Besouros guiados pela Via Láctea, um
sistema de segurança antissequestro de aviões, humanos com a habilidade de
andar sobre as águas e a disposição das vacas foram alguns dos temas de estudos
que ganharam o IgNobel, a sátira do Nobel.
Por: Sofia Moutinho, Ciência Hoje On-line
Apesar de viver rolando bolas de fezes, o besouro rola-bosta toma seu
tempo para olhar para o céu. Ele usa a Via Láctea como guia espacial. (foto:
Marcus Byrne)
Besouros que se orientam
pelas estrelas, vacas preguiçosas e a incrível confirmação de que pessoas podem
andar sobre as águas foram alguns dos destaques da edição deste ano do IgNobel,
a paródia do Nobel que premia as pesquisas que te fazem primeiro rir, para
depois pensar.
Organizada pela equipe da
revista de humor científico Annals of Improbable Research, a
premiação é realizada todo ano no teatro da Universidade Harvard,
nos Estados Unidos, com a ilustre presença dos ‘nobéis’, que entregam os
prêmios em mãos aos ‘ignóbeis’. Nesta edição, foram 10 trilhões de dólares para
cada laureado. Dez trilhões de dólares do Zimbábue, mais precisamente – ou 4
dólares americanos.
A quantia não chega perto
da necessária para construir o dispositivo que rendeu ao seu inventor, o
norte-americano Gustano Pizzo, o IgNobel (post mortem) de Engenharia de
Segurança. Vinte e nove anos antes do ataque de 11 de setembro, o engenheiro
imaginou e conseguiu a patente de um peculiar sistema de segurança
antissequestro de aviões.
O sistema consiste em uma
inteligente armadilha que encurralaria o sequestrador entre portas quando ele
tentasse se aproximar da cabine do piloto. Preso entre a área dos passageiros e
a cabine, o criminoso seria automaticamente selado dentro de um pacote acoplado
a um paraquedas e ejetado para fora da aeronave. O inventor só não pensou no
que fazer com o sequestrador depois disso!
Talvez ele devesse ser
extraditado para o Sião, terra natal do grupo de cientistas que levou o IgNobel
de Saúde Pública por descrever técnicas de cirurgia para tratar a “epidemia de
amputações penianas” do país. Um trabalho muito nobre, mas
que não vale para as “amputações provocadas por mordidas de pato”.
Qual a probabilidade de
um acidente desses? Não sabemos. Talvez a resposta seja uma tarefa para os
laureados com o prêmio de Probabilidade. Os pesquisadores, da Escola Rural da
Escócia, deviam estar vivendo um período de vacas magras para financiamento de
estudos quando resolveram verificar, em campo, se o tempo que uma vaca passa de
pé influencia a probabilidade de que ela se deite.
Aparentemente, as vacas não seguem padrões previsíveis quando se trata
de deitar e levantar. (foto: Leo Vietor/ Flickr CC-BY-2.0)
Para ter a reposta, eles
acompanharam a movimentação de vacas de duas fazendas com podômetros. A
pertinente hipótese da equipe era a de que quanto mais tempo uma vaca passasse
de pé, mais provável seria que ela se deitasse. Porém, contrariando expectativas,
esse não foi o resultado do trabalho.
Eles observaram que mesmo
as vacas que ficavam seis horas de pé tinham a mesma chance de se deitar que
aquelas que estavam sobre as quatro patas por apenas 15 minutos. “Sempre
esperamos que essas vacas fossem mais motivadas a se deitar, mas elas só
ficavam zanzando de um lado para outro e nunca faziam o que esperávamos que
fizessem”, desabafou um dos autores do estudo, Bert Tolkamp, durante seu breve
discurso na premiação.
Deitar, caminhar e
correr
Também da área da
zoologia foi o premio IgNobel da inédita categoria Biologia e Astronomia,
concedido a pesquisadores suecos responsáveis pela singela e poética descoberta de que os
besouros rola-bosta (Scarabaeus satyrus) se orientam
espacialmente pelo brilho da Via Láctea.
Para comprovar a teoria,
eles colocaram alguns besouros em arenas sob diferentes condições. Alguns
tinham como plano de fundo um céu com a Via Láctea e outros apenas algumas
estrelas. Os insetos também chegaram a ter os olhos vendados com cartolina.
Confira um teste de corrida sobre a água em baixa gravidade:
No final das contas, os
pesquisadores perceberam que, com a visão coberta ou com um céu sem o brilho da
nossa galáxia, os besouros não conseguiam fazer o percurso de um lado ao outro
da arena em linha reta. Também, olhar para um céu estrelado é o mínimo que
merece quem vive a vida rolando bosta.
A sina do besouro de
caminhar sobre a terra lembra outro IgNobel deste ano, o de Física. O estudo,
de italianos, deixou comprovado que algumas pessoas têm a capacidade bíblica de
correr sobre as águas de um lago. Com uma pequena condição, é claro: que tanto
a pessoa quanto o lago estejam na Lua. “Quem nunca sonhou em andar sobre a
água?”, indagou o líder da pesquisa, Alberto Minetti. “Alguns pássaros e
lagartos podem e mostramos que humanos também. Basta uma pequena viagem.”
Confira os premiados nas demais categorias
Química: Concedido aos pesquisadores japoneses
que identificaram a enzima da cebola responsável por nos fazer chorar.
Medicina: Para os cientistas também japoneses
que estudaram o efeito da ópera sobre camundongos que passaram por transplante
de coração e comprovaram que ouvir música erudita melhora sua recuperação.
Arqueologia: Para Peter Stahl, da Universidade
Estadual de Nova York, por engolir sem mastigar um musaranho (pequeno roedor)
morto e parboilizado (parcialmente cozido) para saber quais ossos seriam
digeridos pelo sistema digestório humano.
Psicologia: Para pesquisadores que mostraram por
meio de experiências que as pessoas que pensam que estão bêbadas também pensam
que estão mais atraentes.
Paz: Para o presidente da Bielorússia Alexander
Lukashenko, por proibir os aplausos em espaços públicos, e para a polícia do
país, por prender um homem (com apenas um braço) por desrespeitar essa regra.
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