Biossensor criado pela
Universidade Federal de Mato Grosso usa nanotecnologia para encontrar
contaminação. Aparelho foi desenvolvido para achar agrotóxico que, apesar de
banido, continua a ser usado
Pensando na proteção dos
trabalhadores e nos consumidores de alimentos, um esforço conjunto da USP e da
UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) criou um teste rápido e portátil
para detectar a presença de um pesticida cujo uso foi banido no Brasil, mas que
ainda é encontrado em lavouras, sobretudo no Centro-Oeste.
Hoje, a identificação do
metamidofós depende de exames laboratoriais. Estados que não dispõem dessas
estruturas precisam enviar suas amostras a outros lugares --principalmente São
Paulo e Rio de Janeiro-- para detectar a substância, processo que leva até dez
dias.
Com o novo método, o
agrotóxico é identificado em mais ou menos 30 minutos.
"A detecção clássica
de pesticida requer treinamento de pessoal e uso de equipamentos complexos,
além da resposta demorada. Com a utilização do biossensor, daria para treinar o
próprio produtor e os trabalhadores. É fácil de usar e ainda dá para levar no
bolso", afirma Izabela Gutierrez de Arruda, autora do trabalho.
Natural de Cáceres, em
Mato Grosso, a pesquisadora diz que a realidade da agricultura em seu Estado,
no qual trabalhadores rurais sofrem com a intoxicação pelo metamidofós,
inspirou sua pesquisa.
As propriedades desse
pesticida fazem com que ele seja prejudicial para as funções neurológicas. Além
disso, também causa danos aos sistemas imune, reprodutor e endócrino.
O TRABALHO
O conjunto funciona nos
moldes de um leitor de glicose usado por diabéticos.
Uma fita, que serve como
reagente, é inserida no material a ser testado e, depois, colocada em um
aparelho.
O biossensor é uma
película finíssima contendo a enzima acetilcolinesterase que, quando entra em
contato com as moléculas do metamidofós, tem sua ação inibida. Isso diminui a
produção de prótons, mudança que é "lida" pelo aparelho, levando à
indicação dos índices de contaminação na amostra.
O dispositivo detecta o
agrotóxico na água e também nos alimentos --que precisam ser liquidificados
antes de passar pelo exame.
OUTROS USOS
"Com esse mesmo
princípio, seria possível identificar também outros agrotóxicos das classes dos
organofosforados ou carbamatos [que incluem outros produtos em uso no
Brasil]", completa a pesquisadora.
Responsável por
"abraçar" o projeto no IFSC (Instituto de Física de São Carlos) da
USP, o professor Francisco Eduardo Gontijo Guimarães destaca o uso de
tecnologia avançada, mas que cabe na palma da mão.
"O uso de
nanomateriais potencializou os efeitos da enzima e acelerou o processo",
explica o pesquisador.
Orientador do trabalho,
Romildo Jerônimo Ramos, da Universidade Federal de Mato Grosso, diz que a
pesquisa tem também um aspecto social muito importante, facilitando a
identificação da contaminação dos lençóis freáticos e evitando que
trabalhadores e moradores de regiões rurais sejam atingidos por seus graves
efeitos.
O biossensor já foi
registrado. A descoberta foi a primeira patente da Universidade Federal de Mato
Grosso.
O grupo do estudo, que
contou ainda com a participação do pesquisador NirtonCristi Silva Vieira,
aguarda agora investimentos para dar prosseguimento ao projeto, sobretudo vindo
de empresas e indústrias. Os custos do aparelho devem ficar entre R$ 100 e R$
200, mas podem ser reduzidos a depender da escala de produção.
(Giuliana Miranda/Folha de S.Paulo)
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