O
Nobel de 2021 em fisiologia ou medicina foi compartilhado por dois
pesquisadores dos Estados Unidos, cujo trabalho ajuda a explicar a nossa capacidade
de sentir o tato e perceber a temperatura. Os cientistas David Julius, da
Universidade da California, em São Francisco (USA) e Ardem Patapoutian do Instituto
de Pesquisas Scripps, em La Jolla, Califórnia (USA), foram reconhecidos pelo Comitê
do Nobel por suas descobertas dos receptores de temperatura e do toque.
David
Julius realizou experimentos usando a capsaicina (substância responsável pela
picância (calor) presente nas pimentas do gênero Capsicum) para
identificar o canal iônico sensível à temperatura conhecido como TRPV1. Essa
descoberta foi publicada na revista Nature em outubro de 1997 e levou à
descoberta de outros receptores que também estariam envolvidos na detecção da
temperatura. Isso inclui o canal iônico TRPM8, independentemente mostrado por David
Julius e Ardem Patapoutian em experimentos, os quais utilizavam o mentol para
responder ao frio.
O canal
iônico TRPV1 como sensor de temperatura foi descoberto pela primeira vez após
experimentos utilizando a capsaicina.
Fonte: ©The Nobel Committee for Physiology or Medicine/Mattias
Karlén
Em 2010, Ardem Patapoutian também identificou um tipo
de célula que responde à força mecânica, uma vez que emitia um sinal elétrico
quando cutucado com uma micropipeta. Após uma busca trabalhosa, o grupo de
pesquisa de Patapoutian descobriu os dois canais iônicos mecanossensíveis,
Piezo1 e Piezo2, responsáveis por aquele fenômeno. O Piezo2 em particular está
presente em níveis elevados nos neurônios sensoriais. Além de seu papel
essencial em nosso tato, o qual é sensível o suficiente para conseguir diferenciar
entre superfícies que são praticamente idênticas, porém diferentes apenas pela presença
de um único átomo, o Piezo 2 também ajuda a regular outros processos
fisiológicos, como a respiração e controle da bexiga.
O comitê do prêmio Nobel considerou que
o conhecimento científico presente no cerne do prêmio deste ano está sendo
usado atualmente para desenvolver tratamentos para uma ampla gama de doenças,
incluindo a dor crônica.
Observação:
Em 2020, quando escrevi o capítulo: Sabores e aromas picantes das pimentas capsicum: explorando aspectos químicos e sensoriais para um livro da área de Gastronomia, discorri sobre a deliciosa picância das pimentas do gênero Capsicum, e ao pesquisar quais eram os possíveis sensores responsáveis em detectar o "calor" proveniente dessas pimentas me deparei logo com um artigo do Dr. David Julius publicado numa revista alemã.