O Prêmio Ig Nobel - a
paródia do Nobel que elege as pesquisas científicas mais esdrúxulas - destaca
neste ano descobertas como a de que chimpanzés reconhecem outros macacos
olhando fotos de seus traseiros e um experimento que identificou ideias
complexas no cérebro de um salmão morto.
Apesar do tom de
ridículo, o segundo trabalho foi, na verdade, a denúncia de uma crise na
neurociência, área em que revistas técnicas têm publicado estudos com
conclusões duvidosas sobre mapeamentos cerebrais.
A lista de ganhadores
tinha outros trabalhos inacreditáveis - um deles era sobre o (baixo) risco de
pacientes explodirem durante colonoscopias -, e o estudo sobre a mente do peixe
acabou meio ofuscado entre os vencedores anunciados ontem (20).
O experimento de Craig
Bennet, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, representa bem o lema do
Ig Nobel: premiar pesquisas que "primeiro fazem rir, depois fazem
pensar".
Usando uma máquina de
ressonância magnética para mapear o cérebro do animal morto, o cientista
mostrou que, usando um pouco de estatística sem rigor para interpretar os
resultados, é possível tirar qualquer conclusão. No estudo, Bennet mostrou que
o cadáver de peixe tinha empatia e apontou quais áreas de seu cérebro eram
responsáveis por isso. "Mostramos ao salmão uma série de fotografias com
humanos em situações sociais de valor emocional específico", diz o estudo.
"Pedíamos ao salmão para determinar quais emoções o indivíduo estaria
sentindo."
A parte do estudo de
Bennet que não tinha graça nenhuma era um levantamento sobre o panorama atual
da pesquisa com ressonância magnética funcional (que vê a atividade do cérebro
em tempo real). Em um ano, 26% dos artigos científicos estavam se valendo do
mesmo método estatístico que ele mostrou ser frágil. Numa conferência, 79% dos
trabalhos tinham esse problema. Isso explica, em parte, a proliferação de
estudos atribuindo funções ultraespecíficas a partes do cérebro.
A cerimônia de entrega
do prêmio ocorreu ontem (20), no teatro da prestigiada Universidade Harvard
(EUA). Conheça os ganhadores da edição 2012 do prêmio Ig Nobel:
FÍSICA
Joseph Keller (EUA), Raymond Goldstein (Reino Unido) e colegas
Por calcular o equilíbrio de
forças que movem o cabelo e lhe dão forma num penteado com rabo-de-cavalo
ACÚSTICA
Kazutaka Kurihara e Koji Tsukada (Japão)
Pela criação do SpeechJammer, um
dispositivo que faz as pessoas se embaralharem para falar
LITERATURA
Controladoria Geral do Governo dos EUA
Por publicar um relatório acerca
de relatórios sobre relatórios que recomenda a preparação de um relatório sobre
o relatório acerca de relatórios sobre relatórios
QUÍMICA
Johan Pettersson (Suécia)
Por descobrir a razão pela qual
alguns habitantes da cidade sueca de Anderslöv estavam ficando com o cabelo
verde: o cobre dos canos
ANATOMIA
Frans de Waal e Jennifer Pokorny (EUA)
Por descobrir que chimpanzés são
capazes reconhecer uns aos outros por meio de fotografias dos seus traseiros
NEUROCIÊNCIA
Craig Bennett e colegas (EUA)
Por mostrar que algumas técnicas
de neuroimagem podem detectar atividade relevante no cérebro de um salmão morto
PSICOLOGIA
Anita Eerland e colegas (Holanda)
Pelo estudo "Inclinar-se
para a esquerda faz a Torre Eiffel parecer menor"
MEDICINA
Emmanuel Ben-Soussan e Michel Antonietti (França)
Por aconselhar médicos que
realizam colonoscopias sobre como minimizar o risco de seus pacientes
explodirem
PAZ
SKN Company (Rússia)
Por converter munição antiga em
diamantes novos
DINÂMICA DE FLUIDOS
Rouslan Krechetnikov e Hans Mayer (EUA)
Por compreender padrões do
movimento de líquidos dentro de uma xícara de café nas mãos de uma pessoa em
movimento
(Folha de São Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário