Leiam o
editorial publicado no Journal of the Brazilian Chemical Society do mês de
outubro de 2012. O texto é de autoria de Angelo da Cunha Pinto, do Instituto de
Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os
cientistas precisam resgatar com a máxima urgência a beleza da ciência e
preservar sua qualidade. A maior parte deles está mais preocupada com
indicadores e índices numéricos do que propriamente com a qualidade da ciência
que vêm fazendo. Passou-se a medir a importância de um artigo científico muito
mais pelo fator de impacto da revista em que foi publicado do que pela sua
contribuição ao conhecimento. Não que as revistas não devam ser hierarquizadas
e que umas não sejam muito melhores do que outras. Mas, mesmo nas revistas
consideradas como as melhores, às vezes o artigo que foi publicado é algo
"requentado".
A
criatividade cedeu lugar à técnica em que a única novidade é o equipamento,
mesmo que as medidas feitas pudessem ser obtidas em máquinas mais simples e
acessíveis. Isso acontece em todas as áreas do conhecimento consideradas duras,
como é o caso da Química e da Física. Fazer medidas e simplesmente tabulá-las
não pode ser considerado ciência. Mas, infelizmente esta prática é dominante
entre muitos cientistas aos quais mais interessa o número de papers do que a
qualidade da ciência que fazem.
É
raríssimo assistir, nos dias de hoje, um conferencista exaltar o seu trabalho,
mas é comum vê-lo distinguir, cheio de orgulho, a revista onde foi publicado.
Ao lerem este texto, muitos dirão que o editorialista esqueceu-se de mencionar
que a qualidade de um artigo pode ser mensurada pelo número de citações que
recebeu. É verdade que o número de citações é um excelente indicador de
qualidade. Mas, mesmo ele passou em muitos casos a ser um indicador
"falso" por causa da criação dos "clubes de citação".
Chegou-se ao cúmulo de alguns editores sugerirem a citação de artigos
publicados em suas revistas nos últimos dois anos para que estas melhorem seu
fator de impacto, isto sem falar nas autocitações desnecessárias feitas por
muitos autores.
Revista
científica importante é aquela que é muito lida e apreciada por seus leitores.
Se os indicadores forem bons, melhor. O que não pode acontecer é os editores
correrem atrás dos indicadores e esquecerem a qualidade do que está sendo
publicado. A prevalecer certos dogmas, os jovens se afastarão cada vez mais da
ciência, e esta atividade será dominada pelos "velhos" até que eles deixem
de existir, porque o número de revistas científicas cresce a cada ano em ritmo
maior do que o número de jovens que optam pela carreira científica.
Beleza,
Ciência e Artes são como irmãs siamesas. Quanto maior a beleza de um artigo
científico, não há dúvida, melhor e mais qualificado é seu autor ou autores,
porque a ciência moderna é na maior parte das vezes obra de uma equipe.
Resgatar a beleza da ciência e não deixar que esta seja terceirizada é dever de
todo cientista, e, principalmente, dos editores de periódicos científicos. A
estes últimos cabe zelar pela prática de uma boa ciência.
A
ciência é uma grande aventura que deve ser vivenciada em sua plenitude. E como
toda e qualquer aventura, é bela para os que a ela se entregam de corpo e alma.
Os químicos, como herdeiros dos feiticeiros e dos alquimistas, têm vocação pela
aventura. Por isso, é dever de todo orientador inculcar nos seus orientandos o
espírito de aventura e mostrar que a Química tem tanta beleza quanto qualquer
obra de arte, desde que feita com criatividade, qualidade e, sobretudo, com
entrega total.
Mais como fazer isso? Como ter uma pesquisa que lhe instigue a tentar coisas novas? Se, muitas vezes, o orientando esta prezo a metodologia do professor orientador. Na verdade o que mais se quer não é descobrir coisas novas e sim o que se que é publicar.
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