Cada vez mais numerosos,
respeitados e bem pagos, eles conquistam espaço relevante na divulgação
científica.
Blogueiros
presentes na 8ª Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência falam sobre o bom
momento vivido pela blogosfera científica e estimulam cientistas e jornalistas
a se aventurarem nessa arena.
(imagem:
Svilen Milev/ Sxc.hu)
Eles são independentes,
remunerados, escrevem sobre o que querem e têm a qualidade do seu trabalho cada
vez mais reconhecida. Se você ficou com inveja – eu fiquei! –, este é um bom
momento para iniciar seu blogue de ciência.
Com espaço de destaque na
programação da 8ª Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, realizada na semana passada em Helsinque, na
Finlândia, os blogueiros de ciência mostraram que vieram para ficar. Em menos
de 10 anos, conseguiram, com um trabalho original, consistente e capaz de se
espalhar rapidamente pela rede, consolidar um canal cada vez mais relevante na
comunicação da ciência.
O prolífico e premiado escritor de ciência britânico Ed Yong se destaca nesse meio. Autor de matérias publicadas na Nature, BBC,
New Scientist, Wired, no Guardian, Times, entre
outros, Yong – também ativo no Twitter e no Facebook – habita a blogosfera científica desde 2006,
quando ela ainda era um território amorfo e pouco respeitado.
Seu disputado blogue ‘Not Exactly Rocket Science’,
iniciado em carreira solo no
Wordpress e com passagens pelo ScienceBlogs e pela revista Discover, encontra-se atualmente na National Geographic,
onde divide espaço com três congêneres – entre eles o ‘The Loom’, de Carl Zimmer, outro fenômeno da blogosfera científica. Os
quatro blogues compõem a seção virtual da publicação chamada ‘Phenomena’, descrita como um science salon
(algo como ‘salão de ciência’).
O ‘Not Exactly Rocket
Science’ – pelo qual Yong, segundo ele mesmo, ganha bem – é seu espaço de
experimento e de lazer, e também o lugar de divulgar, “com total independência”,
o trabalho que publica em outros meios.
Formado
em ciências naturais e mestre em bioquímica, Yong deixou a bancada para se
dedicar ao que gosta mais de fazer: ‘falar sobre o imponente, bonito e peculiar
mundo da ciência, para o maior número possível de pessoas, independentemente de
sua formação’. (montagem a partir de @WCSJ2013)
Mudança de paradigma
Na conferência, Yong
falou sobre as significativas transformações pelas quais vêm passando os
blogues de ciência desde que estreou nessa arena. À guisa de ilustração, contou
um caso antigo: certa vez, ao ler um comunicado de imprensa (press release)
sobre estudo publicado em determinado periódico, entrou em contato com a
assessoria da publicação e pediu a íntegra do artigo, para ouvir da assessora que
o material que tinha era mais que o suficiente para um blogue.
Não que o preconceito em
relação aos blogues tenha desaparecido por completo, mas, para quem acompanha a
blogosfera de ciência, em especial a em inglês, é inegável que seu prestígio
venha aumentando. Não é raro ver cientistas renomados – inclusive laureados com o Nobel – enveredando por essa seara. Também se torna cada
vez mais comum o uso desse espaço para discussões de alto nível científico, que já chegaram a
resultar em revisões e erratas de artigos em periódicos de grande impacto.
Na avaliação de Yong,
muito do fortalecimento dos blogues de ciência se deve ao jornalismo científico
de baixa qualidade.
Na avaliação de Yong,
muito do fortalecimento dos blogues de ciência se deve ao jornalismo científico
de baixa qualidade. Segundo ele, vários surgiram para corrigir erros científicos
divulgados na mídia. Nesse sentido, ressaltou a importância da precisão e do
rigor científico nesse meio, cláusulas pétreas do ‘Not Exactly Rocket Science’.
Yong chegou a dizer que o
processo de preparação de um post em seu blogue é “exatamente” o mesmo que o de
apuração para a escrita de uma matéria jornalística, sendo a única diferença a
presença de um olhar mais pessoal no primeiro.
Sua colocação traz à tona
a velha discussão sobre a diferença entre fazer jornalismo e blogar. Apesar de
valorizar ambas as iniciativas e considerá-las igualmente relevantes para a
comunicação da ciência, há quem ainda veja uma distinção significativa – e
saudável – entre uma coisa e outra. Yong, que deu a entender que já está
cansado de discutir a questão, não se aprofundou muito nela.
Trabalho coletivo
Para Betsy Mason, editora
de ciência da revista Wired, algumas características intrínsecas aos
blogues os distinguem do jornalismo científico tradicional, como as diversas
possibilidades de ângulos a serem exploradas, o tom pessoal e a independência
editorial. Por outro lado, ela destaca aspectos importantes e comuns a ambos,
como a ética e a transparência.
Na avaliação de Mason, a
última campanha da Wired para angariar novos blogues é um exemplo de
como a blogosfera de ciência vem crescendo e se diversificando. A revista
recebeu 113 propostas, sendo 50% de cientistas e 25% de jornalistas; 50% eram
homens e 47%, mulheres; 42% ainda não tinham blogues; e 31% eram de fora dos
Estados Unidos, país natal da revista.
Atualmente, a Wired
conta com 10 blogues de ciência, sobre temas diversos, um deles coescrito pela própria Betsy
Mason, que compartilha com os leitores
sua obsessão por mapas. Todos são remunerados.
No Guardian, são 13 blogues de ciência, cobrindo temas igualmente variados. Também há
remuneração pelo trabalho – os autores ganham um percentual do que suas páginas
arrecadam com anúncios. “Não é muito, mas é um bom complemento”, diz Alok Jha,
repórter de ciência do jornal, sem falar em cifras.
A
ascensão dos blogues de ciência foi tema de plenária na Conferência Mundial de
Jornalistas de Ciência. Na foto, Bora Zivkovic fala sobre sua experiência à
frente de 63 blogues de ciência mantidos pela revista ‘Scientific American’. A
seu lado (da esq. para a dir.), Alok Jha, do ‘Guardian’, o blogueiro
independente Ed Yong e Betsy Mason, da ‘Wired’. (foto: @WCSJ2013)
Segundo Jha, que também faz a sua parte dentro do
segmento, a inclusão de blogues no site
do jornal britânico é uma forma de neutralizar o ponto de vista do veículo, de
incluir outras visões que representem de alguma forma os leitores, tanto do
Reino Unido quanto de outros cantos do mundo.
Se alguém ainda tem
dúvida de que a blogosfera científica esteja crescendo, tome essa: a Scientific American contabiliza
63 blogues de ciência em sua
página na internet! Difícil imaginar como Bora Zivkovic – que, além de editor
da trupe de blogueiros, também tem um blogue
para chamar de seu – lida
com isso.
Zivkovic ressalta que, ao
escrever para uma revista de nome forte como a Scientific American, os
pesquisadores só têm a ganhar: com acesso a todo o conteúdo da publicação,
total independência e a grande visibilidade proporcionada, o que mais
gostariam?
Então, quando vai lançar
seu blogue de ciência?
Carla
Almeida*
Ciência
Hoje On-line
*A
jornalista viajou para Helsinque a convite da Federação Mundial de Jornalistas
de Ciência (WFSJ, na sigla em inglês)
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