sábado, 9 de novembro de 2013

Quem é o melhor cientista de todos os campos de estudo?


Ranking online compara e cruza valores do “índice h” para todas as ciências.

Por Richard Van Noorden

ROGER VIOLLET COLLECTION/GETTY
Karl Marx é o estudioso mais influente de todos os tempos, de acordo com o sistema de ranqueamento corrigido para disciplinas diferentes.


          Será que o físico teórico Edward Witten é mais influente em seu campo de atuação do que o biólogo Solomon Snyder é entre os cientistas que estudam a vida? E como os seus índices de impacto acadêmico podem ser comparados com os de grandes cientistas do passado, como Karl Marx entre os historiadores e economistas ou Sigmund Freud entre os psicólogos?
          O desempenho métrico desses índices baseado base em valores, tais como: taxa de citações é fortemente influenciada pelo campo de atuação de cada cientista, por isso a maioria dos cienciometristas evita comparações interdisciplinares. Um bioquímico mediano, por exemplo, sempre terá um índice de impacto maior do que um matemático mediano, pois a bioquímica sempre atrairá mais citações.
          Mas os pesquisadores da Universidade Bloomington do estado de Indiana-USA consideram que é possível trabalhar uma melhor maneira de corrigir esse viés disciplinar. E publicaram seus resultados on-line, pela primeira vez, fazendo com que os acadêmicos possam comparar o ranking dos estudiosos de todas as disciplinas.
          O ranking provisório (e constantemente atualizado) de cerca de 35 mil pesquisadores se baseia em pesquisas feitas por meio do Google Acadêmico para normalizar a produtividade e o impacto das pesquisas de um cientista, conhecido como índice h (um cientista com um índice h de 20 publicou no mínimo 20 artigos com pelo menos 20 citações cada, portanto esse índice leva em conta a quantidade e o impacto da pesquisa). Observou-se que no dia 05 de novembro de 2013, o estudioso mais influente foi Karl Marx em história, à frente de Sigmund Freud em psicologia. O terceiro foi Edward Witten, um físico do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, New Jersey. A classificação aparece no sítio Scholarometer, desenvolvido por Filippo Menczer, cientista da computação da Universidade Bloomington, e seus colegas Jasleen Kaur e Filippo Radicchi. (A lista atualizada dos 10+ é mostrada no quadro abaixo, construído pela estudante Mohsen Jafari Asbagh).
Estudioso
Disciplina
Índice hs
Índice h
Karl Marx
História
21,50
328
Sigmund Freud
Psicologia
14,78
282
Edward Witten
Física
12,92
243
Jaques Derrida
Humanidades, multidisciplinar
12,45
238
Jean Piaget
Educação e pesquisa educacional
11,63
225
W.C. Willet
Nutrição e dietética
11,45
220
G.M. Whitesides
Ciência de materiais
11,22
211
M.J. Stampfer
Medicina geral e cirúrgica
11,19
203
R.A. Posner
Leis
10,80
193
J.E. Sanders
História
10,52
187

          "Achamos que existe uma grande procura por isto. Nossos colegas usam o Google Acadêmico o tempo todo e ainda assim só apresentam o índice ‘h’, disse Menczer." Constantemente nos perguntamos "como vamos avaliar pessoas numa disciplina que não compreendemos?"
          Em outubro de 2013, o grupo de Menczer publicou um artigo[1] argumentando que a melhor maneira estatística para remover um viés disciplinar é dividir o índice h de um pesquisador pela média de seu campo de estudo.
          Usando esta correção, o índice de Karl Marx é 22 vezes maior do que a média do índice h de outros estudiosos da área de história (ou 11 vezes maior do que um economista mediano). O índice h de Ed Witten é 13 vezes maior do que a média dos físicos e assim por diante. Esse efeito garante que aqueles que, por exemplo, estão entre os 5% mais importante de sua disciplina também aparecem entre os 5% mais importantes entre todos os estudiosos.
          A ideia não é nova. Os cienciometristas têm inventado vários métodos para resolver essa distorção, muitas vezes utilizando as médias baseadas na idade, revista e campo acadêmico. Medidas normalizadas podem ser adquiridas de empresas comerciais de informação como a Thomson Reuters.

Existe uma primeira vez para tudo
          Porém, o Scholarometer empurra as fronteiras de duas formas. O mais importante é que a sua normalização de pontos é de livre acesso, ao contrário da maioria dos sítios. A análise da Thomson Reuters fundamenta-se em bases de dados privadas e não podem ser tornar públicas. Outro sítio, publicar ou perecer, não dar um retorno quanto à variedade de idades e de campos normalizados de consultas públicas para o Google Acadêmico – mas apenas um de cada vez. O problema é que o Google Acadêmico bloqueia automaticamente o programa de computador quando há choques de várias consultas, impossibilitando de realizar dezenas de consultas.
          A solução do grupo da Universidade de Indiana foi a criação de um programa automatizado que não consulta individualmente o Google Acadêmico, mas sim raspa os resultados de consultas individuais do Google Acadêmico colocadas através de uma extensão do navegador Scholarometer. Ao longo dos anos, o grupo construiu uma base de dados pública dinâmica, com índices h constantemente revisados à medida que novas pesquisas são adicionadas ao Google Acadêmico. Menczer disse que um índice h com correção de idade permite a comparação entre estudiosos em diferentes fases de suas carreiras.
          O problema da normalização é muito mais complicado do que parece – como decidir o que constitui um campo? Um pesquisador de células tronco pode pensar que é injusto que o seu índice seja corrigido pela média do índice de todos os biólogos, por exemplo. A equipe do Scholarometer acredita que um cruzamento de fontes, colocando nos pesquisadores, de vários campos de estudo, um rótulo sugerido pelas consultas ao Google Acadêmico. Karl Marx, por exemplo, é rotulado como um historiador, economista e filósofo, com o maior índice em história.

Nature doi:10.1038/nature.2013.14108
Referencia:
Kaur, J., Radicchi, F.; Menczer, F. J. Inform. v. 7, p. 924–932, 2013.