
Na primeira fase da pesquisa, Valdirene exumou restos mortais do imperador e de suas duas mulheres, Leopoldina e Amélia, guardados na cripta do Monumento à Independência, no Ipiranga, zona sul da cidade de São Paulo. O material passou por exames na Faculdade de Medicina da USP, que revelaram, entre outras coisas que Dona Amélia está mumificada.
Médicos envolvidos no estudo veem com entusiasmo a análise do coração. "A partir de uma amostra pequena, de 5 mm, já seria possível aprofundar as hipóteses da causa mortis de Dom Pedro", diz o médico Paulo Hilário Saldiva, chefe do Departamento de Patologia da USP.
Com esse tecido, especialistas poderiam tentar saber, por exemplo, se o imperador teve ou não sífilis, como historiadores afirmam. "Pelo vídeo que vimos, é possível perceber que o coração é maior do que o normal. Isso pode ser decorrência de alguma doença, como de Chagas. Ou de um problema reumático. É preciso analisar."
Em breve, um pedido formal deve ser feito à prefeitura do Porto e à Venerável Ordem de Nossa Senhora da Lapa, que administra a igreja. Segundo Valdirene, será apresentado um projeto detalhado e, dependendo da receptividade, pesquisadores poderão solicitar a vinda do órgão ao Brasil para tomografia na Faculdade de Medicina da USP.
Hoje, duas entidades são responsáveis pelo coração de Dom Pedro: a prefeitura do Porto e a Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, a quem a filha do imperador brasileiro, a rainha portuguesa D. Maria II, atribuiu por decreto régio a função de manter o coração do pai.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou em Portugal que os responsáveis pelo coração estão abertos a que se retire uma amostra para estudo. Mas impõem como condição a garantia de sua integridade. Sobre a possibilidade de trazê-lo ao Brasil, ainda não se manifestaram. "Não há obstáculo nenhum ao estudo. Mas nesse momento não é aconselhável abrir o frasco com o coração, porque está muito frágil", afirmou o provedor da Irmandade, Joaquim França do Amaral.
"Atualmente, ele é aberto apenas uma vez a cada dez anos, para troca do líquido de conservação, uma solução de Kaiserling." Um dos receios é que essa solução de Kaiserling possa ter efeito diferente do formol, substância atualmente usada para conservar órgãos.
Na prefeitura do Porto, a condição é de que seja feito um pedido oficial: "É uma questão que terá de ser analisada profundamente pelas autoridades", informou o chefe da Divisão de Relações Internacionais e Protocolo da prefeitura, João Paulo Cunha.
(O Estado de São Paulo)
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