Contra esses problemas,
universidades e publicações científicas contam com poucas armas – como
softwares que identificam trechos de outros artigos e a revisão de conteúdo por
outros especialistas da área.
Dois
químicos brasileiros foram acusados nesta semana de usar dados fabricados em artigos
científicos. Com o caso, a questão da fraude na ciência voltou a ser alvo de
discussão no mundo acadêmico brasileiro.
A fabricação de dados, o plágio e
a invenção de informações são alguns dos tipos de fraude mais comuns hoje.
Contra esses problemas, universidades e publicações científicas contam com
poucas armas – como softwares que identificam trechos de outros artigos e a
revisão de conteúdo por outros especialistas da área.
Quando
um erro é encontrado após a publicação de um artigo, há dois caminhos
possíveis. Um deles é a correção, adotada pelas revistas de ciência em casos
considerados de menor gravidade. Já no caso das fraudes, o procedimento mais
comum é a retratação (também conhecida como despublicação).
Embora
continuem a constar na base de dados da publicação, artigos despublicados
ganham um aviso que informa que o conteúdo “não é confiável”. Quem explica toda
dinâmica descrita acima são a linguista Ana Munhoz e a antropóloga Debora
Diniz. Elas são autoras do livro “Plágio: palavras escondidas”.
“A
infração ética gera vergonha e desconfiança do pesquisador como alguém cuja
contribuição para o conhecimento acadêmico possa ser levada a sério”,
explicaram elas por e-mail para EXAME.com.
E depois?
“A
demonstração de uma fraude com dolo, deveria levar à rejeição dos ofensores
pela comunidade como um todo, mas isso raramente acontece”, afirmou em
entrevista a EXAME.com o bioquímico Sergio Pena. Ele é um dos autores do guia
“Rigor e Integridade na Condução da Pesquisa Científica”, da Academia
Brasileira de Ciência (ABC).
A
afirmação faz ainda mais sentido quando se considera o caso denunciado na
última segunda. Ele envolve o uso de imagens fraudadas num artigo publicado em
julho de 2013. Entre os autores desse artigo, está o químico Claudio Airoldi.
Em
2011, esse mesmo pesquisador foi suspenso por 15 dias pela Unicamp após
investigações comprovarem o uso de imagens fraudadas em 11 artigos em que ele
aparecia como autor.
Responsável
pela parte experimental desses trabalhos, o cientista Denis Guerra foi demitido da Universidade Federal do Mato
Grosso em função do episódio, tido hoje como o maior caso de infração ética da
história acadêmica brasileira.
Ana
e Debora destacam que nem todo caso de fraude é necessariamente fruto de má fé.
Segundo elas, fatores como preguiça, engano e desinformação podem gerar o
problema. “Precisamos de duas coisas: falar e educar”, defendem elas.
Consequências
As
consequências de uma fraude no mundo da ciência são as mais diversas possíveis.
Como exemplo, Pena lembra um estudo publicado pelo periódico The Lancet em
1998.
Nele,
os pesquisadores apontavam uma conexão entre a vacina contra o sarampo e o
desenvolvimento de autismo. Posteriormente, essa relação foi desmentida e o
artigo foi alvo de retratação por parte da publicação.
Mesmo
com todas essas precauções, a informação errada se difundiu nos Estados Unidos.
Como resultado, muitos pais deixaram de vacinar seus filhos contra o sarampo.
Por fim, isso fez com que microepidemias da doença (antes raras) voltassem a
ocorrer naquele país.
“A
confiança é o pilar da atividade de pesquisa”, afirma o guia de ética
científica da ABC. Por isso, as fraudes na ciência são tão problemáticas.
Quando elas acontecem, quem vira alvo de dúvidas é a própria atividade
científica.
(Agência
Fapeam, com informações da Exame)
Leia também:
Exame.com
Químicos brasileiros são acusados
de usar dados fabricados
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