Versão criada
por pesquisadores da Unifesp é cerca de quatro vezes mais barata que a
importada e pode ampliar o acesso à eletrorretinografia (divulgação).
Pesquisadores
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram a versão nacional
de um eletrodo usado na eletrorretinografia (ERG), exame que permite avaliar
respostas elétricas da retina a estímulos luminosos e ajuda no diagnóstico de
doenças oculares.
Os
resultados do trabalho foram apresentados durante a 27ª Reunião Anual da
Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em Águas de
Lindoia entre os dias 22 e 25 de agosto.
“O
Brasil atualmente importa esses eletrodos, que são descartáveis e custam entre
US$ 30 e US$ 40 cada. Desenvolvemos um produto similar, mas com preço quatro
vezes menor”, contou Adriana Berezovsky, coordenadora da pesquisa financiada
pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
O
eletrodo tem cerca de 3 centímetros e, como a versão importada, é feito de
fibra de tecido com um filamento de prata. Durante a realização do exame, é
introduzido no saco conjuntival da pálpebra inferior e permite captar os sinais
elétricos emitidos pelas células da retina em resposta aos estímulos luminosos
disparados pelo aparelho de ERG.
“Não
há necessidade de anestesia. O paciente sente apenas um leve incômodo durante a
colocação”, afirmou Berezovsky.
A
retina humana possui dois tipos de fotorreceptores, que são células
responsáveis por captar a luz e retransmitir o impulso elétrico para outras
células e para o nervo óptico.
“Os
bastonetes são responsáveis pela visão noturna e os cones, pela diurna. Mas
algumas doenças causam a morte dessas células. Isso pode levar, por exemplo, à
cegueira noturna ou à perda de visão periférica”, explicou a pesquisadora.
O
ERG permite avaliar o funcionamento dos cones e dos bastonetes e, segundo
Berezovsky, pode ajudar o oftalmologista a identificar problemas que, muitas
vezes, precedem alterações perceptíveis no exame de fundo de olho, no qual o
médico visualiza as estruturas que formam a retina.
Validação
Os
pesquisadores testaram o eletrodo nacional em um grupo de 50 voluntários
saudáveis e compararam os resultados com o de exames feitos com o equivalente
importado. O desempenho de ambos foi similar. Os dados foram publicados nos Arquivos
Brasileiros de Oftalmologia, em 2008.
No
ano seguinte, com auxílio da FAPESP por meio do Programa de Apoio à Propriedade
Intelectual (PAPI/Nuplitec), a equipe entrou com pedido para patentear o
eletrodo, que ainda está pendente.
Desde
então, os pesquisadores têm comparado o desempenho da versão nacional e da
importada em voluntários com doenças na retina. “Já testamos em cerca de 50
pacientes e tivemos bons resultados, mas ainda precisamos ampliar a amostra”,
disse Berezovsky.
Os
estudos têm sido feitos com doenças hereditárias como retinose pigmentária,
distrofia de cones e doença de Stargardt. Os resultados preliminares foram
apresentados no congresso da Association for Research in Vision and
Ophthalmology (ARVO), o mais importante da área.
O
eletrodo também tem sido testado para uso veterinário. O funcionamento da
versão nacional foi comparado com o da versão importada em dez cães saudáveis
da raça yorkshire terrier, com resultados parecidos.
“Os
dados já foram submetidos para publicação em revista internacional. Agora
pretendemos testar o eletrodo em cães com doenças na retina”, disse Berezovsky.
A
equipe pretende também aperfeiçoar o modelo desenvolvido no Brasil. “Estamos
estudando o tamanho e o material, para melhor adequar o eletrodo às
necessidades do país”, disse.
Por Karina Toledo, 27/08/2012
(Agência FAPESP).
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