Por
Murilo Sérgio da Silva Julião
Todos os anos comemora-se em 22 de março o dia
mundial da água, porém é interessante frisar que a obtenção de água limpa
e cristalina ainda custa muito pouco para as pessoas que tem acesso à água
tratada e não dão o devido valor a esse bem finito.
Cada pessoa no Brasil, em média,
utiliza de 120 a 190 litros de água todos os dias; dependendo da região em que
ela more; para beber, lavar, cozinhar, tomar banho etc. As companhias e/ou
empresas de saneamento fornecem água e ao mesmo tempo devem assegurar que a
mesma não contenha qualquer contaminante químico ou biológico que poderia ser
perigoso para nossa saúde.
No Brasil, cerca de 2/3 de nossa
água potável é proveniente de fontes superficiais, isto é lagos, represas e
rios e cerca de 1/3 é proveniente de fontes subterrâneas. As águas subterrâneas
estão localizadas nos aquíferos, que são formados quando as águas de chuva
penetram através dos poros de formações rochosas tais como arenito ou gesso. As
companhias de água extraem a água perfurando poços ou de fontes naturais. O
processo de tratamento depende da proveniência da água. Por exemplo, águas
subterrâneas de boa qualidade necessitam somente serem desinfetadas,
entretanto algumas águas subterrâneas e superficiais necessitam de tratamento
adicional para remoção de ferro e manganês que ocorrem naturalmente ou para
remover pesticidas ou nitratos ou poluentes orgânicos ao nível de traço
oriundos da agricultura.
Tratamentos típicos
As águas superficiais e algumas
águas subterrâneas de baixa qualidade devem passar por três processos
principais – clarificação, filtração e desinfecção – antes de chegar aos
nossos lares.
Clareamento
Pequenas partículas; incluindo-se
solos, algas, bactérias, vírus e ácidos fúlvicos e húmicos que causam coloração
às águas; podem estar presentes na água. Essas partículas, com tamanho variando
entre 10 nm (10 x 10-9 m) e 10 mm (10 x 10-6
m), são coloidais, isto é, por causa de seu tamanho reduzido elas permanecem
suspensas na água. Sistemas coloidais em águas naturais são sistemas
tipicamente estáveis de duas fases que consistem de finas partículas sólidas
dispersas numa fase líquida. A maioria dessas partículas coloidais têm fraca
carga negativa, fazendo com que as mesmas sofram repulsão entre si, porém são
estabilizadas por uma nuvem circundante de íons com carga contrária. As
companhias de água, tais como CAGECE, SABESP, CEDAE etc., clarificam a água com
adição de um agente coagulante, que remove aproximadamente 90% dos sólidos
suspensos. Em geral, utilizam-se os seguintes agentes coagulantes, sulfato de
alumínio [Al2(SO4)3] e sulfato férrico [Fe2(SO4)3].
Estes contém cátions polivalentes (ex. Al3+ ou Fe3+), os
quais alteram o ambiente carregado e desestabilizam as suspensões coloidais.
Resultando em pequenas partículas unidas que formam agregados também chamados
de flocos. Estes tanto podem serem forçados, por microbolhas de ar (aeração),
a formar flocos cada vez maiores no topo do tanque de clarificação como podem
se depositar no fundo do tanque. Outros coagulantes podem ser usados, entre
eles o sulfato ferroso, aluminato de sódio, sílica ativada ou polímeros
catiônicos, porém sua utilização depende sobretudo do pH da água natural, que
afeta a estabilidade do sistema coloidal e da quantidade de sólidos suspensos
que a água natural contém.
O Papel dos Químicos na
Indústria de Água
Os químicos analisam e monitoram a
água distribuída de acordo com as normas estabelecidas pelas Portarias
divulgadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS.
Contaminantes
|
Técnica
analítica
|
Nitratos, fluoretos
e vários metais
|
Espectrofotometria
de absorção molecular ou atômica
|
Sulfatos
|
Análise
gravimétrica
|
Fenóis
|
Espectrofotometria
de absorção molecular
|
Hidrocarbonetos
|
Espectrofotometria
do infravermelho
|
Hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos
|
Cromatografia de
camada delgada associada à fluorescência UV
|
Pesticidas (ex.
hexaclorociclohexano)
|
Cromatografia à gás
ou líquida
|
Filtração
As companhias de água utilizam uma
combinação de vários tipos de filtros, incluindo-se os de areia (lentos) e os
que fazem uso da pressão ou da gravidade (rápidos). Os filtros de areia
consistem de camadas de areia que aprisionam partículas de um certo tamanho,
nesses casos a água percola a uma velocidade de aproximadamente 0,1 m3/h.
Eles possuem a vantagem de que a água não necessita ser antes clarificada. Pois
quando o fluxo da água atravessa, forma-se uma camada de matéria biológica
(denominada camada Schmutzdecke) que atua como uma fina esteira de pressão.
Além disso, numa fina camada (alguns mm) do topo desta camada a matéria
orgânica é destruída e as plantas e bactérias vivas consomem os nutrientes
disponíveis, tais como fosfatos e nitratos, e convertem quaisquer compostos
solúveis de ferro e manganês presentes em compostos de hidróxidos insolúveis.
Os filtros de pressão e gravidade
forçam a água através de camadas de areia e cascalho numa alta velocidade,
cerca de 6 m3/h. Atualmente, algumas companhias de água incorporam o
carvão ativado granulado (GAC) dentro dos filtros. O GAC tem uma grande área superficial
contendo pequenos poros. Estes poros aprisionam qualquer substância orgânica
dissolvida presente e a remove da água de abastecimento. O GAC é algumas vezes
utilizada como uma camada discreta nos filtros, lentos, de areia para remover
pesticidas ou como um filtro de contato com o ozônio para remover pesticidas e
contaminantes traços. O ozônio (O3) é um poderoso oxidante que oxida
qualquer poluente e pesticida, presente na água, provenientes de produtos
perigosos.
Além disso, a membrana de filtração
– tanto a de ultrafitração como a de microfiltração dependem do tamanho da
partícula que está sendo removida – está se tornando um processo de tratamento
comum nas grandes companhias de água no Brasil. Os filtros de membrana são
geralmente feitos de polietersulfona, porém podem ser também feitos de
polipropeno, poliamida ou de cerâmicas. As membranas de microfiltração têm
poros na faixa de 0,1 – 10 mm de tamanho; pequeno o
suficiente para reter e remover parasitas tais como Crystosporidium, que
pode causar problemas estomacais nas pessoas. As membranas de ultrafiltração
possuem poros na faixa de 0,001 – 0,1 mm de tamanho e adicionalmente
poderiam remover alguns vírus e algumas moléculas orgânicas.
Desinfecção
Finalmente, todas as águas
necessitam ser desinfetadas antes de chegar em nossas residências. Nos últimos 80
anos, o cloro tem sido amplamente usado para este propósito. E ainda hoje é
utilizado, porém em combinação com outros processos, incluindo-se o ozônio e o
tratamento UV, que reduzem a quantidade total de cloro a ser usada. Uma
quantidade residual de cloro é deixada na água para eliminar alguma bactéria
que pode estar presente nas tubulações de fornecimento de água. A desinfecção
remove a maioria de microrganismos perigosos, tais como a Escherichia coli. Entretanto, ela não é eficiente contra parasitas
como o Crystosporidium. Estes parasitas são circundados por uma camada
de proteção, tornando-os resistentes aos cloro (obs. são removidos pela
membrana de filtração).
O ozônio (O3) é muito
usado na França como um desinfetante, e algumas companhias de água do Reino
Unido utilizam o O3 antes da clarificação da água com a finalidade
de remover algas residuais e novamente após a filtração como um desinfetante
adicional. As companhias de água tendem a usar a luz ultravioleta como uma
parte do procedimento de desinfecção de águas subterrâneas de boa qualidade. A
luz UV é responsável por dar início as mortíferas reações fotoquímicas no
interior das células de certos vírus e bactérias.
A indústria da água fornece mais de 20.000
milhões de m3 de água todos os dias para 150 milhões de pessoas no
Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário